Capítulo 13 > ( O Confronto)

Elena se remexeu e abriu as pesadas pálpebras. Via luz ao redor das bordas das cortinas. Era difícil se mexer, assim permaneceu ali deitada sobre a cama e tentou recompor o que havia acontecido na noite anterior.
Damon. Damon havia aparecido ali e tinha ameaçado Margareth. E portanto Elena foi a ele. Ele havia ganhado.
Mas, por que não havia terminado? Elena lançou uma mão lânguida para tocar o lado do seu pescoço, já sabendo o que iria encontrar. Sim, estava ali: duas pequenas punções ternas e sensíveis a pressão.
Apesar de tudo, ela continuava viva. Havia parado antes de levar a cabo sua promessa. Por que?
Suas recordações das ultimas horas eram confusas e apagadas. Unicamente alguns fragmentos pareciam claros. Os olhos de Damon sob ela, enchendo todo seu mundo. A aguda pontada em sua garganta. E então Damon abrindo sua camisa, o sangue de Damon brotando de um pequeno corte em seu pescoço.
Então lhe havia feito beber seu sangue. Se havia feito era mais correto porque ela não lembrava de ter resistido ou sentido alguma repugnância. Portanto, o havia desejado.
Mas não estava morta, nem se quer seriamente debilitada. Não a havia transformado em vampira. E isso era o que ela não compreendia.
Ele carecia de moral e consciência, recordou. De modo que certamente não havia sido misericórdia que o havia parado. “Provavelmente só quer aumentar o jogo, ti fazer sofrer mais antes de ti matar. Ou ainda pior, quer que seja como Vickie, com um pé no mundo das sombras e outro no da luz. De forma a enlouquece-la pouco a pouco.”
Uma coisa era certa: ela não se deixaria enganar pensando que era bondade sua. Damon não era capaz de demonstrar bondade. E nem de se preocupar com ninguém que não fosse ele mesmo.
Tirando os lençóis, se levantou da cama. Olhou tia Judith passando pelo corredor. Era segunda de manhã e tinha que se preparar para ir a escola.


Quarta, 27 de novembro
Querido diário
De nada serve fingir que não estou assustada, porque estou. Amanhã é o dia de Ação de Graças e dois dias depois o Dia do Fundador. E ainda não encontrei um modo de deter Caroline e Tyler.
Não sei o que fazer. Se não posso recuperar meu diário das mãos de Caroline, ela vai lê-lo na frente de todo mundo. Terá a oportunidade perfeita, é uma dos três alunos elegidos para ler poesia durante a cerimônia de clausura. Elegida pelo conselho escolar, do qual o pai de Tyler é um dos membros, podia adiciona-la. Me pergunto o que ele pensará quando isso terminar.
Mas, o que importa? A menos que me ocorra um plano, quando tudo isso terminar, para mim tudo já não terá importância. E Stefan terá ido, expulso da cidade pelos bons cidadãos de Fell’s Church. Ou estará morto, se não recuperar alguns dos seus Poderes. E se ele morresse, eu também morreria. É simples assim.
O que significa que terei que armar um modo de conseguir o diário. Tenho que consegui-lo.
Mas não posso.
Eu sei que ele está esperando para que eu lhe diga. Há um modo de conseguir meu diário e o modo é Damon. Tudo que preciso é aceitar seu preço.
Mas você não pode entender o quanto isso me assusta. Não só porque Damon me assusta mas sim porque tenho medo do que acontecerá se eu e ele estivermos juntos outra vez. Tenho medo do que aconteça a mim... a mim e a Stefan.
Não posso continuar falando disso. É muito perturbador. Me sinto tão confusa e perdida e só... Não há a quem eu possa recorrer ou alguém para falar. Ninguém que possa realmente compreender.
O que vou fazer?


Quinta, 28 de novembro, 11:30 da noite
Querido diário
As coisas parecem mais claras hoje, talvez porque eu tenha chegado a uma decisão. É uma decisão que me horroriza, mas é melhor do que a única alternativa que me ocorre.
Vou contar tudo a Stefan.
É a única coisa que posso fazer agora. O Dia do Fundador é no sábado e não me ocorre nenhum outro plano. Mas talvez Stefan possa faze-lo, se compreender o quão desesperada é esta situação. Vou passar o dia na pousada amanhã e quando eu chegar vou contar tudo que deveria ter-lhe contado desde o inicio.
Tudo. Sobre Damon também.
Não sei o que dirá. Continuo recordando seu rosto em meus sonhos. O modo como me olhava, com tal amargura e repulsa. Não como se me amasse. Se me olhar assim amanhã...
Ah, estou assustada. Meu estômago está revirando. Apenas pude provar a cena de Ação de Graças... e não posso ficar quieta. Sinto como se fosse me despedaçar em milhares de pedaços. Dormir esta noite? HA.
Por favor, faça que Stefan compreenda. Por favor, faça com que ele me perdoe.
O mais engraçado é que eu queria me transformar em uma pessoa melhor por ele. Queria ser digna de seu amor. E agora, quando ele descobrir como eu estava mentindo, o que pensará de mim? Acreditará quando eu disser que só tentava protege-lo? Voltará a confiar em mim alguma vez?
Amanhã saberei. Deus, tomara que tudo termine logo. Não sei como viverei até então.
Elena escapou de casa sem dizer para tia Judith aonde ia. Estava cansada de mentiras, mas não queria enfrentar a bagunça que inevitavelmente que provocaria se dissesse que ia a casa de Stefan. Desde que Damon tinha ido jantar, tia Judith tinha estado falando nele, lançando sutis indiretas em todas as conversas. E Robert era quase igual a ela. Elena as vezes pensava que ele incitava sua tia.
Pressionou com força a campainha da pousada. Onde estava a Sra. Flowers esses dias? Quando a porta finalmente se abriu, Stefan estava do outro lado.
Estava vestido para sair, com a gola da jaqueta levantado.
-Pensei que podíamos dar um passeio – disse ele.
-Não.
Elena se mostrou firme. Não foi capaz de lhe mostrar um sorriso real, de modo que deixou de tentar. Lhe disse:
-Vamos para cima, Stefan, por favor? Há algo que temos que conversar.
A olhou com surpresa e algo devia está aparecendo em seu rosto, pois sua expressão se aquietou e ficou sombria gradualmente. Aspirou profundamente e assentiu. Sem uma palavra, virou e foi para seu quarto.
Os baús e as cômodas e estantes fazia tempo que havia sido colocadas em seus respectivos lugares. Mas Elena sentiu como se se desse conta disso pela primeira vez. Por algum motivo, pensou na primeira noite que havia estado ali, quando Stefan a salvou do repugnante abraço de Tyler. Seus olhos recorreram os objetos da penteadeira: os florines de ouro do século XV, a adaga de cabo de marfim, o pequeno cofre de ferro com a tampa de dobradiça. Ela havia tentado abri-lo na primeira noite e ele o havia fechado em um golpe.
Deu a volta, Stefan estava de pé junto a janela, recortado contra o retângulo de céu cinza e deprimente. Cada dia daquela semana havia sido nublado e com neblina e este não era uma exceção. A expressão de Stefan reproduzia o tempo que fazia do lado de fora.
-Bem – disse ele com a voz pausada -, do que temos que falar.
Houve um ultimo momento para escolher e então Elena tomou uma decisão. Esticou uma mão até o pequeno cofre de ferro e o abriu.
No interior, um objeto de seda cor de abricó com uma luz apagada. Sua fita de cabelo. Lhe trouxe a memória o verão, os dias de verão que pareciam impossivelmente longes naquele momento. A levantou e a ofereceu a Stefan.
-Sobre isto – disse.
Ele havia dado um passo a frente quando ela tocou o cofre, mas agora pareceu perplexo e surpreso.
-Sobre isso?
-Sim, porque eu sabia que estava aí, Stefan. Descobri há muito tempo, um dia em que você deixou o quarto por poucos minutos. Não sei por que tinha que saber o que tinha dentro, mas não pude evitar. Assim que encontrei a fita. E então... – se deteve e tomou fôlego – Então escrevi sobre isso no meu diário.
Stefan parecia cada vez mais perplexo, como se aquilo não fosse o que estava esperando. Elena procurou desesperadamente as palavras corretas.
-Escrevi porque pensei que era uma prova de que eu era importante para você desde sempre, o suficiente para pega-la e guarda-la. Jamais pensei que podia ser prova de nada mais.
Então de improviso começou a falar com toda a pressa. Contou como havia levado seu diário para a casa de Bonnie, como o haviam roubado.Falou sobre as notas que recebia, sobre como havia compreendido que Caroline que as enviava. E logo, se afastando, passando a fita entre os dedos nervosos uma e outra vez, falou do plano de Caroline e Tyler.
Sua voz quase sumiu no final.
-Tenho estado tão assustada desde então... – murmurou, com os olhos na fita – Assustada de que se enoje de mim. Assustada pelo que vão fazer. Simplesmente assustada. Tentei recuperar o diário, Stefan, inclusive fui a casa de Caroline. Mas ela o tem muito bem escondido. E pensei e pensei, e não me ocorre nenhum modo de impedir que ela o leia. – Por fim, levantou os olhos para olha-lo. – Sinto muito.
-Tem motivos para sentir! – disse ele sobresaltando-a com sua veemência.
Elena sentiu que seu rosto se empalideceu. Mas Stefan continuava falando.
-Devia sentir por ter me escondido algo assim quando eu podia ter ajudado, Elena. Por que simplesmente não me contou?
-Porque é tudo culpa minha. E tive um sonho... – tentou descrever o aspecto dele nos sonhos, a amargura, a acusação em seus olhos – Eu acho que morreria se realmente me olhasse daquele jeito – concluiu com abatimento.
Mas a expressão de Stefan ao olha-la naquele momento era uma combinação de alivio e assombro.
-Então é isso – disse, quase em um sussurro para si mesmo. – Isso é o que tem inquietado você.
Elena abriu a boca mas não falou.
-Sabia que algo não ia bem, sabia que me escondia algo. Mas pensei... – sacudiu a cabeça e um sorriso tendencioso assomou em seus lábios. – Não importa agora. Não queria invadir sua intimidade. Nem sequer queria perguntar. E todo esse tempo estava preocupada em me proteger.
A língua de Elena estava pregada no céu da boca. As palavras também pareciam atoladas. “Há mais”, pensou, mas não podia dizer, não quando os olhos de Stefan tinham aquela olhada, não quando todo seu rosto estava iluminado.
-Quando disse que tínhamos que falar hoje, pensei que havia mudado de idéia sobre mim – disse com simplicidade, sem auto compaixão. – E não a teria culpado. Mas, na verdade... – voltou a sacudir a cabeça – Elena – disse, e então ela estava em seus braços.
Era tão prazeroso estar ali, tão como devia ser... Nem se quer se deu conta de quão mal que haviam estado as coisas entre eles até aquele momento, em que tudo que estava mal havia desaparecido. Isso era o que ela recordava, o que havia sentido na primeira noite gloriosa quando Stefan a havia abraçado. Toda a doçura e ternura do mundo surgindo entre eles. Estava em casa, no lugar em que pertencia. No lugar em que sempre pertenceu.
Todo o resto estava esquecido.
Como havia acontecido no principio, Elena sentiu como se quase pudesse ler os pensamentos de Stefan. Estavam conectados, era um parte do outro. Seus corações batiam no mesmo ritmo.
Só precisava de uma coisa para ser completo. Elena sabia, e colocou os cabelos para trás, esticando as mãos para trás para afasta-los do pescoço. E dessa vez Stefan não protestou e nem impediu. No lugar da rejeição irradiava uma profunda aceitação... e uma intensa necessidade.
Sentimentos de amor e deleite, de reconhecimento, a invadiram e com um jubilo incrédulo notou que os sentimentos provinham dele. Por um momento se viu através de seus olhos e percebeu o quanto ela importava a ele. Podia ter sido aterrador ela não ter sentido um sentimento igual e profundo se desenvolvendo nele.


Não sentiu dor quando os dentes perfuraram seu pescoço. E nem sequer lhe ocorreu que o havia oferecido sem pensar o lado sem marcas... apesar de que as feridas que Damon havia deixado já haviam curado.
Se apertou contra ele quando tentou alçar a cabeça. Mas Stefan se mostrou inflexível e finalmente ela teve que deixa-lo ir. Ainda a abraçando, ele tateou em cima da penteadeira em busca da afinada adaga de cabo de marfim e com um rápido movimento deixou fluir seu próprio sangue.
Quando os joelhos de Elena começaram a dobrar, ele a sentou na cama. E então se limitaram a permanecer abraçados, sem ter consciência da hora ou de qualquer outra coisa. Elena sentia que só Stefan e ela importavam.
-Eu amo você – disse ele em voz baixa.
No inicio, Elena, em sua agradável nebulosa, simplesmente aceitou as palavras. Logo, com um calafrio de doçura, reparou em que ele havia dito.
A amava. Sabia disso desde sempre, mas ele jamais havia dito antes.
-Eu amo você, Stefan – murmurou de volta.
Se surpreendeu quando ele se removeu e se afastou ligeiramente, até que viu o que fazia. Introduzindo a mão no interior do suéter, Stefan tirou o cordão que levava no pescoço desde que ela o conhecia. No cordão havia um anel de ouro, lindamente forjado e com um lápis-lázuli pendurado.
O anel de Katherine. Enquanto Elena observava, ele puxou o cordão e o abriu, retirando o delicado aro de ouro.
-Quando Katherine morreu – disse -, pensei que jamais pudesse amar mais alguém. Ainda sabendo que ela queria que eu amasse, estava certo que isso jamais aconteceria. Mas me equivoquei.
Vacilou um momento e logo seguiu:
-Conservei o anel porque era um símbolo dela. Para poder tê-la sempre em meu coração. Mas agora eu quero que seja um símbolo de algo mais. – De novo vacilou, parecendo quase temeroso de encontrar os olhos de Elena. – Considerando o modo em que estão as coisas, não tenho nenhum direito de lhe pedir isso. Mas, Elena...
Lutou durante uns poucos minutos e logo se deu por vencido, seus olhos travando-se com os dela silenciosamente.
Elena foi incapaz de falar. Não podia respirar. Mas Stefan mal interpretou o silêncio. A esperança em seus olhos morreu e abaixou a cabeça.
-Tem razão – disse. – É impossível. Simplesmente, existem muitas dificuldades... devido a mim. Pelo que sou. Ninguém como você deveria estar atada a alguém como eu. Nem sequer deveria ter sugerido...
-Stefan! – disse Elena. – Stefan, quer se calar por um momento...
-...esqueça o que eu disse...
-Stefan! – disse ela. – Stefan, olhe para mim.
Lentamente, ele obedeceu, levantando a cabeça. A olhou nos olhos e a amarga auto-censura se desvaneceu em seu rosto para ser envolvia em uma expressão que a fez ficar sem alento. Então, ainda muito devagar, pegou a mão que ela o tendia. Pausadamente, enquanto ambos observavam, deslizou o anel em seu dedo.
Encaixou como se tivesse sido feito para ela. O ouro cintilou suntuosamente na luz e o lápis-lázuli brilhou com um azul vibrante como um lago transparente rodeado de neve virgem.
-Teremos que guardar segredo por um tempo – disse ela escutando o tremor da sua voz. – Tia Judith terá um ataque se souber que me comprometi antes de me graduar. Mas completarei dezoito anos no próximo verão e então não poderá nos deter.
-Elena, está certa de que é isso que você quer? Não será fácil viver comigo. Sempre serei diferente de você não importa o quanto eu tente. Se quiser mudar de idéia...
-Enquanto me ame, jamais mudarei de idéia.
Voltou a toma-la em seus braços e a paz e a satisfação a envolveram. Mas ainda existia um temor que corroia os limites de sua consciência.
-Stefan, sobre amanhã..., se Caroline e Tyler levarem a cabo seus planos, não importará.
-Então simplesmente teremos que nos assegurar de que não possam faze-lo. Se Bonnie e Meredith quiserem me ajudar, eu acho que posso armar um modo de obter o diário de Coraline. Mas mesmo que não possa, não vou fugir. Não vou deixa-la, Elena, vou ficar e lutar.
-Mas machucarão você. Stefan, Não posso suportar isso.
-E eu não posso deixar você. Está decidido. Deixe que eu me preocupo com o resto, encontrarei um modo. E se não fizer..., bom, aconteça o que acontecer, ficarei do seu lado. Estaremos juntos.
-Estaremos juntos – repetiu Elena e apoiou a cabeça em seu ombro, feliz de deixar de pensar por um momento e simplesmente ser.


Sexta, 29 de novembro
Querido diário
É tarde, mas não conseguia dormir. Não pareço precisar de dormir tanto como acostumava.
Bom, amanhã é o dia.
Falamos com Bonnie e Meredith esta noite. O plano de Stefan é o mais simples. A questão é que não importa onde Caroline tenha escondido o diário, tem que tira-lo amanhã para leva-lo com ela: nossas leituras são as ultimas coisas da agenda e ela tem que estar no desfile e resto dos atos que acontecem antes, portanto terá que esconder o diário em alguma parte durante esse tempo. De modo que se vigiarmos desde o momento em que saia de casa até que suba no cenário, temos que ver aonde ela o põe. E posto que nem sequer sabe que suspeitamos, não estará de guarda.
Então é quando pegaremos.
O motivo pelo qual o plano funcionará é que todo mundo no programa irá vestido de época. A Sra. Grimesby,a bibliotecária, nos ajudará a colocar as roupas do século XIX antes do desfile, e não podemos levar nada que não seja parte do traje. Nem bolsas, nem mochilas. Nem diários! Caroline terá que deixa-lo em alguma parte em algum momento.
Vamos nos revezar para vigia-la. Bonnie a esperará fora de sua casa e verá o que Caroline leva quando sair. Eu a vigiarei quando for se vestir na casa da Sra. Grimesby. Então enquanto está no desfile, Stefan e Meredith na casa ou no carro dos Forbes, se for lá onde está... farão sua parte.
Não vejo como posso falhar. E não posso dizer o quão melhor me sinto. É tão agradável poder compartilhar esse problema com Stefan... Aprendi minha lição: nunca mais voltarei a esconder coisas dele.
Usarei meu anel amanhã. Se a Sra. Grimesby perguntar sobre ele, lhe direi que é mais antigo que o século XIX, que é do Renascimento italiano. Gostarei de ver sua cara quando eu lhe disser isso.
Será melhor que eu tente dormir um pouco. Espero que não sonhe.

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