Senhora O’Leary era a única feliz com a cidade toda adormecida.
Nós a encontramos farejando uma carrocinha de cachorro quente, enquanto o
dono estava deitado na calçada, chupando seu dedo.
Argus estava nos esperando com suas centenas de olhos bem abertos. Ele não
disse nada. Ele nunca dizia. Acho que era por que ele tinha um olho na sua língua.
Mas seu rosto deixava claro que ele estava pirando.
Eu o disse o que tínhamos aprendido no Olimpo e como os deuses não se
apressariam para o resgate. Argus rolou seus olhos com desgosto, o que pareceu
muito psicodélico, uma vez que todo seu corpo rolou.
“É melhor você voltar ao acampamento.” Eu disse a ele. “Proteja ele o
máximo que você puder.”
Ele apontou para mim e levantou sua sobrancelha, debochando.
“Eu vou ficar bem.” Eu disse.
Argus concordou, como se essa resposta o satisfizesse. Ele olhou para
Annabeth e fez um círculo no ar com seu dedo.
“Sim,” Annabeth concordou. “Acho que está na hora.”
“Hora de quê?” Eu perguntei.
Argus voltou-se para sua van. Ele tirou um escudo de bronze e o entregou a
Annabeth. Ele parecia um escudo normal – daqueles que usamos para capturar a
bandeira. Mas quando Annabeth o apoiou no chão, o reflexo do metal polido mudou
entre o céu, prédios e até para a Estátua da Liberdade – lugares que nem estavam
perto de nós.
“Whoa,” Eu disse. “Um escudo vídeo.”
“Uma das idéias de Dédalo.” Annabeth disse. “Eu fiz o Beckendorf fazer
antes que –“ Ela olhou para Selena. “Hum, de qualquer forma, o escudo muda de
acordo com a luz do dia ou a luz da lua de qualquer lugar do mundo para criar um
reflexo. Você pode ver qualquer alvo tanto sobre o sol ou a lua, contanto que uma
luz natural esteja o tocando. Olhe.”
Nós nos aproximamos enquanto Annabeth se concentrava. De primeiro as
imagens mexiam-se, então eu fiquei um pouco enjoado só de ver. Estávamos no
Zoológico do Central Park, depois ela virou para a East 60th, passando pela
Bloomingdale’s, depois virando na Terceira Avenida.
“Whoa,” Connor Stoll disse. “Pra trás. Aproxime bem ali.”
“O quê?” Annabeth disse nervosamente. “Você viu invasores?”
“Não, bem ali – A Doceria do Dylan.” Connor sorriu para seu irmão. “Cara,
está aberta. E todos estão dormindo. Você está pensando no que eu estou
pensando?”
“Connor!” Katie Gardner o repreendeu. Ela pareceu sua mãe, Demeter. “Isso
é sério. Você não vai assaltar uma loja de doces no meio de uma guerra!”
“Desculpa,” Connor murmurou, mas não parecia muito envergonhado.
Annabeth passou sua mão na frente do escudo, e outra cena apareceu: FDR
Drive, passando pelo rio na Lighthouse Park.
“Isso nos mostrará a cidade inteira.” Ela disse. “Obrigado Argus. Espero
poder te ver novamente no acampamento... Algum dia.”
Argus grunhiu. Ele me deu uma olhada que obviamente significava Boa
sorte, pois precisará dela, então ele entrou na van. Ele e as duas harpias motoristas
deram a volta, costurando entre grupos de carros que enchiam a rua.
Eu assoviei para Senhora O’Leary, e ela veio pulando.
“Ei garota!” Eu disse. Você se lembra do Grover? O sátiro que nos achou no
parque?”
“WOOF!”
Esperei que isso significasse Claro que lembro! E não, Você tem mais
cachorros quentes?
“Eu preciso de você para encontrá-lo,” Eu disse. “Certifique-se que ainda
estará acordado. Vamos precisar da ajuda dele. Entendeu? Encontre Grover!”
Senhora O’Leary me deu um beijo lambuzado, que parecia desnecessário. Ela
correu para o norte.
Pollux agachou-se perto de um oficial de polícia adormecido. “Eu não
entendo. Por que não dormimos também? Por que só os mortais?”
“Esse é um ataque muito grande,” Silena Beauregard disse. “O quão maior
for o ataque, mais fácil é de se resistir. Se você quiser fazer milhões de mortais
dormirem, você tem que arremessar uma camada muito fina de mágica. Mas com os
semideuses é bem mais difícil.”
Eu olhei para ela. “Quando que você aprendeu tanto de mágica?”
Silena ficou vermelha. “Eu não passo o tempo todo no meu vestiário.”
“Percy,” Annabeth chamou. Ela ainda estava olhando para o escudo. “Seria
bom você ver isso.”
A imagem no bronze mostrava Long Island Sound perto da Guarda de LA.
Uma frota de lanchas vinha nas águas escuras direto para Manhattan. Cada barco
estava cheio de semideuses em armaduras completas. Na traseira do barco líder, uma
bandeira roxa erguia-se com uma foice preta ondulando com a brisa da noite. Eu
nunca tinha visto aquela bandeira antes, mas não era difícil de imaginar-se de quem
era: A bandeira de batalha de Cronos.
“Façam uma varredura no perímetro da ilha,” Eu disse. “Rápido.”
Annabeth mudou a cena para o porto. A Balsa Staten Island estava arando
perto da Ellis Island. O deque estava cercado de Dracaenae e um bando de Cães
Infernais. Nadando na frente do barco, havia um monte de mamíferos marinhos. De
primeira, pensei que eles fossem golfinhos. Depois eu vi seus rostos de cachorro e
espadas presas à suas cinturas, então percebi que eles eram Telequines – demônios
do mar.
A cena mudou de novo: o litoral de Jersey, bem na entrada do Túnel Lincoln.
Centenas de monstros diferentes estavam marchando pelas ruas do tráfego parado:
gigantes com seus bastões, Ciclopes Trapalhões, alguns Dragões, e só pra dificultar,
uma Segunda Guerra Mundial – um tanque Sherman de época, tirava todos carros do
seu caminho enquanto rumava pelo túnel.
“O que esta acontecendo com os mortais lá fora?” Eu disse. “É o país todo
que está dormindo?”
Annabeth franziu a sobrancelha. “Eu não sei, mas é estranho. O máximo que
posso dizer sobre essas imagens, é que Manhattan inteira está adormecida. E em um
raio de oitenta quilômetros ao redor da ilha, o tempo está passando muito, muito
devagar. O quão mais perto você chega de Manhattan, mas ela fica lenta.”
Ela me mostrou outra cena – Uma estrada de Nova Jersey. Era Sábado à
noite, então o tráfego não estava tão ruim como ele costuma estar em final de
semana. Os motoristas pareciam acordados, mas os carros estavam se movendo um
quilômetro e meio por hora. Pássaros voavam em câmera lenta.
“Cronos,” Eu disse. “Ele está retardando o tempo.”
“Hécate deve estar ajudando.” Katie Gardner disse. “Olhe como os carros
estão se afastando das saídas, como se eles estivessem tendo uma mensagem
subconsciente para dar meia volta.”
“Eu não sei.” Annabeth parecia muito frustrada. Ela odiava não saber. “Mas
de algum jeito eles cercaram Manhattan por um véu mágico. O mundo lá fora nem
deve imaginar que tem algo de errado. Qualquer mortal que viesse para Manhattan
ia ficar tão devagar que eles não saberiam o que estaria acontecendo.”
“Como moscas no âmbar,” Jake Mason murmurou.
Annabeth concordou. “Não deveríamos esperar nenhuma ajuda a caminho.”
Eu me virei para meus amigos. Eles pareciam petrificados e horrorizados, e
eu não podia os culpar. O escudo tinha nos mostrado pelo menos trezentos inimigos
a caminho. E havia quarenta de nós. E estávamos sozinhos.
“Tudo bem,” Eu disse. “Iremos proteger Manhattan.”
Silena mexeu em sua armadura. “Hum, Percy, Manhattan é enorme.”
“Nós iremos proteger ela.” Eu disse. “Temos que protegê-la.”
“Ele está certo,” Annabeth disse. “Os Deuses do vento devem manter as
tropas de Cronos longe do Olimpo pelo ar, então ele tentará uma invasão por solo.
Temos que cercar as entradas para a ilha.”
“Eles têm barcos.” Michael Yew lembrou.
Um formigamento elétrico passou por minhas costas. De repente eu me
lembrei do conselho de Atena: Lembre-se dos rios.
“Eu cuido dos barcos.” Eu disse.
Michael franziu as sobrancelhas. “Como?”
Só deixa comigo.” Eu disse. “Precisamos cercar as pontes e os túneis. Vamos
supor que eles tentem invadir o centro primeiro, pelo menos como sua primeira
tentativa. Seria o melhor caminho para o Edifício Empire State. Michael, leve o
chalé de Apolo para a Ponte de Williamsburg. Katie, leve os do chalé de Demeter
para o Túnel do Brooklyn-Battery. Plante arbustos de espinhos e envenene o túnel.
Faça o que tiverem que fazer, mas os mantenham longe de lá. Connor, leve a metade
do chalé de Hermes e proteja a Ponte do Brooklyn. E nada de parar para roubar ou
saquear!”
“Ahhhh!” O chalé todo de Hermes reclamou.
“Silena, leve o chalé de Afrodite para o Queens – o Metrô.”
“Ai meus Deuses,” uma das irmãs disse. “A Quinta Avenida já é tão nossa!
Nós poderíamos melhorar, e os monstros, tipo, eles odeiam o cheiro de Givenchy.”
“Nada de atrasos,” Eu disse. “E... sobre o negócio do perfume, se você acha
que vai funcionar.”
Seis filhas de Afrodite me beijaram na bochecha de entusiasmo.
“Ok, chega!” Eu fechei meus olhos, tentando me lembrar do que eu tinha
esquecido. “O Túnel Holland. Jake, leve o chalé de Hefesto pra lá. Use o Fogo
Grego, monte armadilhas. Tudo o que você puder.”
O chalé inteiro grunhiu em aprovação.
“A Ponte 59th Street” eu disse. “Clarisse –“
Eu cambaleei. Clarisse não estava aqui. O chalé inteiro de Ares, decisão de
Clarisse, eles estavam sentados no acampamento.”
“Faremos isso,” Annabeth firmou-se, me salvando do silêncio embaraçoso.
Ela virou-se para seus irmãos. “Malcolm, leve o chalé de Atena, com o plano vinte e
três, durante o caminho, igual ao que eu te mostrei. Mantenha posição.”
“Você que manda.”
“Eu irei com Percy,” Ela disse. “Depois eu me junto com vocês, ou iremos
aonde precisarem de nós.”
Alguém no fundo do grupo disse. “Sem desvios, vocês dois.”
Havia alguns risinhos, mas eu resolvi deixar essa passar.
“Tudo bem,” Eu disse. “Mantenham-se com seus celulares.”
“Não temos celulares.” Silena protestou.
Eu me abaixei, peguei um BlackBerry feminino e entreguei a Silena. “Você
tem agora. Todos vocês sabem o número de Annabeth, né? Se vocês precisarem de
nós, pegue um celular e nos ligue. Use-o uma vez, jogue-os fora, e pegue um
emprestado se for necessário. Isso deverá dificultar os monstros de pegar um de
vocês.”
Todos sorriam, conforme eles iam gostando da idéia.
Travis limpou sua garganta. “Hum, se encontrarmos um celular muito legal
mesmo –“
“Não, você não pode pegá-lo.” Eu disse.
“Ah, cara.”
“Calma Percy,” Jake Mason disse. “Você esqueceu do Túnel Lincoln.”
Eu xinguei um pouco. Ele estava certo. Um tanque Sherman e centenas de
monstros estavam marchando por esse túnel neste exato momento, e eu concentrei
nossa força toda em qualquer outro lugar.
Então a voz de uma garota chamou do outro lado da rua: “Que tal você deixar
esse com agente?”
Eu nunca fiquei tão feliz por ouvir alguém em toda minha vida. Um bando de
garotas adolescentes cruzava a Quinta Avenida. Elas estavam vestindo camisas
brancas, calças cinzas camufladas, e botas de luta. Todas tinham espadas em seus
lados, e arcos nas costas, com flechas preparadas. Uma alcatéia de lobos brancos
rodeava seus pés, e muitas das garotas tinham falcões caçadores em seus braços.
A garota na liderança tinha cabelos espetados pretos e uma jaqueta de couro
preta. Ela tinha um arco prateado na cabeça, como se fosse uma tiara de princesa, o
que não combinou com seus brincos de caveira ou sua camisa Morte para Barbie
mostrando uma pequena boneca da Barbie com uma flecha na sua cabeça.
“Thalia!” Annabeth chorou.
A filha de Zeus sorriu. “As caçadoras de Ártemis, informando serviço”.
Havia abraços e cumprimentos por todos os lados... Ou pelo menos Thalia era
amigável. As outras caçadoras não gostavam de estar perto de campistas,
especialmente os garotos, mas elas não atiraram em nenhum de nós, o que pra elas já
era uma grande saudação de boas-vindas.
“Por onde você andou no último ano?” Eu perguntei a Thalia. “Você parece
duas vezes mais com as Caçadoras agora!”
Ela riu. “Longa, longa história. Eu aposto que minhas aventuras foram mais
perigosas do que as suas, Jackson.”
“Uma grande mentira.” Eu disse.
“Veremos,” Ela me garantiu. “Depois que isso acabar, você, annabeth e eu:
cheesburgers e fritas no hotel na West 57th.”
“Le Parker Meridien,” Eu disse. “Você está dentro. E Thalia, obrigado”.
Ela deu de ombros. “Esses monstros nem vão saber o que os atingiu.
Caçadoras, andando”.
Ela tocou no seu bracelete de prata e seu escudo Aegis abriu-se na forma
completa. A cabeça da Medusa de ouro no centro era tão horrível, que todos os
campistas se afastaram. As Caçadoras desceram a avenida, seguidas por seus lobos e
falcões, e eu tinha a sensação que o Túnel Lincoln estava a salvo por enquanto.
“Graças aos deuses,” Annabeth disse. “Mas se não conseguirmos bloquear os
rios destes barcos, os guardas das pontes e túneis serão inúteis”.
“Você tem razão,” Eu disse.
Olhei para os campistas, todos estavam sorrindo e determinados. Eu tentei
não me sentir como se essa fosse a última vez que eu os fosse ver todos juntos.
“Vocês são os maiores heróis do milênio.” Eu disse a eles. “Não importa
quantos monstros venham até você. Lutem bravamente, e venceremos.” Eu levei
Contracorrente e gritei. “Pelo Olimpo!”
Eles gritaram em resposta, e nossas quarenta vozes ecoaram pelos prédios do
Centro. Por um momento soou como bravura, mas rapidamente sumiu no silêncio de
dez milhões de pessoas em Nova Iorque.
Annabeth e eu não tínhamos escolhido nossos carros, mas eles estavam
presos pára-choque por pára-choque no trânsito. Nenhuma das engrenagens estava
funcionando, o que era estranho. Era como se os motoristas tivessem tido tempo de
desligar a ignição antes de eles pegarem no sono. Ou talvez Morfeu tivesse o poder
de pôr as ignições para dormir também. A maioria dos motoristas tinha tentado
puxar o freio antes de terem dormido, mas mesmo assim as estradas ainda eram
muito cheias para andar.
Finalmente encontramos um mensageiro encostado na parede de tijolos, ainda
escarranchando-se em sua Vespa vermelha. Nós o descemos da scooter e o
colocamos na calçada.
“Foi mal, cara,” Eu disse. Com alguma sorte eu conseguiria trazer essa
scooter a vida. E se eu não conseguisse, isso importaria muito, pois a cidade seria
destruída.
Eu dirigi com Annabeth atrás de mim, segurando-me pela cintura. Nós
ziguezagueamos pela Broadway com nossas engrenagens zunindo pela calma
estranha. Os únicos sons eram os celulares tocando de vez enquanto – como se eles
tivessem ligando para cada um, como se Nova Iorque fosse uma viveiro eletrônico
gigante.
Nosso progresso estava devagar. Freqüentemente passávamos por pedestres
que tinham adormecido na frente do carro, e os mudamos só por precaução. Uma
vez nós paramos para apagar o cartaz de uma loja de rosquinhas que tinha pegado
fogo. Poucos minutos depois, tivemos que resgatar um carrinho de bebê que estava
descendo rua abaixo sem controle. Então vimos que não tinha nenhum bebê dentro –
só o poodle de alguém. Vá entender. Nós o prendemos seguramente numa porta e
continuamos a correr com a moto.
Estávamos passando pelo Madison Square Garden quando Annabeth disse,
“Encoste.”
Eu parei no meio da East 23rd. Annabeth pulou e correu para o parque.
Quando eu a alcancei, ela estava olhando uma estátua de bronze em um pedestal de
mármore vermelho. Eu passei por aqui umas mil vezes e nunca tinha notado.
O cara estava sentado numa cadeira com suas pernas cruzadas. Ele vestia um
terno antigo – Estilo de Abraham Lincoln – com uma gravata borboleta, um palitó e
essas coisas. Um monte de livros estava entulhado embaixo de sua cadeira. Ele
segurava uma pena de escrita em uma mão e uma chapa de metal com pergaminhos
na outra.
“Por que nos importar sobre...” Eu apertei os olhos para ver o nome no
pedestal. “William H. Steward?”
“Seward,” Annabeth corrigiu. “Ele foi um governador de Nova Iorque. Um
semideus insignificante – filho de Hebe, eu acho. Mas isso não é importante. A
estátua que importa.”
Ela subiu no banco do parque e examinou a base da estátua.
“Não me diga que é um autômato ,” Eu disse.
Annabeth sorriu. “A maioria das estátuas da cidade são autômatos. Dédalo os
plantou aqui, no caso dele precisar de um exército.”
“Para atacar o Olimpo ou defendê-lo?”
Annabeth franziu a testa. “Ambos. Esse era o plano vinte e três. Ele poderia
ativar uma estátua e todas as estátuas da cidade seriam ativadas, até formar-se um
exército. Embora seja perigoso. Você sabe o quão imprevisíveis os autômatos são.”
“Aham.” Eu disse. Nós tivemos nossa parte de más experiências com eles.
“Você realmente está pensando em ativá-los?”
“Eu tenho as anotações de Dédalo,” Ela disse. “Eu acho que posso... Ah,
vamos lá.”
Ela pressionou o botão de Seward, e a estátua levantou-se, com a sua pena e
papel a mão.
“O que ele vai fazer?” Eu murmurei. “Fazer um memorando?”
“Shh,” Annabeth. “Olá, William.”
“Bill,” Eu sugeri.
“Bill... Ah cala a boca.” Annabeth me disse. “A estátua inclinou sua cabeça,
olhando para nós com olhos de metal azuis.
Annabeth limpou sua garganta. “Olá, er, Governador Seward. Seqüência de
comando: Dédalo Vinte Três. Defender Manhattan. Começar ativação.”
Seward pulou de seu pedestal. Ele caiu tão forte no chão, que seus sapatos
racharam a calçada. Depois ele saiu correndo para o oeste.
“Ele provavelmente vai acordar Confucius,” Annabeth supôs.
“O quê?” Eu disse.
“Outra estátua, na Divisa. O negócio é que eles continuarão acordando um ao
outro até todos estiverem ativados”.
“E depois?”
“Espero que eles defendam Manhattan.”
“Eles sabem que nós não somos os inimigos?”
“Eu acho que sim.”
“Isso é bem animador.” Pensei em todas as estátuas de bronze nos parques,
plazas, e prédios de Nova Iorque. Devia ter centenas, talvez milhares.
Então uma bola de um brilho verde explodiu no céu da noite. Fogo Grego, em
algum lugar no East River.
“Bem, teremos que nos apressar.” Eu disse. E corremos com a Vespa.
Estacionamos do lado de fora da Battery Park, na parte mais baixa de
Manhattan onde o Hudson e East Rivers se encontravam na baía.
“Espere aqui,” Eu disse a Annabeth.
“Percy, você não deveria ir sozinho.”
“Bem, ao menos que você respire debaixo d’água...”
Ela suspirou. “Às vezes você é tão irritante.”
“Igual a quando estou certo? Acredite em mim, eu ficarei bem. Eu tenho a
maldição de Aquiles agora. Eu sou essas coisas de invencível e tal.”
Annabeth não pareceu convencida. “Só cuide-se. Não quero que nada
aconteça com você. Digo, por que precisamos de você para batalha.”
Eu sorri. “De volta em um flash.”
Eu desci pela costa e pulei na água.
Pra vocês, os que não são deuses da água, não saiam nadando pelo Porto de
Nova Iorque. Ele não era tão imundo na época da minha mãe, mas aquela água
provavelmente faria crescer um novo olho em você ou ter filhos mutantes quando
crescer.
Eu mergulhei na escuridão, nadando para o fundo. Eu tentei achar o ponto em
que as duas correntes dos rios pareciam iguais – onde eles se tocavam para formar a
baía. Eu imaginei que essa era o melhor lugar para se conseguir a informação.
“EI!” eu gritei em minha melhor voz debaixo d’água. O som ecoou na
escuridão. “Eu ouvi dizer que vocês são tão poluídos que têm vergonha de mostrar
suas caras. É verdade?”
Uma corrente fria chegou pela baía, trazendo lixo e lodo.
“Eu ouvi que o East River é o mais tóxico.” Eu continuei. “Mas o Hudson
cheira pior. Ou tem outro tipo por perto?”
A água brilhou. Alguma coisa poderosa e irritada estava me observando
agora. Eu podia sentir sua presença... Ou talvez duas presenças.
Estava com medo de ter calculado mal os insultos. Como que eles iam me
destruir sem aparecer? Mas esses eram os deuses dos rios de Nova Iorque. Eu
imaginei que seu instinto seria quebrar minha cara.
De fato, duas formas gigantes apareceram na minha frente. De primeira eles
eram como colunas de lodo de um marrom escuro, mais densa do que a água ao seu
redor. Então apareceram pernas, braços e rostos carrancudos.
A criatura da esquerda parecia diferente, como um Telequine. Suas feições
eram de um peixe-lobo. Seu corpo era vagamente igual a uma foca – sua pele lisa
preta com pés e mãos de barbatanas. Seus olhos brilhavam com um verde radiante.
O cara na direita era mais humano. Ele estava vestido com trapos e águas
marinhas, com um casaco feito de garrafas com tampinhas e velhos plásticos de
engradados. Seu rosto estava manchado com algas, e sua barba enorme. Seus olhos
azuis profundos queimavam em raiva.
A foca, que tinha que ser o deus do East River, disse, “Você está tentando se
matar, criança? Ou você só é muito burro?”
O espírito barbudo do Hudson debochou. “Você é o experte em estupidez,
East.”
“Cuidado, Hudson.” East grunhiu. “Fique do seu lado da ilha e se preocupe
com seus negócios.”
“Ou o quê? Você vai jogar outro balde de lixo em cima de mim?”
Eles flutuavam rodeando-os, prontos para lutar.
“Calma aí!” Eu gritei. “Nós temos um problema maior.”
“A criança está certa.” East ganiu. “Vamos matá-lo juntos, depois nós
lutamos entre a gente.”
“Gostei da idéia.” Hudson disse.
Antes que eu pudesse protestar, milhares de pedaços de lixo surgiram do
fundo e vieram direto a mim de ambas as direções: vidros quebrados, pedras, latas,
pneus.
Eu esperava por isso mesmo. A água na minha frente juntou-se como um
escudo. Os restos batiam em mim inofensivamente. Só um pedaço entrou – um
grande pedaço de vidro que atingiu meu peito e provavelmente teria me matado, mas
ele se despedaçou em minha pele.
Os dois deuses do rio olharam para mim.
“Filho de Poseidon?” East perguntou.
Eu concordei.
“Tomou um banho no Styx?” Hudson perguntou.
“Sim.”
Ambos fizeram sons de desgosto.
“Perfeito,” East disse. “Agora como o matamos?”
“Nós poderíamos eletrocutá-lo,” Hudson respondeu. “Se pelo menos
pudéssemos encontrar uns cabos –“
“Escutem-me!” Eu disse. “O exército de Cronos está invadindo Manhattan!”
“E você acha que já não sabemos disso?” East perguntou. “Eu posso sentir
seus barcos agora mesmo. Eles estão quase cruzando.”
“Sim,” Hudson concordou. “Tem uns monstros esquisitos cruzando as
minhas águas também.”
“Então os pare.” Eu disse. “Afunde-os. Afunde seus barcos.”
“Por que deveríamos?” Hudson grunhiu. “Eles que invadam o Olimpo. Por
que nos importaríamos?”
“Pois eu posso pagar vocês.” Eu peguei o dólar de areia que meu pai tinha me
dado de aniversário.
Os olhos dos deuses arregalaram-se.
“É meu!” East disse. “Devolva-me, criança, e eu prometo que nenhuma das
escórias de Cronos adentrará no meu rio.”
“Esquece isso,” Hudson disse. “O dólar de areia é meu, ao menos que você
queira que eu deixe todos esses navios atravessarem o meu rio.”
“Temos um acordo,” Eu dividi o dólar em dois. Uma onda de água limpa saiu
da nota, como se toda poluição tivesse se dissolvido.
“Vocês terão cada parte,” Eu disse. “Em troca que vocês mantenham todas as
tropas de Cronos longe de Manhattan.”
“Ah cara,” Hudson choramingou, tentando pegar o dólar de areia. “Faz tanto
tempo em que eu era limpo.”
“O poder de Poseidon,” East River murmurou. “Ele é um idiota, mas sabe
como varrer a poluição.”
Eles olharam um pro outro e depois falaram juntos: “É um acordo.”
Eu dei para cada um a metade do dólar, o qual eles seguraram
reverenciosamente.
“Hum, os invasores?” Eu perguntei.
East balançou suas mãos. “Eles afundarão.”
Hudson estalou seus dedos. “Muitos cães infernais darão um mergulho.”
“Obrigado,” Eu disse. “Fiquem limpos.”
Enquanto eu subia para superfície, East chamou. “Ei criança, sempre que
você tiver um dólar de areia pra gastar, volte. Se você estiver vivo.”
“Maldição de Aquiles.” Hudson bufou. “Eles sempre acham que os salvará,
né?”.
“Se ele ao menos soubesse,” East concordou. Ambos riram dissolvendo-se
em água.
De volta à superfície, Annabeth estava falando em seu telefone, mas ela
desligou assim que me viu. Ela parecia muito abalada.
“Funcionou,” eu disse a ela. “Os rios estão salvos.”
“Bom,” Ela disse. “Por que temos outros problemas. Michael Yew acabou de
ligar. Outra tropa esta marchando pela ponte de Williamsburg. O chalé de Apollo
precisa de ajuda. E Percy, o monstro que está liderando os inimigos... É o
Minotauro.
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