39. O final feliz

“Então houve uma combinação de coisas lá no final, mas o que realmente
pegou fogo foi... Bella”, Edward estava explicando.
Nossa família e os dois convidados que restaram na grande sala dos Cullen
enquanto a floresta ficava escura do lado de fora das grandes janelas.
Vladimir e Stefan sumiram antes que acabássemos de celebrar. Eles estavam
muito decepcionados pela forma como as coisas acabaram, mas Edward disse
que eles gostaram tanto da covardia dos Volturi que isso quase redimiu a
frustração deles.
Benjamin e Tia foram rápidos em seguir Amun e Kebi, ansiosos por deixá-los
saber o desfecho do conflito; eu tinha certeza que os veríamos novamente –
Benjamin e Tia, pelo menos. Nenhum dos nômades ficou por muito tempo.
Peter e Charlotte tiveram uma breve conversa com Jasper, e foram embora
também.
As Amazonas reunidas estavam ansiosas para voltar para casa também – elas
tiveram dificuldades em ficar longe de sua amada floresta – apesar delas
estarem mais relutantes para ir embora do que alguns outros.
“Você deve trazer a criança para me ver”, Zafrina insistiu. “Prometa-me,
jovem.”
Nessie tinha colocado a mão em meu pescoço, implorando também.
“É claro, Zafrina”, eu concordei.
“Seremos grandes amigas, minha Nessie”, a mulher selvagem declarou antes
de ir embora com suas irmãs.
O clã Irlandês continuou o êxodo.
“Muito bem, Siobhan”, Carlisle parabenizou enquanto eles diziam adeus.
“Ah, o poder do pensamento positivo”, ela respondeu sarcasticamente,
revirando os olhos. E então ela ficou séria. “É claro, isso não está acabado. Os
Volturi não vão perdoar o que aconteceu aqui.”
Foi Edward quem respondeu isso.
“Eles foram seriamente abalados; a sua confiança está estremecida. Mas, sim,
eu tenho certeza que eles irão se recuperar do golpe algum dia. E então...” Os
olhos dele estreitaram. “Eu imagino que eles tentarão nos pegar
separadamente.”
“Alice nos avisará quando eles atacarem”, Siobhan disse com uma voz segura.
“E vamos nos juntar novamente. Talvez chegue o tempo em que o nosso
mundo esteja completamente livre dos Volturi.”
“Esse dia pode chegar”, Carlisle replicou. “Se chegar, estaremos juntos.”
“Sim, meu amigo, estaremos”, Siobhan concordou. “E como poderemos falhar
quando eu quero o contrário?” Ela deixou escapar uma risada alta.
“Exatamente”, Carlisle disse. Ele e Siobhan se abraçaram, e então ele
balançou a mão de Liam. “Tente encontrar Alistair e dizer o que aconteceu.
Eu odiaria pensar nele escondido embaixo de uma pedra pela próxima
década.”
Siobhan riu de novo. Maggie abraçou Nessie e eu, e então o clã Irlandês se foi.
Os Denali foram os últimos a partir, Garrett com eles – como estaria de agora
em diante, eu tinha certeza. A atmosfera de celebração era demais para Tanya
e Kate. Elas precisavam ficar de luto por sua irmã perdida.
Huilen e Nahuel foram os únicos a ficar, apesar de eu ter achado que esses
dois iriam embora com as Amazonas. Carlisle estava profundamente fascinado
numa conversa com Huilen; Nahuel estava sentado atrás dela, escutando
Edward contar o resto da história sobre nosso conflito como só ele sabia.
“Alice deu à Aro a desculpa que ele precisava para escapar da luta. Se ele não
estivesse tão aterrorizado de medo de Bella, ele provavelmente teria ido em
frente com seu plano original.”
“Aterrorizado?” Eu disse ceticamente. “Por mim?”
Ele sorriu para mim com uma cara que eu não reconhecia inteiramente – era
carinhosa, mas também surpresa e até exasperada.
“Quando você vai se ver claramente?” ele perguntou suavemente. Então ele
falou mais alto, para os outros e para mim também. “Os Volturi não lutam
uma luta justa há cerca de dois mil e quinhentos anos. E eles nunca, nunca
lutaram numa em que eles estivessem em desvantagem. Especialmente desde
que eles ganharam Jane e Alec, eles só se envolveram em assassinatos sem
oponentes.
“Vocês deviam ver como nós parecíamos para eles! Geralmente, Alec corta
todo o sentido e sentimento de suas vítimas enquanto eles passam pela charada
do conselho. Dessa forma, ninguém pode correr quando é dada a sentença.
Mas lá estávamos nós, prontos, esperando, em número maior que o deles, com
nossos próprios dons enquanto os dons deles eram tornados inúteis por Bella.
Aro sabia que com Zafrina ao nosso lado, os cegos seriam eles quando a
batalha começasse. Eu tenho certeza que o nosso número seria severamente
dizimado, mas eles tinham certeza que o deles também seria. Havia até uma
possibilidade deles perderem. Eles nunca tiveram que lidar com essa
possibilidade antes. Hoje eles não lidaram bem com isso.”
“É difícil se sentir confiante estando cercado de lobos do tamanho de
cavalos”, Emmett riu, dando um murro no braço de Jake.
Jacob deu um sorriso para ele.
“Foram os lobos que os pararam para começo de história”, eu disse.
“Com certeza foram”, Jacob concordou.
“Absolutamente”, Edward concordou. “Isso foi outra coisa que eles nunca
viram. Verdadeiras Crianças da Lua raramente andam em bandos, e eles nunca
tem muito controles sobre si mesmos. Dezesseis lobos arregimentados foram
uma surpresa que eles não esperavam. Caius na verdade morre de medo de
lobos. Ele quase perdeu uma luta contra um há uns milhares de anos atrás e
nunca esqueceu.”
“Então existem lobisomens de verdade?” Eu perguntei. “Com luz cheia e balas
de prata e isso tudo?”
Jacob bufou. “De verdade. Isso faz de mim imaginário?”
“Você sabe o que eu quero dizer.”
“Lua cheia, sim”, Edward disse. “Balas de prata, não – isso foi só mais um
daqueles mitos que os humanos inventaram para sentir que tinham uma
chance de vitória. Já não restam muitos deles. Caius fez que os caçassem até a
quase extinção.”
“E você nunca mencionou isso porque...?”
“O assunto nunca apareceu.”
Eu rolei os olhos, e Alice riu, se inclinando para frente – ela estava enfiada
debaixo do outro braço de Edward – para piscar para mim.
Eu encarei de volta.
Eu a amava insanamente, é claro. Mas agora que eu tinha uma chance de me
dar conta de que ela realmente estava em casa, de que a fuga dela foi apenas
um ardil porque Edward tinha que acreditar que ela havia nos abandonado, eu
estava começando a me sentir bastante irritada com ela. Alice tinha umas
explicações para dar.
Alice suspirou. “Tire isso do seu peito, Bella.”
“Como você pôde fazer isso comigo, Alice?”
“Foi necessário.”
“Necessário!” Eu explodi. “Você me deixou totalmente convencida de que
todos íamos morrer! Eu fiquei um caco por semanas!”
“Podia ter sido dessa forma”, ela disse calmamente. “Nesse caso você
precisava estar preparada para salvar Nessie.”
Instintivamente, eu abracei Nessie – agora adormecida no meu colo – com
mais força em meus braços.
“Mas você também sabia que havia outras formas”, eu acusei. “Você sabia
que havia esperança. Será que te ocorreu que você poderia ter me contado
tudo? Eu sei que Edward tinha que pensar que era o fim da linha por causa de
Aro, mas você podia ter contado a mim.”
Ela olhou especulativamente para mim por um momento. “Eu acho que não”,
ela disse. “Você simplesmente não é uma atriz tão boa.”
“O que isso tem a ver com as minhas habilidades em atuação?”
“Oh, Bella, abaixa um pouco o tom. Você tem idéia de como foi complicado
arrumar isso tudo? Eu nem podia ter certeza de que Nahuel existia – tudo que
eu sabia era que eu estaria procurando uma coisa que eu não conseguia ver!
Tente imaginar procurar um ponto cego – não é a coisa mais fácil que eu já
fiz. Além do mais, precisávamos mandar de volta as testemunhas mais
importantes, como se já não estivéssemos com pressa suficiente. E então
manter os olhos abertos o tempo todo para o caso de vocês decidirem me
mandar mais instruções. Em algum ponto você vai ter que me contar
exatamente o que há no Rio. Antes disso tudo, e tinha que tentar ver os
truques que os Volturi podiam inventar e dar a vocês as pequenas pistas que
podia sobre a estratégias deles, e eu tinha apenas algumas horas para traçar as
possibilidades. Acima de tudo, eu tinha que ter certeza de que vocês todos
acreditassem que eu os havia abandonado, porque Aro tinha que ter certeza de
que vocês não tinham mais nada escondido na manga, ou ele não teria se
comprometido do jeito que fez. E se você acha que eu não me senti uma
babaca ...”
“Okay, okay!” Eu interrompi. “Desculpa! Eu sei que foi difícil para você
também. É só que... bem, eu senti sua falta feito louca, Alice. Não faça isso
comigo de novo.”
A risada alegre de Alice ecoou pela sala, e todos nós sorrimos ao ouvir aquela
música de novo. “Eu senti sua falta também, Bella. Então me perdoe, e tente
se contentar em ser a super-heroína do dia.”
Agora todo mundo riu, e eu escondi meu rosto no cabelo de Nessie,
envergonhada.
Edward voltou a analisar todas as mudanças de intenção e controle que
aconteceram na clareira hoje, declarando que foi o meu escudo que fez os
Volturi correrem com os rabos entre as pernas. O jeito que todo mundo olhou
para mim me fez sentir desconfortável. Até Edward. Edward como se eu
tivesse crescido cem metros no curso da manhã. Eu tentei ignorar seus olhares
impressionados, mantendo meus olhos no rosto de Nessie e na expressão de
Jacob que não havia mudado. Para ele eu seria só Bella, e isso era um alívio
para mim.
O olhar mais difícil de ignorar também era o que mais me confundia.
Eu não era como essa meio-humana, meio-vampira como Nahuel havia se
acostumado a pensar em mim. Até onde ele sabia, eu saía por aí detendo
ataques de vampiros todos os dias e a cena de hoje não era nada incomum.
Mas o rapaz nunca tirou os olhos de mim. Ou talvez ele estivesse olhando para
Nessie. Isso também me deixou desconfortável.
Ele não podia estar inconsciente do fato de que Nessie era a única fêmea de
sua espécie que não era sua meia irmã.
Eu não achava que essa idéia já tinha ocorrido a Jacob. Eu meio que esperava
que não ocorresse tão logo. Eu já tive brigas suficientes por algum tempo.
Eventualmente, os outros ficaram sem perguntas para Edward, e a discussão
se dissolveu em um monte de conversas menores.
Eu me senti estranhamente cansada. Não sonolenta, é claro, mas exatamente
como se o dia tivesse sido longo o suficiente. Eu queria um pouco de paz, um
pouco de normalidade. Eu queria Nessie na cama dela; queria as paredes da
minha própria casinha ao meu redor.
Eu olhei para Edward e por um momento senti que consegui ler a mente dele.
Eu podia ver que ele se sentia da mesma forma. Pronto para um pouco de paz.
“Devemos levar Nessie...”
“Essa provavelmente é uma boa idéia”, ele concordou rapidamente. “Eu tenho
certeza que ela não dormiu bem noite passada, com todos aqueles roncos.”
Ele sorriu para Jacob.
Jacob revirou os olhos e então bocejou. “Já faz um tempo que eu não durmo
numa cama. Eu aposto que meu pai vai ficar vem feliz por me ter embaixo do
teto dele de novo.”
Eu toquei a bochecha dele. “Obrigada, Jacob.”
“Quando quiser, Bella. Mas você já sabe disso.”
Ele levantou, se esticou, e beijou o topo da cabeça de Nessie, e depois o topo
da minha. Finalmente, ele deu um murro no ombro de Edward. “Vejo vocês
amanhã, pessoal. Eu acho que as coisas vão ficar bem tediosas agora, não
vão?”
“Eu espero fervorosamente que sim”, Edward disse.
Nós levantamos quando ele foi embora; eu equilibrei meu peso
cuidadosamente para que Nessie não fosse balançada. Eu estava
profundamente agradecida por vê-la dormindo tão profundamente. Tanto peso
havia sido colocado em seus pequenos ombros. Estava na hora dela conseguir
ser criança de novo – protegida e segura. Mais alguns anos de infância.
A idéia de paz e segurança me lembrou de alguém que não sentia isso o tempo
todo.
“Oh, Jasper?” Eu perguntei enquanto nos virávamos para a porta.
Jasper estava esmagado entre Alice e Esme, de alguma forma parecendo mais
adequado à imagem da família que o normal.
“Sim, Bella?”
“Eu estou curiosa – porque J. Jenks fica rígido de medo só de ouvir o seu
nome?”
Jasper gargalhou. “Foi só por causa da minha experiência que alguns
relacionamentos de trabalho são mais motivados pelo medo do que pelo ganho
monetário.”
Eu fiz uma careta, prometendo a mim mesma que ia tomar a frente desses
relacionamentos de negócios de agora em diante e poupar J. Jenks do ataque
do coração que com certeza já estava a caminho.
Nós fomos beijados, abraçados e nossa família nos desejou boa noite. A única
coisa estranha foi Nahuel, que ficou olhando atentamente para nós, como se
quisesse poder nos seguir.
Quando estávamos do outro lado do rio, nós andamos apenas um pouco mais
rápido que a velocidade dos humanos, sem pressa, de mãos dadas. Eu estava
cansada de me sentir no fim da linha, e eu só queria passar o tempo. Edward
devia sentir o mesmo.
“Eu devo dizer, estou completamente impressionado com Jacob agora”,
Edward me disse.“Os lobos causam um grande impacto, não é?”
“Não foi isso que eu quis dizer. Nenhuma vez hoje ele pensou no fato de que,
de acordo com Nahuel, Nessie será complemente madura em seis anos e
meio.”
Eu considerei isso por um minuto. “Ele não a vê desse jeito. Ele não tem
pressa para que ela cresça. Ele só quer que ela seja feliz.”
“Eu sei. Como eu disse, impressionante. Dizer isso vai contra a correnteza,
mas ela podia escolher coisa pior.”
Eu fiz uma careta. “Eu não vou pensar nisso por mais aproximadamente seis
anos e meio.”
Edward riu e então suspirou. “É claro, parece que ele vai ter um pouco de
competição com que se preocupar quando o momento chegar.”
Minha careta se intensificou. “Eu percebi. Eu estou agradecida a Nahuel por
hoje, mas aquela observação toda foi meio estranha. Não me importa se ela é a
única meio vampira que não é parente dele.”
“Oh, ele não estava olhando pra ela – ele estava olhando para você.”
Isso era o que parecia... Mas isso não fazia sentido.
“Porque ele faria isso?”
“Porque você está viva”, ele disse baixinho.
“Eu me perdi.”
“Toda a vida dele”, ele explicou, “- e ele é cinqüenta anos mais velho que
eu...”
“Decrépito”, eu inseri.
Ele me ignorou. “Ele sempre pensou em si mesmo como uma criação
maléfica, um assassino por natureza. Todas as suas irmãs mataram suas mães
também, mas elas não acharam nada disso. Joham as criou para pensar nos
humanos como animais, enquanto eles eram deuses. Mais Nahuel foi ensinado
por Huilen, e Huilen amava sua irmã mais do que a ninguém mais. Isso
definiu toda a perspectiva dele e de algumas formas, ele sinceramente se
odiava.”
“Isso é tão triste”, eu sussurrei.
“E então ele viu nós três – e ele se deu conta pela primeira vez que só porque
ele é meio mortal, isso não significa que ele herdou o mau. Ele olha pra mim e
vê... o que seu pai devia ter sido.”
“Você é realmente ideal em todos os sentidos.”
Ele bufou e ficou sério de novo. “Ele olha para você e vê a vida que sua mãe
devia ter tido.”
“Pobre Nahuel”, eu murmurei, e então suspirei porque eu sabia que nunca
mais ia conseguir pensar mal dele depois disso, não importava o quanto os
olhares dele me deixassem desconfortável.
“Não fique triste por ele. Ele está feliz agora. Hoje, ele finalmente começou a
se perdoar.”
Eu sorri pela felicidade de Nahuel, e então pensei que o dia de hoje pertencia à
felicidade. Apesar do sacrifício de Irina ser uma sombra escura contra a luz
branca, evitando que o momento fosse perfeito, a alegria era impossível de
negar. A vida pela qual eu lutei estava a salvo de novo. Minha família estava
reunida. Minha filha tinha um futuro se esticando sem fim à sua frente.
Amanhã eu ia ver meu pai, ele veria que o medo nos meus olhos havia sido
substituído por alegria, e ele ficaria feliz também. De repente, eu tive certeza
que não o encontraria lá sozinho. Eu não fui tão observadora quanto podia ter
sido nas últimas semanas, mas nesse momento era como se eu soubesse o
tempo todo que Sue estaria com Charlie – a mãe do lobisomem com o pai da
vampira – e ele não estaria mais sozinho. Eu sorri largamente com esse novo
insight.
Mas a onda mais significante dessa maré de felicidade era o fato mais certo:
Eu estava com Edward. Para sempre.
Não que eu quisesse repetir as últimas semanas, mas eu tinha que admitir que
isso me fez apreciar mais que nunca o que tenho.
A cabana era um lugar de perfeita paz na noite azul prateada. Nós carregamos
Nessie para a sua cama e a deitamos gentilmente. Ela sorriu enquanto dormia.
Eu tirei o presente de Aro para mim do pescoço e o atirei num canto do quarto
dela. Ela brincaria com ele se quisesse; ela gostava de coisas brilhantes.
Edward e eu caminhamos lentamente para fora do quarto, passando os braços
ao redor um do outro.
“Uma noite para comemorações”, ele murmurou, e ele colocou a mão
embaixo do meu queixo para erguer meus lábios aos dele.
“Espere”, eu hesitei, me afastando.
Ele olhou para mim confuso. Como regra geral, eu não me afastava. Okay, era
mais que uma regra geral. Essa era a primeira vez.
“Eu quero tentar uma coisa”, eu o informei, sorrindo um pouco da expressão
desnorteada dele.
Eu coloquei minhas mãos nos lados do rosto dele e fechei os olhos com
concentração.
Eu não fiz isso muito bem quando Zafrina tentou me ensinar antes, mas eu
sabia que meu escudo estava melhor agora. Eu entendi a parte que havia
lutado contra a separação de mim, o instinto automático de se auto-proteger
acima de tudo.
Ainda não era nem de perto tão fácil quanto proteger outras pessoas comigo
mesma. Eu senti o elástico recuar novamente enquanto o escudo lutava para
me proteger. Eu tive que me esforçar para afastá-lo inteiramente de mim; todo
meu foco foi necessário.
“Bella!” Edward murmurou chocado.
Então eu soube que estava funcionando, então eu me concentrei ainda mais,
trazendo à tona as memórias especiais que eu havia guardado para esse
momento, deixando-as fluírem em meu pensamento, e com alguma sorte as
dele também.
Algumas das memórias não eram claras – memórias humanas nubladas, vistas
através de olhos fracos e ouvida por ouvidos fracos: a primeira vez que eu vi o
rosto dele... O jeito que eu me senti quando ele me abraçou na clareira... O
som da sua voz na escuridão da minha consciência que ia embora quando ele
me salvou de James... O rosto dele enquanto ele esperava embaixo de um
berço de flores para casar comigo... Todos os momentos preciosos na ilha...
Suas mãos frias tocando o nosso bebê pela minha pele...
E as memórias penetrantes, perfeitamente lembradas: seu rosto quando eu abri
meus olhos para minha nova vida, o amanhecer sem fim da imortalidade...
Aquele beijo... Aquela primeira noite...
Seus lábios, repentinamente ferozes sobre os meus, quebraram minha
concentração.
Com um resfôlego, eu perdi o controle do peso relutante que eu estava
segurando longe de mim mesma. Ele bateu de volta como um elástico
repuxado, protegendo meus pensamentos de novo.
“Oops, perdi!” eu suspirei.
“Eu ouvi você”, ele respirou. “Como? Como você fez isso?”
“Idéia de Zafrina. Nós praticamos algumas vezes.”
Ele estava deslumbrado. Ele piscou duas vezes e balançou a cabeça.
“Agora você sabe”, eu disse levemente, e ergui os ombros. “Ninguém jamais
amou alguém tanto quanto eu amo você.”
“Você está quase certa.” Ele sorriu, e seus olhos ainda estavam um pouco
mais arregalados que o normal. “Eu só sei de uma exceção.”
“Mentiroso.”
Ele começou a me beijar de novo, mas aí parou abruptamente.
“Você consegue fazer de novo?” ele se perguntou.
Eu fiz uma careta. “É muito difícil.”
Ele esperou, sua expressão ansiosa.
“Eu não consigo manter se estiver mesmo que seja um pouco distraída”, eu o
avisei.
“Eu serei bonzinho”, ele prometeu.
Eu entortei os lábios, meus olhos estreitando. Então eu sorri.
Eu pressionei minhas mãos ao rosto dele de novo, expulsei o escudo da minha
mente, e então comecei exatamente de onde eu havia parado – com a memória
clara feito cristal da primeira noite da minha vida... Prendendo-me aos
detalhes.
Eu ri sem fôlego quando o beijo urgente dele interrompeu meus esforços de
novo.
“Maldição”, ele rugiu, beijando esfomeadamente a linha da minha mandíbula.
“Temos bastante tempo para trabalhar nisso”, eu o lembrei.
“Para sempre e para sempre e para sempre”, ele murmurou.
“Isso parece exatamente certo para mim.”
E então nós continuamos em êxtase nesse pequeno mas perfeito pedaço do
nosso para sempre.

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