29. Defecção

Ficamos a noite inteira sentados, estátuas de horror e pesar, e Alice nunca
voltou.
Estávamos nos nossos limites – frenéticos pela quietude absoluta. Carlisle mal
foi capaz de mover os lábios para explicar tudo a Jacob. Contar a história
novamente fez tudo parecer pior; até mesmo Emmett ficou em silêncio e
quieto depois disso.
Não foi até que o sol nasceu e eu soube que Renesmee em breve estaria se
esticando sob minhas mãos que eu me perguntei pela primeira vez o que
estava detendo Alice por tanto tempo. Eu esperava saber algo mais antes de
enfrentar a curiosidade da minha filha. Ter algumas respostas. Uma pequena,
mínima pequena porção de esperança de que eu pudesse sorrir e esconder a
terrível verdade dela também.
Meu rosto estava permanentemente fixado na mascara que esteve usando
durante a noite inteira. Eu não tinha mais certeza de que tinha a habilidade de
sorrir.
Jacob estava roncando num canto, uma montanha de pêlos no chão, se
contorcendo ansiosamente no sono. Sam sabia de tudo – os lobos estavam se
preparando para o que estava vindo. Não que essa preparação fosse fazer nada
por eles, além de matá-los com a minha família.
Os raios de sol passaram pelas janelas do fundo, cintilando na pele de Edward.
Meus olhos não haviam se movido desde que Alice foi embora. Nós passamos
a noite inteira olhando para o que nenhum de nós podia perder: um ao outro.
Eu vi meu reflexo brilhar em seu olhar agoniado quando a luz do sol tocou a
minha própria pele.
As suas sobrancelhas se moveram só um pouquinho, depois seus lábios.
“Alice”, ele disse.
A voz dele era como gelo se partindo enquanto derretia. Todos nós nos
quebramos um pouco, amolecemos um pouco. Nos movemos de novo.
“Ela esteve fora por bastante tempo”, Rosalie murmurou, surpresa.
“Onde ela pode estar?” Emmett se perguntou, dando um passo em direção à
porta.
Esme pôs uma mão em seu braço. “Nós não queremos incomodar...”
“Ela nunca ficou longe por tanto tempo antes,” Edward disse. Uma nova
preocupação apareceu na máscara que o seu rosto havia se tornado. Suas
feições estavam vivas novamente, de repente seus olhos estavam arregalados
com um novo medo, pânico extra. “Carlisle você não acha – algo preventivo?
Alice teria tempo de ver se eles mandassem alguém para buscá-la?”
O rosto de pele translúcida de Aro encheu minha cabeça. Aro, que tinha visto
todos os cantos da mente de Alice, que sabia tudo o que ela era capaz –
Emmett xingou alto o suficiente para que Jacob pulasse de pé com um
rosnado. No jardim, o rosnado dele foi acompanhado pelo seu bando. Minha
família já estava em rápida ação.
“Fique com Renesmee” Eu simplesmente gritei para Jacob enquanto saia
correndo pela porta.
Eu ainda era mais forte do que os outros, e usei essa força para seguir em
frente. Eu alcancei Esme em alguns passos, e Rosalie com mais alguns. Eu
corri pela floresta negra até estar logo atrás de Edward e Carlisle.
“Teriam eles sido capazes de alcançá-la?” Carlisle perguntou, a voz dele
estava uniforme como se ele estivesse imóvel e não correndo a toda
velocidade.
“Eu não vejo como,” Edward respondeu. “Mas Aro a conhece melhor que
qualquer pessoa. Melhor do que eu a conheço.”
“Isso é uma armadilha?” Emmett perguntou atrás de nós.
“Talvez”, Edward disse. “Mas não há cheiro de Alice e Jasper. Onde eles
estavam indo?”
A trilha de Alice e Jasper estava desenhando um largo arco; primeiro ele se
esticava a leste da casa, mas depois ia para o norte ao lado do rio, e então
voltava para o oeste depois de alguns quilômetros.
Nós cruzamos o rio de novo, todos os seis pulando com alguns segundos se
diferença do outro. Edward corria na liderança, sua concentração era total.
“Você sentiu o cheiro?” Esme perguntou alguns momentos depois que
tínhamos pulado o rio pela segunda vez. Ela era a última, bem à esquerda do
nosso grupo de caça. Ela fez um gesto para o sul.
“Fiquem na trilha principal – estamos quase no limite dos Quileute”, Edward
ordenou concisamente. “Fiquem juntos. Vejam se eles viraram ao norte ou
sul.”
Eu não era tão familiar com os limites do acordo como eles, mas eu podia
sentir o cheiro de lobo na brisa que soprava do oeste. Edward e Carlisle
diminuíram um pouco a velocidade por hábito, e eu podia ver suas cabeças se
movendo de um lado para o outro, esperando que a trilha virasse.
Então o cheiro de lobo de repente ficou mais forte, e a cabeça de Edward
saltou para cima. Ele parou imediatamente. O resto de nós ficou imóvel
também.
“Sam?” Edward perguntou com uma voz vazia. “O que é isso?”
Sam veio por entre as árvores a algumas centenas de metros de distância,
caminhando rapidamente em nossa direção em sua forma humanas seguido
por dois lobos – Paul e Jared. Sam levou um tempo para chegar até nós; seus
passos humanos me deixaram impaciente. Eu não queria ter tempo para pensar
no que estava acontecendo. Eu queria estar em movimento, estar fazendo
alguma coisa. Eu queria colocar meus braços ao redor de Alice, saber que sem
dúvida ela estava a salvo.
Eu observei o rosto de Edward ficar completamente branco enquanto ele via o
que Sam estava pensando. Sam o ignorou, olhando diretamente para Carlisle
enquanto parava de caminhar e começava a falar.
“Logo após meia noite, Alice e Jasper vieram a esse lugar e pediram nossa
permissão para passar por nossas terras até o oceano. Eu dei a permissão e os
acompanhei pessoalmente até a costa. Eles foram diretamente para a água e
não retornaram. Enquanto caminhávamos, Alice me contou que era muito
importante que eu não contasse a Jacob que havia a visto até que eu falasse
com você. Eu devia esperar aqui até que você viesse procurar por ela e então
te dar esse bilhete. Ela me disse para obedecer como se nossas vidas
dependessem disso.
O rosto de Sam era severo enquanto ele entregava o papel dobrado, com um
texto em preto de página inteira. Era a página de um livro; meus olhos capazes
leram as palavras impressas enquanto Carlisle virava a página para o outro
lado. O lado que estava virado para mim era uma cópia do Mercador de
Veneza. Um pouco do meu próprio cheiro saiu da página quando Carlisle
desamassou-a. Eu me dei conta de que era uma página rasgada de um dos
meus livros. Eu tinha trazido algumas coisas da casa de Charlie para a cabana;
algumas mudas de roupas normais, todas as cartas da minha mãe, e meus
livros prediletos. Minha coleção esfarrapada de obras de Shakespeare estava
numa estante da sala de estar da cabana ontem pela manhã...
“Alice decidiu nos deixar”, Carlisle sussurrou.
“O quê?” Rosalie gritou.
Carlisle virou a página para que todos nós pudéssemos ler.
Não procurem por nós. Não há tempo a perder. Lembrem-se: Tanya, Siobhan,
Amun, Alistair, todos os nômades que você conseguir encontrar. Nós vamos
procurar Peter e Charlotte no caminho. Lamentamos muito por ter tido que
deixa-los assim, sem dar adeus ou explicações. É a única forma para nós. Nós
amamos vocês.
Ficamos congelados novamente, o silêncio era total a não ser pelas batidas dos
corações dos lobos, sua respiração. Seus pensamentos deviam ser altos
também. Edward foi o primeiro a se mover de novo, falando em resposta ao
que havia na mente de Sam.
“Sim, as coisas estão tão perigosas assim.”
“Suficiente para que vocês abandonem a sua família?” Sam perguntou em voz
alta, com censura em seu tom. Era claro que ele não havia lido o bilhete antes
de entregá-lo a Carlisle. Agora ele estava aborrecido, como se tivesse se
arrependido de ter ouvido Alice.
A expressão de Edward era rígida – para Sam ele provavelmente parecia
enraivecido ou arrogante, mas eu podia ver o formato da dor que havia no seu
rosto endurecido.
“Nós não sabemos o que ela viu”, Edward disse. “Alice não é uma pessoa sem
sentimentos e nem covarde. Ela só tem mais informação que nós.”
“Nós não iríamos –”
“Vocês são diferentes de nós”, Edward rebateu. “Cada um de nós tem seu
livre arbítrio.”
O queixo de Sam se ergueu, e de repente seus olhos estavam completamente
pretos.
“Mas vocês deviam ter cuidado com o aviso”, Edward continuou. “Isso não é
uma coisa na qual vocês vão querer se envolver. Vocês ainda podem evitar o
que Alice viu.”
Sam sorriu severamente. “Nós não fugimos.” Atrás dele, Paul bufou.
“Não matem a sua família por orgulho”, Carlisle inseriu baixinho.
Sam olhou para Carlisle com uma expressão mais suave. “Como Edward
apontou, nós não temos a mesma liberdade que vocês têm. Renesmee agora é
tão parte da nossa família quanto da de vocês. Jacob não pode abandoná-la, e
nós não podemos abandoná-lo.” Os olhos dele passaram para o bilhete de
Alice. Os lábios dele se apertaram numa linha fina.
“Você não a conhece”, Edward disse.
“Você a conhece?” Sam perguntou insensivelmente.
Carlisle pôs uma mão no ombro de Edward. “Temos muito a fazer, filho.
Qualquer que tenha sido a decisão de Alice, não podemos ser bobos e ignorar
seu conselho agora. Vamos voltar para casa e começar a trabalhar.”
Edward balançou a cabeça, seu rosto ainda rígido de dor. Atrás de mim eu
podia ouvir os baixos soluços sem lágrimas de Esme.
Eu não sabia como chorar com esse corpo; eu não pude fazer nada além de
olhar. Ainda não haviam sentimentos. Tudo parecia irreal, como se eu
estivesse sonhando de novo depois de todos esses meses. Tendo um pesadelo.
“Obrigado, Sam”, Carlisle disse.
“Eu lamento,” Sam respondeu. “Nós não devíamos tê-la deixado passar.”
“Você fez a coisa certa”, Carlisle disse a ele. “Alice é livre para fazer o que
ela quiser. Eu não negaria a ela essa liberdade.”
Eu sempre pensei nos Cullen como um todo, uma unidade indivisível. De
repente, eu me lembrei que nem sempre foi assim. Carlisle criou Edward,
Esme, Rosalie e Emmett. Edward me criou. Nós estávamos fisicamente
ligados por sangue e veneno. Eu nunca pensei em Alice e Jasper
separadamente – como adotados pela família. Mas na verdade, Alice adotou
os Cullen. Ela apareceu com seu passado desconexo, trazendo Jasper com o
dele, e se encaixou na família que já estava lá. Tanto ela quanto Jasper
conheceram outra vida fora da família Cullen. Será que ela realmente havia
escolhido viver uma vida nova depois que ela viu que a sua vida com os
Cullen estava acabada?
Então, nosso destino estava selado, não? No final das contas não havia
esperança. Nenhuma fagulha, nenhuma centelha que pudesse ter convencido
Alice de que havia uma chance para o nosso lado.
O claro ar da manhã pareceu mais grosso de repente, mais escuro, como se
estivesse fisicamente escurecido pelo meu desespero.
“Eu não vou desistir sem lutar”, Emmett rosnou baixo sob seu fôlego. “Alice
nos disse o que fazer. Vamos fazer isso.”
Os outros balançaram a cabeça com expressões determinadas, e eu me dei
conta de que eles estavam fazendo uma aposta na chance que Alice havia nos
dado, fosse ela qual fosse. Eles não iam cruzar os braços e esperar pra morrer.
Sim, todos nós íamos morrer. O que mais podia ser feito? E aparentemente
envolveríamos outros, porque Alice nos disse para fazer isso antes de ir
embora. Como nós poderíamos não seguir o último conselho de Alice? Os
lobos, também, iam lutar conosco por Renesmee.
Nós íamos lutar, eles iam lutar, e todos nós morreríamos.
Eu não parecia sentir a mesma determinação que os outros sentiam. Alice
conhecia as chances. Ela estava nos dando a única chance que podia ver, mas
a chance era pequena demais para que ela mesma acreditasse.
Eu já me sentia derrotada quando dei as costas ao rosto crítico de Sam e segui
Carlisle para casa. Agora eu corria automaticamente, não com a mesma pressa
movida pelo pânico de antes. Enquanto nos aproximávamos do rio, a cabeça
de Esme se ergueu.
“Era ali que estava aquela outra trilha. Estava fresca.”
Ela gesticulou com a cabeça para a frente, na direção de onde ela havia
chamado a atenção de Edward no caminho para cá. Enquanto estávamos
correndo para salvar Alice...
“Deve ter sido de mais cedo naquele dia. Era só Alice, sem Jasper”, Edward
disse meio sem vida.
O rosto de Esme se enrugou, e ela balançou a cabeça.
Seguindo um pouco atrás, eu fui para a direita. Eu tinha certeza de que
Edward estava certo, mas ao mesmo tempo... Afinal de contas, como o bilhete
de Alice acabou numa página do meu livro?
“Bella?” Edward perguntou numa voz sem emoção quando eu hesitei.
“Eu quero seguir a trilha”, eu disse a ele, sentindo o leve cheiro de Alice que
guiava o caminho da trilha de sua escapada. Eu era nova nisso, mas o cheiro
era exatamente igual para mim, mas sem o cheiro de Jasper.
Os olhos dourados de Edward estavam vazios. “Ela provavelmente só guia de
volta à casa.”
“Então eu te encontro lá.”
No começo eu pensei que ele me deixaria ir sozinha, mas depois, enquanto eu
me afastava uns passos, os olhos vazios dele voltaram à vida.
“Eu vou com você”, ele disse baixinho. “Eu encontro vocês em casa,
Carlisle.”
Carlisle balançou a cabeça e os outros se foram. Eu esperei até que eles
estivessem fora de vista, e então olhei para Edward questionando.
“Eu não podia deixar você se afastar de mim”, ele respondeu numa voz baixa.
“Só imaginar isso dói.”
Eu compreendi sem mais explicações que isso. Eu pensei em estar separada
dele, e me dei conta de que sentiria a mesma dor, não importava o quão breve
fosse a separação.
Havia tão pouco tempo para ficarmos juntos. Eu estendi minha mão pra ele, e
ele pegou.
“Vamos nos apressar”, ele disse. “Renesmee estará acordada.”
Eu balancei a cabeça, e estávamos correndo de novo.
Provavelmente era uma bobagem, perder tempo longe de Renesmee só por
curiosidade. Mas o bilhete me incomodou. Alice podia ter cravado o bilhete
num tronco de árvore ou numa pedra se não tivesse com o que escrever. Ela
podia ter roubado um bloco de anotações em qualquer uma das casas na
estrada. Porque meu livro? Quando ela o pegou?
Certamente, a trilha levava de volta à cabana por uma rota em zigue-zague que
ficava distante da casa dos Cullen e da floresta dos lobos ali próxima. As
sobrancelhas de Edward se apertaram em confusão quando ficou claro até
onde a trilha levava.
Ele tentou racionalizar. “Ela deixou Jasper esperando e veio até aqui?”
Agora estávamos quase na cabana, e eu me senti inquieta. Eu estava feliz por
ter a mão de Edward na minha, mas também sentia que devia estar aqui
sozinha. Arrancar a página do livro e levá-la até Jasper era uma coisa muito
estranha para Alice fazer. Parecia haver uma mensagem na ação dela – uma
que eu não entendia nem um pouco. Mas era o meu livro, então a mensagem
devia ser para mim. Se fosse algo que ela quisesse que Edward soubesse, ela
não teria arrancado uma página dos livros dele...?
“Só me dê um minuto”, eu disse, libertando minha mão enquanto chegamos na
porta.
A testa dele enrugou. “Bella?”
“Por favor? Trinta segundos.”
Eu não esperei que ele respondesse. Eu passei pela porta, fechando-a atrás de
mim. Eu fui direto para a prateleira de livros. O cheiro de Alice estava fresco
– tinha menos de um dia. Eu fogo que eu não acendi estava queimando baixo,
mas quente, na lareira. Eu puxei O mercador de Veneza da prateleira e
coloquei na página onde havia o título.
Lá, perto dos restos deixados pela página arrancada, embaixo das palavras O
Mercador de Veneza, de William Shakespeare, havia um bilhete.
Destrua isso.
Logo embaixo havia um nome com um endereço em Seattle. Quando Edward
passou pela porta depois de treze segundos, e não trinta, eu estava olhando o
livro queimar.
“O que está havendo Bella?”
“Ela esteve aqui. Ela rasgou a página do meu livro para escrever o bilhete
nela.”
“Porquê?”
“Eu não sei porque.”
“Porque você o está queimando?”
“Eu – eu”, eu fiz uma careta, deixando toda a minha dor e frustração aparecer
no meu rosto. Eu não sabia o que Alice estava tentando me contar, só que ela
tinha ido bem longe para esconder isso de todos menos de mim. A única
pessoa cuja mente Edward não podia ler. Então ela devia estar querendo
mantê-lo no escuro, e provavelmente havia um bom motivo pra isso. “Pareceu
apropriado.”
“Nós não sabemos o que ela está fazendo”, ele disse baixinho.
Eu olhei para as chamas. Eu era a única pessoa no mundo que podia mentir
para Edward. O que Alice queria de mim? Um último pedido?
“Quando estávamos no avião para a Itália”, eu sussurrei – isso não era uma
mentira, exceto talvez em contexto – “indo resgatar você... ela mentiu para
Jasper para que ele não viesse atrás de nós. Ela sabia que se ele enfrentasse os
Volturi, morreria. Ela estava preferindo morrer a colocá-lo em risco. E
preferindo que eu morresse também. Preferindo que você morresse.”
Edward não respondeu.
“Ela tem suas prioridades”, eu disse. Meu coração doeu ao perceber que o que
eu dizia não parecia realmente uma mentira.
“Eu não acredito nisso”, Edward disse. Ele não disse isso como se estivesse
discutindo comigo – ele disse como se estivesse discutindo consigo mesmo.
“Talvez fosse Jasper que estivesse em perigo. O plano dela funcionaria com
todos nós, mas ele teria perdido se tivesse ficado. Talvez...”
“Ela podia ter nos contado sobre isso. Podia tê-lo mandado embora.”
“Mas será que Jasper teria ido? Talvez ela esteja mentindo pra ele
novamente.”
“Talvez”, eu fingi concordar. “Devíamos ir para casa. Não há tempo.”
Edward pegou minha mão, e nós corremos.
O bilhete de Alice não me deixou mais confiante. Se houvesse alguma forma
de evitar os assassinatos que estavam por vir, Alice teria ficado. Eu não podia
ver outra possibilidade. Então talvez fosse outra coisa que ela estava me
dando. Não uma escapatória. Mas o que mais ela acharia que eu ia querer?
Talvez uma forma de salvar alguma coisa? Havia algo que eu ainda pudesse
salvar?
Carlisle e os outros não ficaram parados em nossa ausência. Nós ficamos
separados deles por cinco minutos, e todos eles já estavam preparados para ir
embora. No canto, Jacob era humano de novo, com Renesmee no colo, os dois
nos observando com os olhos arregalados.
Rosalie havia trocado seu vestido de seda por um par de calças jeans folgadas,
tênis, e uma camisa de botões feita com o material grosso que mochileiros
usavam para viagens longas. Esme estava vestida similarmente. Havia um
globo na mesa de centro, mas eles já haviam terminado de olhá-lo, só
esperando por nós.
A atmosfera agora era mais positiva do que antes; era bom para eles estar em
ação. As esperanças deles estavam centradas nas instruções de Alice. Eu olhei
para o globo e me perguntei para onde íamos primeiro.
“Nós vamos ficar?” Edward perguntou, olhando para Carlisle. Ele não parecia
feliz.
“Alice disse que teríamos que mostrar Renesmee às pessoas, e que devíamos
ter cuidado com isso”, Carlisle disse. “Mandaremos quem quer que
encontremos para vocês aqui – Edward, você será o melhor nesse campo
minado em particular.”
Edward deu um forte aceno de cabeça, ainda infeliz. “Há muito terreno para
cobrir.”
“Vamos nos separar”, Emmett respondeu. “Rose e eu vamos procurar
nômades.”
“Você vai ficar com as mãos cheias por aqui”, Carlisle disse. “A família de
Tanya estará aqui pela manhã, e eles nem fazem idéia do por quê. Primeiro,
precisamos persuadi-los a não reagir da forma que Irina reagiu. Segundo, você
precisa arranjar um jeito de descobrir o que Alice quis dizer sobre Eleazar.
Então, depois de tudo isso, será que eles vão ficar por nós? Vamos começar
novamente quando outros vierem – se conseguirmos persuadir alguém a vir
para começo de história.” Carlisle suspirou. “O seu trabalho pode ser o mais
difícil. Voltaremos para ajudar assim que possível.”
Carlisle colocou as mãos sobre os ombros de Edward por um segundo e então
me deu um beijo na testa. Esme abraçou nós dois, e Emmett agarrou nós dois
com um braço só. Rosalie forçou um sorriso rígido para nós dois, e jogou um
beijo para Renesmee, e então fez uma careta de adeus para Jacob.
“Boa sorte”, Edward disse a eles.
“E para vocês”, Carlisle disse. “Todos nós precisaremos.”
Eu os observei ir embora, desejando ter qualquer que fosse a esperança que os
sustentava, e desejando ficar a sós com o computador só por uns segundos. Eu
tinha quem era esse J. Jenks e porque Alice fez tudo isso para deixar o nome
dele só para mim.
Renesmee se mexeu nos braços de Jacob para tocar sua bochecha.
“Eu não sei se os amigos de Carlisle vão vir. Eu espero que sim. Parece que
somos um número bem inferior agora”, Jacob murmurou para Renesmee.
Então ela sabia. Renesmee já havia entendido muito claramente o que estava
acontecendo. A coisa toda de que lobisomens que sofriam impressão davam
tudo o que o objeto de sua impressão queria estava perdendo força bem
rápido. Protege-la não era mais importante do que responder suas perguntas?
Eu olhei cuidadosamente para o rosto dela. Ela não parecia assustada, apenas
ansiosa e muito séria enquanto ela conversava com Jacob em seu jeito
silencioso.
“Não, não podemos ajudar; temos que ficar aqui”, ele continuou. “As pessoas
vêm para ver você, não a paisagem.”
Renesmee fez uma careta pra ele.
“Não, eu não preciso ir a lugar algum”, ele disse para ela. Então ele olhou para
Edward, chocado realização de que ele podia estar enganado. “Preciso?”
Edward hesitou.
“Fala logo”, Jacob falou, sua voz ríspida de tensão. Ele estava em seu limite,
como todos nós.
“Os vampiros que estão vindo nos ajudar não são iguais a nós”, Edward disse.
“A família de Tanya é a única além da nossa em reverência pela vida humana,
e nem mesmo eles gostam muito de lobisomens. Eu acho que seria mais
seguro –”
“Eu posso cuidar de mim mesmo”, Jacob interrompeu.
“É mais seguro para Renesmee”, Edward continuou. “Se a escolha de
acreditarem em nossa história sobre ela não fosse envolvida a uma associação
com lobisomens.”
“Belos amigos. Eles dariam as costas a vocês só por causa das companhias
que vocês tem agora?”
“Eu acho que a maioria deles seria tolerante sob circunstâncias normais. Mas
você precisa compreender – aceitar que Nessie não será uma coisa simples
para nenhum deles. Porque dificultar as coisas mesmo que seja um pouco?”
Carlisle havia explicado as leis sobre crianças imortais para Jacob na noite
passada. “As crianças imortais realmente eram ruins assim?” Ele perguntou.
“Você não pode imaginar as cicatrizes que eles deixaram na mente de todos os
vampiros.”
“Edward...” Ainda era estranho ouvir Jacob usar o nome de Edward sem
amargura.
“Eu sei, Jake. Eu sei que é difícil para você ficar longe dela. Nós vamos fazer
um teste – ver como eles reagem a ela. Em qualquer caso, Nessie terá que
permanecer em segredo pelas próximas semanas. Ela precisará ficar na cabana
até o momento certo de nós apresentarmos ela. Contanto que você mantenha
uma distância segura da casa principal...”
“Eu posso fazer isso. Companhia pela manhã, huh?”
“Sim. Seus amigos mais próximos. Nesse caso em particular, será melhor se
esclarecermos as coisas o mais rápido possível. Você pode ficar aqui. Ela sabe
sobre você. Ela até já conheceu Seth.”
“Certo.”
“Você devia contar ao Sam o que está acontecendo. Pode haver estranhos na
floresta logo em breve.”
“Bem pensado. Eu achei que devia um pouco de silêncio a ele pela noite
passada.”
“Escutar Alice geralmente é a coisa certa.”
Jacob apertou seus dentes, como se dividisse os sentimentos de Sam sobre o
que Alice e Jasper haviam feito.
Enquanto eles estavam conversando, eu vaguei em direção às janelas do
fundo, tentando parecer distraída e ansiosa. Não era uma coisa muito difícil de
fazer. Eu encostei minha cabeça na janela de vidro que se afastava da sala de
estar, indo para a sala de jantar, bem perto de uma das mesas de computador.
Eu passei os dedos correndo pelas teclas, tentando fazer parecer um gesto
totalmente ausente. Será que vampiros faziam coisas ausentes? Eu não achava
que alguém estava prestando atenção particular em mim, mas não me virei pra
ter certeza. O monitor de acendeu. Eu passei os dedos nas teclas novamente.
Então bati os dedos muito baixinho na mesa de madeira, só para parecer
randômica. Outra batida nas teclas.
Eu observei a tela com minha visão periférica.
Não havia nenhum J. Jenks, mas havia um Jason Jenks. Um advogado. Eu
alisei o teclado, tentando manter um ritmo, como alisar preocupadamente um
gato que você simplesmente tinha esquecido em seu colo. Jason Jenks tinha
um site chique para a sua firma, mas o endereço na homepage estava errado.
Em Seattle, mas com um código postal errado. Eu notei o número e então
alisei o teclado mantendo o ritmo. Dessa vez eu procurei pelo endereço, mas
nada apareceu, como se o endereço não existisse. Eu queria olhar um mapa,
mas eu decidi que estava abusando da sorte. Só mais uma alisada, para deletar
a história...
Eu continuei a olhar pela janela e alisei a madeira algumas vezes. Eu ouvi
passos leves cruzando o chão vindo para mim, e eu me virei com o que eu
esperava ser a mesma expressão de antes.
Renesmee se inclinou para mim e eu abri os braços. Ela se lançou para dentro
deles, cheirando forte a lobisomem, e descansou a cabeça no meu pescoço.
Eu não sabia se podia agüentar isso. Mesmo temendo pela minha vida, pela de
Edward, pela do resto da minha família, não era o mesmo terror que
embrulhava o estômago que eu sentia pela minha filha. Tinha de haver uma
forma de salva-la, mesmo se essa fosse a última coisa que eu fizesse.
De repente, eu soube que era isso o que eu queria. O resto eu agüentaria de
tivesse que agüentar, mas não a vida dela ser ceifada. Não isso. Ela era a única
coisa que eu simplesmente tinha que salvar.
Será que Alice sabia como eu me sentiria?
A mão de Renesmee tocou levemente minha bochecha.
Ela mostrou meu próprio rosto, o de Edward, o de Jacob, o de Rosalie, o de
Esme, o de Carlisle, o de Alice, o de Jasper, passando por todos os rostos da
família, mais e mais rápido. Seth e Leah. Charlie, Sue e Billy. Uma vez e mais
outra. Se preocupando, como o resto de nós. Mas ela estava apenas se
preocupando. Jake havia escondido o pior dela, até onde eu sabia. A parte
sobre nós não termos esperanças, sobre como nós íamos morrer dentro de um
mês.
Ela parou no rosto de Alice, com saudade e confusa. Onde estava Alice?
“Eu não sei”, eu sussurrei. “Mas ela é Alice. Ela está fazendo a coisa certa,
como sempre.”
A coisa certa para Alice, pelo menos. Eu odiava pensar nela dessa forma, mas
de que outra forma essa situação podia ser entendida?
Renesmee suspirou, e a saudade aumentou.
“Eu também sinto falta dela.”
Eu senti meu rosto trabalhando, tentando encontrar a expressão que
combinava com o pesar que havia por dentro. Meus olhos pareciam estranhos
e secos; eles piscaram pela sensação desconfortável. Eu mordi o lábio. Na
próxima vez que eu respirei, o ar se prendeu em minha garganta, como se eu
estivesse engasgada com ele. Renesmee se afastou para olhar para mim, e eu
vi meu rosto refletido em seus pensamentos e em seus olhos.
Eu parecia com Esme essa manhã.
Então chorar era assim.
Os olhos de Renesmee brilharam molhados enquanto ela olhava meu rosto.
Ela alisou meu rosto, sem me mostrar nada, só tentando me acalmar. Eu nunca
pensei que veria o laço mãe-filha reservado para nós, como acontecia entre
Renee e eu. Mas eu não tinha visto o futuro muito claramente.
Uma lágrima se construiu no canto do olho de Renesmee. Eu a limpei com um
beijo. Ela tocou o olho, assombrada, e então olhou a umidade em seu dedo.
“Não chore”, eu disse a ela. “Tudo vai ficar bem. Você vai ficar bem. Eu vou
encontrar uma forma de sair disso.”
Se não houvesse mais nada que eu pudesse fazer, eu ainda ia salvar Renesmee.
Eu tinha mais certeza que nunca de que era isso que Alice queria me dar. Ela
saberia. Ela teria me deixado uma forma de fazer isso.

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