21. O olho da cobra

Hermione se direcionou para a cabana de Hagrid sob dois pés de neve numa manhã de domingo. Harry e Rony queriam ter ido com ela mas as montanhas de tarefas de casa tinham atingido uma altura alarmante novamente ficaram de má vontade na sala comunal, tentando ignorar a alegria gritante ecoando na grama lá fora, onde estudantes estavam se divertindo, patinando no lago congelado, andando num tobogã e, o pior de todos; enfeitiçando bolas de neve para baterem na torre da Grifinória e fazerem um grande barulho nas janelas.
- Ai! - gritou Rony, finalmente perdendo a paciência e fitando sua cabeça na janela. - Eu sou um monitor e se mais alguma bola de neve bater nessa janela... OUCH!
Ele recolheu sua cabeça rapidamente, seu rosto estava coberto de neve.
- Fred e Jorge - disse friamente, fitando a janela atrás de si. - Corajosos...
Hermione voltou da cabana de Hagrid pouco antes do almoço, tremendo levemente, suas vestes úmidas até o joelho.
- E então? -disse Rony, olhando-a. - Pegou todas as lições planejadas por ele?
- Bom, eu tentei - disse ela estupidamente, afundando-se numa cadeira ao lado de Harry. Pegou sua varinha, deu-lhe um pequeno e complicado giro e um ar quente jorrou da ponta; apontou para suas vestes, que começaram a se cobrir de vapor enquanto secavam. - Ele nem mesmo estava lá quando eu cheguei, fiquei batendo na porta por pelo menos meia hora. E então ele veio rapidamente da Floresta...
Harry gemeu. A Floresta Proibida estava repleta de tipos de criaturas que poderiam dar a Hagrid uma demissão.
- O que ele está mantendo lá? Ele disse? - ele perguntou.
- Não - disse Hermione miseravelmente. - Ele disse que queria fazer uma surpresa. Eu tentei explicar sobre Umbridge mas parece que ele não entende. Ele continua dizendo que ninguém em sã consciência iria preferir estudar ouriços em vez de quimeras. Oh, eu não acho que ele tenha uma quimera - ela reparou um pálido olhar no rosto de Harry e de Rony -, mas isso não é por falta de tentativa, pois ele disse sobre como é difícil pegar os ovos. Eu não sei quantas vezes eu disse que era melhor ele seguir o plano da Grubbly-Plank, eu sinceramente não acho que ele tenha ouvido metade do que eu disse. Ele está com um humor um tanto engraçado, vocês sabem. Ele ainda não disse como conseguiu todas aqueles machucados.
Quando Hagrid apareceu na mesa de café da manhã no outro dia não se via entusiasmo nos estudantes. Alguns, como Fred, Jorge e Lino, gritaram com prazer e correram entre as mesas da Grifinória e Lufa-lufa, para apertar a enorme mão de Hagrid; outros, como Parvati e Lilá, trocaram olhares frios e sacudiram suas cabeças. Harry sabia que muitos deles preferiam as aulas da professora Grubbly-Plank; e o pior de tudo era que uma pequena parte dele sabia que tinham razão.
A idéia de Grubbly-Plank de uma classe interessante não era uma onde tinham que correr o risco de ter a cabeça de alguém cortada.
Essa era a certeza absoluta do receio sobre o qual Harry, Rony e Mione tinham avisado a Hagrid na terça-feira, tristemente silenciaram contra o frio. Harry estava preocupado, não apenas com o que Hagrid decidira ensinar a eles mas também com o comportamento do resto da classe, particularmente de Malfoy e cia, já que Umbridge os estava observando.
Entretanto, a grande inquisitora não estava em um lugar que desse para vê-la enquanto caminhavam na neve em direção a Hagrid, que estava esperando por eles no canto da Floresta. Ele não parecia seguro, o machucado que estava lilás na noite de sábado agora estava tingido de verde e amarelo e algumas de suas feridas pareciam estar sangrando. Harry não conseguia entender isso: Será que Hagrid foi atacado por alguma criatura cujo veneno evitou que as feridas cicatrizassem? Para completar uma agonizante figura, Hagrid estava carregando o que parecia metade de uma vaca morta em seu ombro.
- Nós vamos trabalhar com isso hoje! - Hagrid pediu alegremente para os estudantes se aproximarem, enquanto olhava para as escuras árvores atrás dele. - Um pouco de abrigo! De qualquer forma, eles preferem o escuro.
- O que prefere o escuro? - Harry ouviu Malfoy dizer rapidamente para Crabbe e Goyle, com um traço de pânico na voz. - O que ele disse que prefere o escuro, vocês ouviram?
Harry se lembrou da única outra ocasião em que Malfoy entrou na Floresta antes daquela, ele não tinha sido muito corajoso desde então. Sorriu pra si mesmo; depois do jogo de quadribol qualquer coisa de causasse desconforto em Malfoy estava tudo bem pra ele.
- Prontos? - disse Hagrid alegremente, olhando em volta dos alunos. - Certo, bom, eu estive planejando uma viagem dentro da Floresta para o seu quinto ano. Acho que veremos essas criaturas em seu habitat natural. Agora, o que estudaremos hoje é muito raro, eu presumo que provavelmente eu seja a única pessoa na Grã-bretanha que treina essas criaturas.
- E você tem certeza que são treinadas, não é? -disse Malfoy, o pânico em sua voz ainda maior. - Não seria essa a primeira vez que você trouxe coisas selvagens pra classe, seria?
A Sonserina murmurou concordando e alguns grifinórios olharam como se achassem que Malfoy tinha uma certa razão também.
- Claro que são treinados - respondeu Hagrid raivosamente, enquanto acomodava a vaca morta em seu ombro.
- Então o que aconteceu com seu rosto? - retrucou Malfoy.
- Vá cuidar da sua vida! - disse Hagrid furioso. - Agora, se vocês terminaram com suas perguntar estúpidas, sigam-me!
Ele começou a andar diretamente para a floresta. Ninguém parecia muito disposto a seguir. Harry olhou para Rony e Mione, que suspiraram mas oscilaram, e três deles estavam logo atrás de Hagrid, conduzindo o resto da classe.
Andaram por volta de dez minutos até chegar em um lugar onde as árvores estavam tão próximas umas das outras que se tornara tão escuro quanto um crepúsculo e não havia tanta neve no chão.
Com um grunhido, Hagrid depositou a "meia vaca" no chão e se voltou para sua classe, muitos deles estavam rastejando de árvore em árvore em direção a ele, observando atentamente e nervosos como se estivessem esperando um ataque a qualquer momento.
- Juntem-se aqui, juntem-se aqui - Hagrid os encorajou. - Agora, eles serão atraídos pelo cheiro da carne mas eu vou dar a eles uma chamada de qualquer jeito, porque iriam gostar de saber que sou eu.
Ele sacudiu sua cabeça peluda para tirar o cabelo do rosto e deu um estranho "guincho chorante", que ecoou pelas sombrias árvores como se fosse o grito de um pássaro monstruoso.
Ninguém riu; muitos deles olhavam um tanto assustados para conseguir fazer algum barulho.
Hagrid deu o "guincho chorante" novamente. Um minuto se passou durante o qual todos continuavam a observar nervosamente acima de seus ombros e em volta das árvores por uma primeira aparição do que quer que fosse que estivesse vindo. Então, Hagrid sacudiu seu cabelo para trás por um e expandiu seu enorme peito, Harry cutucou Rony e apontou para um lugar negro entre dois torcidos galhos de árvores.
Um par de olhos brilhantes e negros estava crescendo através da escuridão e um momento depois um rosto de dragão com o pescoço e o esqueleto de um enorme e negro cavalo alado surgia na escuridão. Isso foi à visão da classe por alguns segundos, zunindo seu longo e negro rabo, curvando sua cabeça e começando a rasgar o corpo da vaca morta com suas presas afiadas.
Uma grande onda de alívio caiu sobre Harry. Estava provado que ele não tinha imaginado aquelas criaturas, elas eram reais: Hagrid sabia sobre elas também. Olhou ansiosamente para Rony, mas Rony ainda estava pasmo entre as árvores e após alguns segundos sussurrou.
- Por que Hagrid não chama novamente?
Muitos dos alunos estavam com expressões confusas e nervosas, espantadas como Rony e outros, ainda estavam pasmos com o cavalo bem à frente deles. Havia apenas outras duas pessoas que pareciam ser capazes de vê-los: um menino da Sonserina bem atrás de Goyle estava assistindo o cavalo comer com uma expressão de grande desgosto; e Neville estava observando o longo e negro rabo.
- Oh, e aqui vem mais um! - disse Hagrid orgulhosamente, um segundo cavalo negro surgiu de dentro das árvores com suas rígidas asas envolvendo seu corpo e mergulhando sua cabeça para devorar a carne. - Agora... Quem pode vê-los levanta a mão.
Imensamente realizado de sentir que agora estava entendendo o mistério dos cavalos, Harry levantou sua mão. Hagrid sorriu pra ele.
- Sim...Sim, eu sabia que você seria capaz Harry - disse seriamente. - E você também, Neville?
- Com licença - disse Malfoy com uma voz covarde. - Mas o que nós temos que ver?
Para uma resposta, Hagrid apontou para a carcaça da vaca no chão. A classe inteira parou por alguns segundos, então várias pessoas suspiraram e Parvati gritou. Harry entendeu o porquê: partículas de ossos flutuando e sumindo no ar, pareceu muito estranho, de fato.
- Quem está fazendo isso? - Parvati perguntou com uma voz de medo, escondendo-se atrás de uma árvore. - Quem está comendo isso?
- Testrália - disse Hagrid orgulhosamente e Hermione deu um leve "Oh" de compreensão sob o ombro de Harry. - Hogwarts tem um grande bando deles aqui. Agora, quem sabe...?
- Mas eles dão muito, mas muito azar! - interrompeu Parvati, parecendo inquieta. - Eles podem dar todo tipo de azar para quem olha para eles. A professora Trelawney me disse uma vez que...
- Não, não, não - disse Hagrid -, isso é apenas supertição, eles não trazem má sorte, eles são muito inteligentes e úteis! Claro, esses não dão tanto trabalho, principalmente carregam a carruagem da escola quando Dumbledore tem que fazer uma longa jornada e não quer aparatar, e ali está mais um casal, olhem...
Mais dois cavalos saíram silenciosamente de dentro das árvores, um deles passou muito perto de Parvati, que gritou e correu para perto de uma árvore, dizendo.
- Eu acho que senti algo, eu acho que estão perto de mim!
- Não se preocupe, eles não vão te machucar - disse Hagrid pacientemente. - Agora, quem pode me dizer por que algum de vocês pode vê-los e outros não?
Hermione levantou a mão.
- Vá em frente! - disse Hagrid, sorrindo para ela.
- As únicas pessoas que podem ver um Testrália são pessoas que já viram alguém morto.
- Está absolutamente correto - disse Hagrid solenemente -, dez pontos para a Grifinória. Agora, Testrálias...
- Hum, hum.
A professora Umbridge chegara. Estava a alguns passos de Harry, usando seu chapéu e seu casaco verde novamente, sua prancheta estava preparada. Hagrid, que não lembrava que Umbridge iria inspecioná-lo, estava preocupado e o mais próximo possível de um Testrália, evidentemente pensando que o animal havia feito aquele som.
- Hum, hum.
- Oh, olá! - disse Hagrid agora sorrindo, após localizar de onde vinha o barulho.
- Você recebeu o bilhete que lhe mandei esta manhã? - disse Umbridge, com o mesmo tom de voz de sempre. - Dizendo que eu inspecionaria sua aula?
- Ah, sim - disse Hagrid radiante. - Que bom que você nos achou! Bom, como você pode ver, ou, eu não sei, você pode? Nós estamos vendo Testrálias hoje...
- Como? -disse a professora Umbridge quase gritando, aproximando sua mão do ouvido e curvando-se. - O que você disse?
Hagrid pareceu um pouco confuso.
- Hum, Testrálias! - ele gritou. - Grandes cavalos com asas, você sabe!
Ele bateu seus gigantes braços esperançosamente. A professora Umbridge levantou seus olhos castanhos para Hagrid e resmungou enquanto escrevia em sua prancheta:
- Tem... Que... Melhorar... Sua... Linguagem... Grosseira.
- Bom... De qualquer forma... - disse Hagrid, olhando para a classe como se estivesse nervoso. - Hum... O que eu estava dizendo?
- Parece... Ter... Uma... Memória... Muito... Curta - murmurou Umbridge, alto o bastante para todos ouvirem. Draco Malfoy olhou como se o Natal tivesse vindo um mês antes; Hermione, por outro lado, ficou parva de raiva.
- É sim - disse Hagrid, jogando um olhar de relance para a prancheta de Umbridge, com muita coragem. - Sim, eu ia dizer a vocês como nós formamos um bando. Sim, então, nós começamos com um macho e cinco fêmeas. Esse aqui... - ele pegou o primeiro cavalo que apareceu - se chama Tenbrus, ele é meu favorito, o primeiro que nasceu aqui na Floresta...
- Você está ciente - disse Umbridge bem alto, interrompendo-o - de que o Ministério da Magia classificou Testrálias como perigosos?
O coração de Harry afundou como uma pedra mas Hagrid apenas hesitou.
- Testrálias não são perigosos! Tudo bem que podem te machucar se você perturba-los...
- Mostra... Sinais... De... Prazer... Com... A... Idéia... De... Violência - resmungou Umbridge, rabiscando em sua prancheta novamente.

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