Um segundo depois estávamos em movimento. Eu ainda não sabia se descendo ou subindo. Mas realmente não importava. O fato era que estávamos em movimento, indo para longe do Sr. Beaumont, e esta era a única coisa que me importava.
- Nossa - não pude deixar de falar assim que soube que estava em segurança. - O que há com aquele cara?
Marcus me olhou.
- O Sr. Beaumont machucou você de algum modo, Srta.Simon?
Pisquei os olhos, surpresa. - Não.
- Fico muito feliz em saber. - Marcus pareceu um pouco aliviado, mas tentou disfarçar isso por trás de uma aparência profissional. - O Sr. Beaumont está um pouco cansado esta noite. Ele é um homem muito importante, muito ocupado.
- Odeio ser eu a lhe dizer, mas aquele cara não está somente cansado.
- Pode ser. O Sr. Beaumont não tem tempo para garotinhas que gostam de pregar peças.
- Peças? - ecoei, ligeiramente ofendida. - Escuta, moço, eu realmente... - O que eu estava dizendo? - Eu realmente...é... tive aquele sonho, e não gosto... Marcus me olhou, cansado.
- Srta. Simon - disse ele em voz entediada. - Eu realmente não quero ter de ligar para os seus pais. E se você prometer que não vai incomodar o Sr. Beaumont nunca mais com essa coisa de sonhos paranormais, eu não ligo.
Quase ri disso em voz alta. Meus pais? Eu estava preocupada com a hipótese de ele chamar a polícia. De meus pais eu podia cuidar. A polícia era uma coisa totalmente diferente.
Ah - falei quando o elevador parou e Marcus abriu a porta e deixou que eu recuasse para o pequeno corredor que saía do pátio onde havia a piscina. - Certo. – Tentei colocar um bocado de desapontamento petulante na voz.
- Prometo.
Obrigado.
Marcus assentiu, depois começou a andar comigo até a porta da frente.
Ele provavelmente teria me chutado para fora sem pensar duas vezes, não fosse o fato de que estávamos passando pela piscina e por acaso eu notei alguém nadando nela. A princípio não dava para ver quem era. Estava realmente escuro, o céu noturno sem lua e sem estrelas por causa de uma grossa camada de nuvens, e as únicas luzes eram as grandes e redondas debaixo d'água. Elas faziam a pessoa na piscina parecer toda distorcida - meio tipo o rosto do Sr. Beaumont com a luz do aquário.
Mas então o nadador chegou ao fim da piscina, aparentemente tendo terminado os exercícios, saiu dela e pegou uma toalha que tinha jogado numa cadeira.
Congelei.
E não somente porque o tinha reconhecido. Congelei porque, realmente, não é todo dia que você vê um deus grego bem aqui na terra.
Sério. Tad Beaumont de calção de banho era uma coisa linda de se ver. À luz azul da piscina parecia um Adônis, com água brilhando em todo o pêlo escuro que cobria o peito e as pernas. E ainda que seus músculos abdominais não fossem tão impressionantes quanto os de Jesse, bem, pelo menos ele tinha um conjunto de bíceps que compensava muito bem.
- Oi, Tad - falei.
Tad ergueu a cabeça. Estava se enxugando com a toalha. Agora parou e me olhou.
- Ah, ei - disse ele, me reconhecendo. Um grande sorriso se abriu em seu rosto. - É você.
Cee Cee estava certa. Ele nem sabia o meu nome.
É. Suze Simon. Da festa de Kelly Prescott.
Claro, eu lembro. - Tad veio andando até nós, com a toalha pendurada casualmente nos ombros. - Como vai?
Seu sorriso era digno de se ver, vou te contar. Seu pai provavelmente havia pago uma bela grana a algum ortodontista, mas valia cada centavo.
Você conhece esta jovem, Tad? - disse Marcus, com a descrença evidente no tom de voz.
Ah, claro. - Tad parou perto de mim, com a água ainda pingando como diamantes dos pêlos escuros. - A gente se conhece há um tempão.
Bem - disse Marcus. E evidentemente não conseguiu pensar em algo para acrescentar, já que falou de novo. - Bem.
E então, depois de um silêncio incômodo, falou isso uma terceira vez, mas acrescentou:
Então acho que vou deixar vocês dois a sós. Tad, você mostra a saída à Srta. Simon?
Claro - disse Tad. E quando Marcus tinha desaparecido pela porta de vidro deslizante para dentro da casa, ele sussurrou: - Desculpe. Marcus é um cara fantástico, mas vive preocupado demais.
Tendo conhecido o chefe dele, eu não exatamente culparia Marcus por se preocupar. Mas como não podia dizer isso a Tad, só falei:
- Tenho certeza de que ele é bem legal.
E então falei da matéria que estava fazendo para o jornal da escola. Achei que, mesmo que eles discutissem o assunto depois, seu pai não iria dizer: "Ah, não, não foi por isso que ela veio aqui. Ela veio para contar um sonho que teve.”
E mesmo que contasse, o sujeito era tão estranho que duvido que até mesmo o filho acreditasse.
Ahn - disse Tad quando terminei de descrever o artigo sobre as dez pessoas mais influentes de Carmel. - Legal.
É. Eu nem sabia que ele era seu pai. - Meu Deus, como eu cascateio quando entro numa. - Quero dizer, eu nem sabia o seu sobrenome. De modo que foi uma tremenda surpresa. Ei, escuta, posso dar um telefonema? Tenho de armar uma carona para casa.
Tad me olhou cheio de surpresa.
- Precisa de uma carona? Não esquenta. Eu te levo.
Não consegui deixar de olhá-lo de cima a baixo. Quero dizer, ele estava praticamente nu, e coisa e tal. Certo, bem, não exatamente nu, já que estava usando um calção que ia praticamente até os joelhos. Mas para mim estava suficientemente nu a ponto de eu não conseguir olhar para o outro lado.
- Hmm. Obrigada.
Ele acompanhou meu olhar, e olhou para o short pingando.
- Ah - disse ele, com o sorriso lindo ficando maravilhosamente sem graça. - Deixa eu botar uma coisa rapidinho.
Você me espera aqui?
E ele tirou a toalha do pescoço e começou a voltar para a casa...
Mas se imobilizou quando eu ofeguei e disse:
- Ah, meu Deus! O que há de errado com o seu pescoço?
No mesmo instante ele encolheu os ombros e girou para me encarar de novo.
Nada - disse rápido demais.
Certamente há alguma coisa tremendamente errada com ele - falei dando um passo em sua direção. - Você está com alguma horrível...
E então, deixando a frase no ar, olhei para minhas mãos.
Olha - disse Tad em tom desconfortável. - É só sumagre venenoso. Sei que é nojento. Eu estou com isso há uns dois dias. Parece pior do que é. Não sei como peguei isso, especialmente na nuca, mas...
Eu sei.
Levantei as duas mãos. No brilho azul das luzes da piscina, a erupção nelas parecia particularmente grotesca - exatamente como a erupção no pescoço dele.
- Eu tropecei e caí em cima de umas plantas na festa de Kelly. E logo depois disso você me convidou para dançar...
Tad olhou minhas mãos. Então começou a rir.
- Desculpe - falei. Eu realmente me sentia mal. Quero dizer, eu tinha desfigurado o cara. - Sério, você não sabe...
Mas Tad só continuou rindo. E depois de um tempo eu comecei a rir com ele.
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