9. Eu recolho cocô

Eu perdi as esperanças quando vi os dentes dos cavalos.
Conforme chegava mais perto da cerca, segurei minha camiseta sobre o meu nariz para
bloquear o cheiro. Um garanhão andou pelo esterco e relinchou bravo para mim. Ele
mostrou os dentes, que eram pontudos como os de um urso.
Tentei falar com ele na minha mente. Eu posso fazer isso com a maioria dos cavalos.
Oi, falei para ele. Eu vou limpar seu estábulo. Isso não vai ser demais?
Sim! Disse o cavalo. Venha para dentro! Comer você! Meio-sangue apetitoso!
Mas eu sou filho de Poseidon, protestei. Ele criou os cavalos.
Geralmente isso me dá tratamento VIP no mundo equino, mas não desta vez.
Sim! Disse o cavalo entusiasticamente. Poseidon pode vir também! Vamos comer vocês
dois! Frutos do mar!
Frutos do mar! Os outros cavalos concordaram enquanto andavam pelo campo. Moscas
zumbiam por toda parte, e o calor do dia não melhorava o cheiro. Eu tive a idéia de que
poderia cumprir este desafio, pois me lembrava de como Hércules havia feito isso. Ele
canalizou um rio para os estábulos e os limpou dessa maneira. Calculei que talvez
pudesse controlar a água. Mas se eu não conseguisse chegar perto dos cavalos sem ser
devorado, isso seria um problema. E o rio estava colina abaixo, bem mais longe do que
eu tinha percebido, quase um quilômetro de distância. O problema do cocô parecia bem
maior de perto. Peguei uma pá enferrujada e joguei um pouco pra fora da cerca. Ótimo.
Apenas mais quatro bilhões de pás para terminar.
O sol já estava baixando. Eu tinha no máximo algumas horas. Decidi que o rio era
minha única esperança. Pelo menos seria mais fácil pensar na margem do rio do que ali.
Eu comecei a descer a colina.

***

Quando cheguei ao rio, encontrei uma garota esperando por mim. Ela usava jeans e uma
camiseta verde e seu longo cabelo castanho estava trançado com algas do rio. Ela tinha
um olhar severo. Seus braços estavam cruzados.
“Ah não, você não vai,” ela disse.
Eu a encarei. “Você é uma náiade?”
Ela girou os olhos. “É claro!”
“Mas você fala. E está fora da água.”
“O quê, você acha que não podemos agir como humanos se quisermos?”
Eu nunca pensara sobre isso. Eu meio que me senti estúpido, contudo, pois sempre vi
muitas náiades no acampamento, e elas nunca fizeram nada além de dar risadinhas e
acenar pra mim do fundo do lago.
“Olhe”, eu disse. “Eu só vim pedir —”
“Eu sei quem você é,” ela disse. “E sei o que você quer. E a resposta é não! Eu não terei
meu rio usado de novo para lavar aquele estábulo imundo!”
“Mas— ”
“Ah, me poupe, garoto dos oceanos. Vocês tipos dos deuses do oceano sempre acham
que são muuuuuito mais importandes do que um pequeno rio, não é? Bem, deixe eu te
falar, esta náiade não vai se deixar levar só por que seu papai é Poseidon. Aqui é
território de água doce, senhor. O último cara que me pediu esse favor — ah, e ele era
bem mais atraente que você, aliás — ele me convenceu, e foi o pior erro que eu já
cometi! Você faz ideia do que aquele monte de estrume faz com o meu ecossistema? Eu
pareço uma planta de tratamento de esgoto pra você? Meus peixes morrerão. Eu nunca
tirarei o esterco das minhas plantas. Ficarei doente por anos. NÃO, OBRIGADA!”
O jeito que ela falou me lembrou minha amiga mortal, Rachel Elizabeth Dare — como
se ela estivesse me batendo com as palavras. Eu não podia culpar a náiade. Agora que
pensei sobre isso, eu ficaria furioso se jogassem quatro toneladas de estrume na minha
casa. Mas mesmo assim...
“Meus amigos estão em perigo” disse a ela.
“Ah, que pena! Mas não é problema meu. E você não vai arruinar meu rio.”
Ela parecia que estava pronta para uma luta. Seus punhos estavam serrados, mas pensei
ter ouvido um leve vacilo em sua voz. De repende percebi que apesar de sua atitude
irritada, ela tinha medo de mim. Ela provavelmente pensou que eu lutaria com ela pelo
controle do rio, e ela estava preocupada que poderia perder.
O pensamento me entristeceu. Eu me senti um valentão, um filho de Poseidon
usufruindo de sua influência por aí.
Eu sentei num toco de árvore. “Tá bem, você venceu.”
A náiade pareceu surpresa. “Sério?”
“Eu não vou lutar com você. É o seu rio.”
Ela relaxou os ombros. “Ah. Ah, bom. Digo — bom pra você!”
“Mas meus amigos e eu seremos vendidos aos Titãs se eu não limpar aqueles estábulos
até o pôr do sol. E eu não sei como.”
O rio borbulhou alegremente. Uma cobra deslizou e submergiu. Finalmente a náiade
suspirou.
“Vou lhe contar um segredo, filho do deus do mar. Pegue um pouco de terra.”
“O quê?”
“Você me ouviu.”
Eu me agachei e peguei um punhado de terra do Texas. Estava seca e preta e manchada
com pedaços de rochas brancas... Não, alguma coisa além de rochas.
“São conchas,” a náiade disse. “Conchas marinhas petrificadas. Milhões de anos atrás,
antes mesmo do tempo dos deuses, quando apenas Gaia e Urano reinavam, esta terra
estava embaixo da água. Era parte do mar.”
De repente vi o que ela queria dizer. Havia pequenos pedaços de antigos ouriços do mar
na minha mão, conchas de moluscos. Até o limo das rochas continha impressões de
conchas marinhas embutidas nele.
“Ok,” falei. “Que bem isso me traz?”
“Você não é tão diferente de mim, semideus. Mesmo quando estou fora d’água, a água
está em mim. É minha fonte de vida.” Ela deu um passo atrás, pôs um pé na água e
sorriu. “Espero que você encontre um meio de resgatar seus amigos.”
E com isso ela se transformou em água e se misturou com o rio.

***

O sol estava tocando as colinas quando cheguei de volta ao estábulo. Alguém deve ter
passado lá e alimentado os cavalos, pois eles estavam dilacerando enormes carcaças de
animal. Não pude dizer que tipo de animal, e eu realmente não queria saber. Se era
impossível os estábulos ficarem mais nojentos, cinquenta cavalos devorando carne crua
deram conta disso.
Frutos do mar! Um deles pensou quando me viu. Chega mais! Ainda estamos com
fome!
O que eu deveria fazer? Eu não podia usar o rio. E o fato de que este lugar estivera
debaixo da água um milhão de anos atrás não me ajudava muito agora. Eu olhei para a
pequena concha calcificada na minha mão, depois para o monte de estrume.
Frustrado, atirei a concha no cocô. Estava para virar de costas para os cavalos quando
ouvi um barulho.
PFFFFFFFFFT! Como um balão vazando.
Olhei para baixo onde eu havia atirado a concha. Um pequeno fio de água escorria para
fora do estrume.
“Sem essa,” balbuciei.
Hesitando, dei um passo para acerca. “Fique maior,” falei para o ponto de água.
SPOOOOOOSH!
Água jorrou um metro no ar e continuou a borbulhar. Era impossível, mas estava lá.
Dois cavalos vieram checar. Um pôs a boca na fonte e se encolheu.
Eca! Ele disse. Salgada!
Era água do mar no meio de um rancho do Texas. Peguei mais uma mão cheia de lama e
recolhi algumas conchas. Eu não sabia exatamente o que estava fazendo, mas corri pela
extensão do estábulo, atirando conchas nas pilhas de esterco. Onde quer que as conchas
caíssem, uma nascente de água salgada aparecia.
Pare! Os cavalos choravam. Carne é bom! Banhos são ruins!
Então percebi que a água não estava escorrendo para fora do estábulo e descendo a
colina como deveria fazer. Elas simplesmente efervesciam em volta da fonte e
afundavam no chão, levando o estrume consigo. O cocô de cavalo dissolvia na água
salgada, deixando a normal e velha lama.
“Mais!” gritei.
Havia uma sensação estranha nas minhas entranhas, e as fontes de água explodiram
como o maior lava jato do mundo. Água salgada disparou a seis metros de altura. Os
cavalos enlouqueceram correndo de um lado para o outro conforme os jatos borrifavam
em todas as direções. Montanhas de cocô começaram a derreter como gelo.
A sensação estranha ficou mais intensa, dolorosa até, mas havia algo incrível em ver
toda aquela água salgada. Eu fizera aquilo. Eu trouxera o oceano para esta encosta.
Pare, senhor! Um cavalo chorou. Pare, por favor!
A água corria por todo lugar agora. Os cavalos estavam molhados, e alguns estavam em
pânico e escorregando na lama. O cocô se foi completamente, toneladas dele dissolvidas
na terra, e a água agora estava começando a empoçar, saindo do estábulo, formando
uma centena de pequenos fluxos de água até o rio.
“Pare,” eu disse para a água.
Nada aconteceu. A dor nas entranhas estava se consolidando. Se eu não parasse os
géisers logo, a água salgada iria correr para o rio e envenenar as plantas e peixes.
“Pare!” eu concentrei todo o meu poder em controlar a força do mar. De repente os
géisers pararam. Eu caí de joelhos, exausto. À minha frente estava um estábulo
brilhando de limpo, um campo de lama salgada e cinquenta cavalos que haviam sido
lavados tão bem que seus couros cintilavam. Até os pedaços de carne entre seus dentes
haviam sido lavados.
Nós não vamos comê-lo, senhor! Os cavalos se lamentaram. Por favor, senhor! Chega
de banhos salgados!
“Com uma condição,” falei. “Vocês só comerão o que lhes for dado por seus donos a
partir de hoje. Nada de pessoas. Ou eu voltarei com mais conchas do mar.”
Eles relincharam e me fizeram um monte de promessas de que seriam bons cavalos
carnívoros de agora em diante, mas eu não fiquei para conversar. O sol estava se pondo.
Eu me virei e a toda velocidade em direção a casa do rancho.

***

Eu senti cheiro de churrasco antes de alcançar a casa, o que me deixou ainda mais
louco, pois eu realmente adoro churrasco.
A varanda estava preparada para uma festa. Serpentina e balões enfeitavam a grade.
Geryon estava virando hambúrgueres num grande fogo de churrasco feito em um
tambor de óleo. Eurytion descansava numa mesa de piquenique, cortando as unhas com
uma faca. O cachorro de duas cabeças farejava as costelas e hambúrgueres que estavam
fritando na grelha. E então vi meus amigos: Tyson, Grover, Annabeth, e Nico todos
jogados num canto, amarrados como animais de rodeio, amordaçados e com os pulsos e
calcanhares amarrados juntos.
“Solte-os!” gritei, ainda sem fôlego por subir correndo os degraus. “Eu limpei os
estábulos!”
Geryon se virou. Ele usava um avental em cada peito, com uma palavra em cada, de
forma que juntos formavam: BEIJE—O—CHEF. “Limpou, agora? Como conseguiu?”
Eu estava bem impaciente, mas contei a ele.
Ele assentiu aprovando. “Muito engenhoso. Seria melhor se você tivesse envenenado
aquela náiade maldita, mas tudo bem.”
“Solte meus amigos,” disse. “Tínhamos um acordo.”
“Ah, eu estive pensando sobre isso. O problema é, se eu os soltar, não serei pago.”
“Você prometeu!”
Geryon fez tsc, tsc. “Mas você me fez jurar pelo rio Styx? Não, não fez. Então não é
obrigatório. Quando se trata de negócios, criança, você deve sempre fazer um juramento
que vincule.”
Puxei minha espada. Ortros rugiu. Uma das cabeças se abaixou até perto da orelha de
Grover e pôs os dentes à mostra.
“Eurytion,” falou Geryon, “o garoto está começando a me irritar. Mate-o.”
Eurytion me estudou. Eu não gostava das minhas chances contra ele e aquele porrete
enorme.
“Mate-o você mesmo,” Eurytion falou.
Geryon ergueu as sobrancelhas. “Como é?”
“Você me ouviu,” Eurytion resmungou. “Você fica me mandando fazer o seu trabalho
sujo. Você se mete em brigas sem motivo, e estou ficando cansado de morrer por você.
Você quer lugar com o garoto, faça você mesmo.”
Era a coisa mais anti-Ares que eu já ouvira um filho de Ares dizer.
Geryon largou sua espátula. “Você ousa me desafiar? Eu devia despedi-lo agora
mesmo!”
“E quem cuidaria do seu rebanho? Ortros, junto.”
O cachorro parou imediatamente de grunhir para Grover e foi se sentar aos pés do
vaqueiro.
“Certo!” Geryon rosnou. “Cuido de você mais tarde, depois que o garoto estiver
morto!”
Ele pegou duas facas entalhadas e as jogou em mim. Desviei uma com minha espada. A
outra cravou na mesa de piquenique a uma polegada da mão de Eurytion.
Fui ao ataque. Geryon defendeu meu primeiro ataque com um par de pinças vermelhas e
quentes e investiu contra meu rosto com um garfo de churrasco. Entrei em sua segunda
investida e o apunhalei direto no peito do meio.
“Aghhh!” ele caiu de joelhos. Eu esperei que ele se desintegrasse do modo como
monstros normalmente fazem. Mas ele apenas fez uma careta e começou a se levantar.
A ferida sob seu avental de chef começou a cicatrizar.
“Bela tentativa filho,” ele disse. “O negócio é, eu tenho três corações. O perfeito sistema
de apoio.”
Ele virou a churrasqueira e brasas espirraram para todos os lados. Uma passou próxima
do rosto de Annabeth, e ela soltou um grito abafado. Tyson lutou contra suas cordas,
mas mesmo sua força não era suficiente para rompê-las. Eu tinha que acabar com essa
luta antes que meus amigos se machucassem.
Golpeei Geryon em seu peito da esquerda, mas ele apenas riu. Atingi seu estômago da
direita. Não fez bem algum. Eu poderia muito bem estar espetando a espada em um
ursinho de pelúcia por toda a reação que ele mostrava.
Três corações. O sistema perfeito de apoio. Atacando um de cada vez não resolveria...
Eu corri para a casa.
“Covarde!” ele gritou. “Volte e morra descentemente!”
As paredes da sala de estar eram decoradas com um monte de troféus de caça horrendos
— veados empalhados e cabeças de dragão, um estojo de armas, um mostruário de
espadas, e um arco com uma aljava.
Geryon atirou seu garfo de churrasco, e ele bateu na parede bem perto da minha cabeça.
Ele sacou duas espadas do mostruário. “Sua cabeça vai parar ali, Jackson! Perto do urso
pardo!”
Eu tive uma ideia maluca. Larguei Contracorrente e peguei o arco na parede. Eu era o
pior arqueiro do mundo. Não conseguia acertar os alvos no acampamento, muito menos
um olho de touro. Mas eu não tinha escolha. Não podia vencer esta luta com uma
espada. Rezei para Ártemis e Apolo, os gêmeos arqueiros, esperando que tivessem
piedade de mim uma vez. Por favor, gente. Apenas um disparo. Por favor.
Encaixei a flecha.
Geryon riu. “Seu imbecil! Uma flecha não é melhor do que uma espada.”
Ele ergueu suas espadas e atacou. Mergulhei para o lado. Antes que ele pudesse se virar,
disparei minha flecha no lado de seu peito direito. Eu ouvi THUMP, THUMP, THUMP,
conforme a flecha passava diretamente por cada um dos seus troncos e saia voando do
outro lado, cravando-se na cabeça do urso pardo.
Geryon largou suas espadas. Ele se virou e me encarou. “Você não pode atirar. Eles me
disseram que você não podia...”
Seu rosto tornou-se uma sombra verde e doentia. Ele caiu de joelhos e começou a
desintegrar-se em areia, até que tudo o que sobrou foram três aventais de cozinha e um
par de botas de vaqueiro supergrandes.

***

Eu desamarrei meus amigos. Eurytion não tentou me impedir. Depois eu armei a
churrasqueira e joguei a comida nas chamas como uma oferenda a Ártemis e Apolo.
“Valeu, caras,” falei. “Eu lhes devo uma.”
O céu trovejou ao longe, então imaginei que os hambúrgueres cheiravam ok.
“Viva pro Percy!” disse Tyson.
“Podemos amarrar esse vaqueiro agora?” disse Nico.
“É!” Grover concordou. “E aquele cão quase me matou!”
Eu olhei para Eurytion, que ainda estava sentado relaxado na mesa de piquenique.
Ortros estava com ambas as cabeças apoiadas nos joelhos do vaqueiro.
“Quanto vai demorar para Geryon se reformar?” perguntei a ele.
Eurytion deu de ombros. “Cem anos? Ele não é daqueles que se reformam rápido,
graças aos deuses. Você me fez um favor.”
“Você disse que já morreu por ele antes,” lembrei. “Como?”
“Eu tenho trabalhado para aquele cretino por milhares de anos. Comecei como um
meio-sangue regular, mas aceitei a imortalidade quando meu pai a ofereceu. Pior erro da
minha vida. Agora estou preso neste rancho. Não posso sair. Não posso desistir. Apenas
cuido das vacas e luto as lutas de Geryon. Estamos meio que amarrados um ao outro.”
“Talvez você possa mudar as coisas,” falei.
Eurytion estreitou os olhos. “Como?”
“Seja bom com os animais. Cuide deles. Pare de vendê-los por comida. E pare de
negociar com os Titãs.”
Eurytion pensou sobre isso. “Isso seria legal.”
“Traga os animais para o seu lado, e eles vão ajudá-lo. E talvez quando Geryon voltar
ele trabalhe para você.”
Eurytion sorriu largamente. “Agora, com isso eu conseguiria viver.”
“Você não vai tentar nos impedir de sair?”
“Imagina, não.”
Annabeth esfregou seus pulsos machucados. Ela ainda olhava Eurytion suspeitamente.
“Seu chefe disse que alguém pagou para nos deixar passar. Quem?”
O vaqueiro deu de ombros. “Talvez ele tenha dito isso só para enganar vocês.”
“E quanto aos Titãs?” perguntei. “Vocês já os informaram por mensagem de Íris sobre
Nico?”
“Não. Geryon estava esperando até o fim do churrasco. Eles não sabem sobre ele.”
Nico olhava fixo para mim. Eu não sabia muito bem o que fazer com ele. Duvidava que
ele concordasse em vir conosco. Por outro lado, não podia simplesmente deixá-lo
vagueando por aí sozinho.
“Você poderia esperar aqui enquanto terminamos nossa missão,” falei a ele. “Seria
seguro.”
“Seguro?” Nico disse. “Por que você se importa se eu estou seguro? Você deixou que
minha irmã morresse.”
“Nico,” Annabeth disse, “não foi culpa do Percy. E Geryon não estava mentindo sobre
Cronos querer capturar você. Se ele soubesse quem você é, ele faria de tudo para tê-lo
do lado dele.”
“Eu não estou do lado de ninguém. E não tenho medo.”
“Você deveria ter,” Annabeth disse. “Sua irmã não iria querer —”
“Se você se importasse com minha irmã, me ajudaria a trazê-la de volta!”
“Uma alma por outra alma?” disse.
“Sim!”
“Mas se você não quer minha alma —”
“Eu não estou explicando nada pra você!” Ele piscou lágrimas para fora de seus olhos.
“E eu vou trazê-la de volta.”
“Bianca não iria querer ser trazida de volta,” eu disse. “Não desse jeito”
“Você não a conhecia!” ele gritou. “Como você sabe o que ela iria querer?”
Eu olhei para as chamas na churrasqueira. Eu pensei na frase da profecia de Annabeth:
Pela mão do rei fantasma você se erguerá ou cairá. Tinha que ser Minos, e eu tinha que
convencer Nico a não ouvi-lo. “Vamos perguntar para a Bianca.”
O céu pareceu escurecer de repente.
“Eu tentei,” disse Nico miseravelmente. “Ela não vai responder.”
“Tente de novo. Tenho a sensação que ela vai responder comigo aqui.”
“Por que ela iria?”
“Porque ela tem me enviado mensagens de Íris,” eu disse, de repente com certeza disso.
“Ela tem tentando me avisar sobre o que você está fazendo, para que eu possa protegêlo.”
Nico balançou a cabeça. “Isso é impossível.”
“Um jeito de descobrir. Você disse que não tem medo.” Eu me virei para Eurytion.
“Nós vamos precisar de um buraco, como uma sepultura. E comida e bebida.”
“Percy,” Annabeth avisou. “Eu não acho que seja uma boa —”
“Tá bem,” disse Nico. “Eu vou tentar.”
Eurytion coçou a barba. “Há um buraco cavado para um tanque séptico. Nós podemos
usá-lo. Garoto Ciclope, pegue minha caixa de gelo na cozinha. Espero que a morta goste
de cerveja.”

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