Capítulo 10 > (Hora mais sombria)

Há uma coisa sobre os mediadores: somos duros de matar.
Sério. Você não acreditaria no numero de vezes em que fui derrubada, arrastada, pisoteada, socada, chutada, mordida, arranhada, acertada na cabeça, mantida embaixo d'água, alvejada por tiros e jogada de telhados.
Mas morri? Alguma vez tive um ferimento que ameaçasse a vida?
Não. Quebrei ossos - um bocado. Fiquei com um montão de cicatrizes.
Mas o fato é que quem - ou o que - criou os mediadores nos deu uma arma natural, pelo menos, para usar na luta contra os defuntos. Não, não uma força sobre-humana, ainda que isso seria bem prático. Não, o que nós, o padre Dom e eu – e Jack, provavelmente, ainda que eu duvide que ele tenha tido a oportunidade de usar -, temos e uma casca suficientemente dura para suportar todos os abusos que são causados contra nós.
Motivo pelo qual, mesmo que uma queda daquelas devesse ter me matado, não matou. Nem de longe.
Não, claro, que Maria de Silva e seu amado não imaginassem que tiveram sucesso. Devem ter imaginado, caso contrário teriam ficado ali para terminar o serviço. Mas quando acordei, horas depois, grogue e com uma cabeça em que você não acreditaria, eles não estavam por perto.
Sem dúvida eu tinha ganhado o primeiro assalto. Bem, pelo menos figurativamente. Quero dizer, não estava morta nem nada, e isso, no meu livro, é um ponto positivo.
O que eu tinha era uma concussão. Soube imediatamente porque tenho o tempo todo. Quero dizer, concussões.
Bem, certo, tive duas vezes.
De qualquer modo não é muito agradável, uma concussão. Basicamente você sente ânsias de vomito e fica toda dolorida, mas, de modo pouco surpreendente, sua cabeça dói mais do que tudo. No meu caso foi ainda pior, porque, como fiquei deitada no fundo daquele buraco durante tanto tempo, o orvalho teve chance de cair. Tinha se acumulado na minha roupa, encharcado tudo e feito com que ficassem pesadas. Por isso, me arrastar daquele buraco que Andy e Dunga haviam cavado se tornou uma tarefa pesadíssima.
De fato, já ia amanhecendo quando finalmente consegui entrar de novo em casa - graças a Deus, Soneca tinha deixado a porta da frente aberta quando veio de seu grande encontro.
Mesmo assim eu precisei subir toda a escada. Foi muito lento. Pelo menos, quando entrei no quarto e finalmente consegui tirar toda a roupa encharcada e enlameada, não precisei me preocupar, pela primeira vez, com a possibilidade de Jesse me ver pelada.
Porque, claro, Jesse tinha ido embora.
Tentei pensar nisso enquanto me arrastava para a cama e fechava os olhos. Essa estratégia - a de não pensar em Jesse ter ido embora - pareceu funcionar bastante bem. Acho que dormi antes que esse pensamento tivesse realmente a chance de chegar.
Só acordei bem depois das oito. Aparentemente Soneca tinha tentado me acordar para o trabalho, mas eu estava apagada demais. Eles me deixaram dormir, acho, porque todos presumiram que eu estava perturbada pelo que havia acontecido na véspera, pelo esqueleto encontrado no quintal dos fundos.
Apenas gostaria de ter só isso com que me preocupar.
Quando o telefone tocou, pouco depois das nove, e Andy gritou escada acima dizendo que era para mim, eu já estava de pé, com um agasalho de moletom, examinando o enorme hematoma que havia surgido sob os cabelos da testa. Parecia uma alienígena. Sem brincadeira. Era um espanto não ter quebrado o pescoço. Estava convencida de que Maria e seu namorado achavam que era exatamente isso que tinha acontecido. Era o único motivo para eu ainda estar viva. Os dois eram tão presunçosos que não tinham ficado para garantir que eu estivesse bem morta.
Obviamente nunca haviam encontrado um mediador. E preciso muito mais do que uma queda de telhado para matar um de nós.
- Suzannah. - A voz do padre Dominic, quando atendi ao telefone, estava cheia de preocupação. - Graças a Deus você esta bem. Fiquei tão preocupado... Mas você não foi, não é? Ao cemitério ontem a noite?
Não. - Afinal de contas não tive motivo para ir. O cemitério tinha vindo até mim.
Mas não falei ao padre D. Em vez disso, perguntei: - O senhor voltou?
- Voltei. Você não contou a eles, contou? Quero dizer, a sua família.
- Ah ... - falei incerta.
- Suzannah, você deve. Deve realmente. Eles tem o direito de saber. Estamos lidando com um caso muito sério de assombração. Você poderia ser morta, Suzannah ...
Não quis mencionar que já havia chegado bem perto. Naquele momento soou o toque de chamada em espera.
Falei:
- Padre D., pode esperar um segundo? - E apertei o botão para atender.
Uma voz aguda, vagamente familiar, falou no meu ouvido, mas nem me esforçando eu conseguiria situá-la. - Suze? É você? Você está bem? Está doente ou algo assim?
- Ah - falei extremamente perplexa. - É. Acho que sim. Mais ou menos. Quem é?
A voz respondeu muito indignada:
- Eu, Jack!
Ah, meu Deus. Jack. Trabalho. Certo.
- Jack. Como conseguiu meu número?
- Você deu ao Paul. Ontem. Não lembra?
Não lembrava, claro. De ontem só conseguia realmente lembrar que Clive Clemmings estava morto, o retrato de Jesse estava desaparecido ...
E que Jesse, claro, tinha ido embora. Para sempre.
Ah, e toda a parte em que o fantasma de Felix Diego tentou rachar minha cabeça.
- Ah. É. Certo. Olha, Jack, eu estou com alguém na outra...
- Suze - interrompeu Jack. - Você deveria me ajudar a dar cambalhota embaixo d'água hoje.
- Eu sei. Sinto muito, mesmo. Só que... realmente não pude ir trabalhar hoje, rapaz. Sinto muito. Não é nada contra você. Eu só precisava de um dia de folga.
- Você esta parecendo muito triste - disse Jack, também parecendo bem triste. - Achei que estaria bem feliz.
- Achou? - Imaginei se o padre D. ainda estava esperando na outra linha ou se havia desligado, cheio de indignação. Percebi que estava tratando-o tremendamente mal. Afinal de contas ele havia interrompido seu pequeno retiro por minha causa. - Por que?
- Por causa do modo como eu...
Foi então que vi. Só um brilho fraquíssimo, perto do sofá-cama. Jesse? De novo meu coração deu uma daquelas cambalhotas. Estava mesmo ficando patético quando eu pulava a cada vez que via o mais leve tremeluzir, achando que era Jesse.
Não era.
Também não era Maria ou Diego - graças a Deus. Sem dúvida nem eles teriam ousadia suficiente para tentar me atacar em plena luz do dia...
- Jack - falei ao telefone. - Preciso desligar.
- Espera, Suze, eu ...
Mas eu tinha desligado. Porque, sentado ali no meu sofá-cama, parecendo profundamente infeliz, estava o dr. Clive Clemmings, Ph.D.
Sorte minha: desejar um Jesse e ganhar um Clive.
- Ah - disse ele, piscando por trás das lentes dos óculos fundo de garrafa. Parecia quase tão surpreso em me ver quanto eu em vê-lo materializado ali no meu quarto. - É você.
Só balancei a cabeça. Algumas vezes meu quarto parece uma estação de trem.
- Bem, eu simplesmente não... - Clive Clemmings ficou mexendo em sua gravata-borboleta. - Quero dizer, quando disseram que eu deveria contatar um mediador, eu não... quero dizer, não esperei...
- ... que o mediador fosse eu - terminei para ele. - É. Ouço isso um bocado.
- Só que - disse Clive em tom de desculpas -, que você é tão ...
Só o encarei irritada. Realmente não estava no clima. E você pode me culpar? Com a concussão e tudo o mais?
- Que eu sou tão o que? Mulher? É isso? Ou vai tentar me convencer de que está chocado com minha inteligência sobrenatural?
- Bem - disse Clive Clemmings. - Jovem. Foi o que quis dizer... e só que você e tão jovem!
Afundei no banco da janela. Verdade, o que fiz para merecer isso? Quero dizer, ninguém quer ser visitado pelo espectro de um cara como Clive. Tenho quase certeza de que ninguém queria que ele fizesse uma visita quando estava vivo. Então por que eu?
Ah, sim. O negócio de ser mediadora.
- A que devo o prazer, Clive? - Provavelmente deveria tê-lo chamado de dr. Clemmings, mas estava com muita dor de cabeça para demonstrar respeito pelos mais velhos.
- Bem, não sei. Quero dizer, de repente a sra. Lampbert, minha recepcionista, sabe?, não esta atendendo quando a chamo, e quando as pessoas telefonam para mim, bem, ela diz... a coisa mais horrível. Simplesmente não sei o que deu nela. - Clive pigarreou. - Veja bem, ela está dizendo que eu estou...
- Morto - terminei para ele.
Os olhos de Clive ficaram perceptivelmente maiores por trás dos óculos.
- Bom, isso é extraordinário. Como é que você sabe? Bem, sim, claro, afinal de contas você é mediadora. Disseram que entenderia. Mas verdade, srta. Ackerman, os últimos dias foram extremamente exaustivos. Não estou me sentindo como eu era, e...
- Isso - interrompi - é porque você esta morto. Normalmente eu teria sido um pouquinho mais gentil, mas acho que ainda sentia um certo nó de ressentimento com o velho Clive por ter descartado daquele jeito minha sugestão de que Jesse podia ter sido assassinado.
- Mas isso não é possível. - Clive repuxou a gravata. borboleta. - Quero dizer, olhe para mim. Eu estou claramente aqui. Você está falando comigo ...
- É porque sou mediadora, Clive. Esse é o meu trabalho. Ajudar pessoas como você a ir em frente depois de terem... você sabe. - Como ele claramente não sabia, fui mais clara: - Batido as botas.
Clive piscou rapidamente várias vezes.
- Eu... eu... ah, minha nossa!
- É. Está vendo? Agora vejamos se podemos deduzir por que você está aqui e não no feliz céu dos historiadores. Qual é a última coisa de que você se lembra?
Clive tirou a mão do queixo.
- Perdão?
- Qual é a última coisa que você lembra - repeti - antes de notar que estava... bem, invisível para a sra. Lampbert?
- Ah. - Clive coçou a careca. - Bem, eu estava sentado à minha mesa, olhando aquelas cartas que você trouxe. Foi gentileza seu padrasto pensar em nós. As pessoas costumam desconsiderar a sociedade histórica local quando, você sabe, sem nós, o tecido da cultura local seria permanentemente...
- Clive. - Sei que eu estava sendo grosseira, mas não podia evitar. - Olha, ainda nem tomei o café-da-manhã. Pode ir em frente, por favor?
- Ah. - Ele piscou mais um pouco. - Sim. Claro. Bem, como eu dizia, estava examinando as cartas que você me trouxe. Desde que você saiu da minha sala no outro dia estive pensando no que você disse ... sobre Hector de Silva parece um tanto improvável que um rapaz que escreveu de modo tão amoroso sobre a família simplesmente fosse embora sem dizer uma palavra. E o fato de você ter encontrado as cartas de Maria enterradas no quintal do que já foi uma pensão bem conhecida ... Bom, devo dizer que, pensando mais, toda a coisa me pareceu extremamente esquisita. Peguei meu ditafone e estava fazendo algumas anotações para a sra. Lampbert digitar mais tarde quando subitamente senti. .. bem, um arrepio. Como se alguém tivesse posto o ar-condicionado no máximo. Mas posso garantir que a sra. Lampbert não faria isso. Alguns dos nossos artefatos devem ser mantidos em climas atmosféricos altamente controlados, e ela nunca...
- Não era o ar -condicionado - falei em tom curto e grosso. Ele me olhou, claramente espantado.
- Não. Não, não era. Porque um instante depois captei um cheiro levíssimo de flor de laranjeira. E você sabe que Maria Diego era bem conhecida por usar água de toalete com perfume de flor de laranjeira. Foi estranho demais. Porque um segundo depois pude jurar que, por um momento ... - A expressão de seus olhos, por trás das lentes grossas, ficou distante. - Bem, por um momento eu teria jurado que a vi. Só com o canto do olho. Maria de Silva Diego ...
A expressão distante abandonou seus olhos. Quando me encarou em seguida o olhar era afiado como laser.
- E então senti - disse ele numa voz muito controlada - uma dor lancinante, subindo e descendo pelo braço. Eu sabia o que era, claro. Minha família sofre de doença cardíaca congênita. Isso matou meu avo, você sabe, logo depois de ele ter seu livro publicado. Mas, diferentemente dele, tenho sido extremamente diligente com a alimentação e o regime de exercícios. Só podia ter sido o choque, você sabe, de ver ... pelo menos de pensar ter visto ... algo que não era ... que não poderia ...

Ele parou, depois prosseguiu:

- Bem, tentei pegar o telefone para ligar imediatamente para 911, mas ele ... bem ... o telefone meio que ... pulou da minha mesa.

Só fiquei olhando-o. Precisava admitir que nesse ponto estava sentindo pena. Quero dizer, ele fora assassinado, como o Jesse. E pela mesma mão. Bem, mais ou menos.

- Não pude alcançá-lo - disse Clive com tristeza. - Quero dizer, o telefone. E essa ... essa é a ultima coisa de que me lembro.
Lambi os lábios.
- Clive, o que você estava dizendo? Ao telefone. Logo antes de vê-la. De ver Maria de Silva?
- O que eu estava dizendo? Ah, claro. Estava dizendo que achava bom investigar mais, parecia que o que você tinha sugerido, e aquilo em que meu avô sempre acreditou, talvez pudesse ter algum mérito ...
Balancei a cabeça. Não dava para acreditar.
- Ela matou você - murmurei.
- Ah. - Clive não estava mais piscando nem repuxando a gravata-borboleta. Só ficou ali parado, parecendo um espantalho de quem haviam arrancado o mastro. - É. Acho que você poderia dizer isso. Mas só como uma figura de linguagem. Quero dizer, afinal de contas, foi o choque. Mas não que ela...
- Para impedi-lo de contar a alguém o que eu falei. Apesar da dor de cabeça, eu estava ficando furiosa outra vez. - E matou seu avô também, do mesmo modo.
Então Clive piscou, de modo interrogativo.
- Meu... meu avô? Você acha? Bem, devo dizer... bom, a morte dele foi bem súbita, mas não houve sinal de... - Sua expressão mudou. - Ah. Ah. Sei. Você acha que meu avô foi morto pelo fantasma de Maria de Silva Diego para que ele não escrevesse mais sobre sua teoria relativa ao desaparecimento do primo dela?
- É um modo de dizer. Ela não queria que ele contasse a verdade sobre o que aconteceu com Jesse.
- Jesse? Quem é Jesse?
Nós dois quase pulamos ao ouvir uma batida na porta.
- Suze? - gritou meu padrasto. - Posso entrar? .
Numa lufada de agitação, Clive se desmaterializou Eu mandei entrar, e a porta se abriu e Andy ficou ali parado, sem jeito. Ele nunca entra no meu quarto, a não ser, ocasionalmente, para consertar coisas.
- Ah, Suze? Bem, você tem uma visita. O padre Dominic está ...
Andy não terminou porque o padre Dominic apareceu logo atrás dele.
Não posso realmente explicar por que fiz o que fiz. Não há outra explicação para isso, além do simples fato de que, bem, nos seis meses em que o conheço, passei realmente a sentir algo pelo velho.
De qualquer modo, ao vê-lo pulei do banco da janela, de modo totalmente involuntário, e me joguei contra ele. O padre Dominic ficou um bocado surpreso com essa demonstração explícita de emoção, já que normalmente sou um tanto reservada.
- Ah, padre D. - falei para a frente da camisa do padre Dominic. - Estou tão feliz em ver o senhor.
E estava mesmo. Finalmente - finalmente - alguma normalidade retomava ao meu mundo que parecia ter virado totalmente de cabeça para baixo nas ultimas 24 horas. O padre Dominic tinha voltado. O padre Dominic cuidaria de tudo. Sempre cuidava. Só ficar ali abraçando-o e sentindo seu cheiro sacerdotal, que era de Woolite e, mais levemente, do cigarro que tinha fumado escondido no carro, durante a vinda, senti que tudo ia ficar bem.
- Ah - disse o padre Dominic. Dava para sentir sua voz reverberando dentro do meu peito, junto com os pequenos ruídos que o estômago dele fazia ao digerir o que quer que ele tivesse comido no café-da-manhã. - Minha nossa! - o padre Dominic me deu tapinhas desajeitados no ombro.
Atrás de nós, ouvi Dunga dizer: - O que é que deu nela?
Andy mandou-o ficar quieto.
- Ah, qual é - disse Dunga. - Ela não pode ainda estar perturbada por causa daquele esqueleto estúpido que a gente achou. Quero dizer, esse tipo de coisa não deveria incomodar a rainha do povo da noite.
Dunga interrompeu a frase com um grito de dor. Olhei em volta do ombro do padre D. e vi Andy puxando o filho do meio pela orelha, corredor afora.
- Corta essa, pai! - berrava Dunga. - Ai! Pai, pára com isso!
Uma porta bateu. No fim do corredor, no quarto de Dunga, Andy estava citando para ele a lei contra motins.
Soltei o padre D.
- O senhor andou fumando – falei.
- Só um pouquinho. - Ao ver minha expressão, ele deu de ombros, impotente. - Bem, foi uma longa viagem dirigindo. E eu tinha certeza de que, quando chegasse aqui, ia achar todos vocês assassinados nas camas. Você realmente tem o modo mais alarmante de entrar em encrencas, Suzannah.
- Sei disso. - Suspirei e fui sentar no banco da janela, envolvendo um dos joelhos com os braços. Estava com um agasalho de moletom e não tinha me incomodado em passar maquiagem nem lavar o cabelo. De que adiantaria?
O padre D. não pareceu notar minha aparência medonha.
Continuou, como se estivéssemos em sua sala, falando sobre levantamento de verbas com o governo, para os alunos, ou algo completamente inócuo assim.
- Trouxe um pouco de água benta. Está no meu carro. Vou dizer a seu pai que você me pediu para abençoar a casa, devido ... e ... à descoberta de ontem. Ele pode se espantar por você estar subitamente abraçando a igreja, mas você terá de começar a insistir em dar as graças na hora do jantar, ou talvez ate em freqüentar a missa de vez em quando, para convencê-lo de sua sinceridade. Andei lendo um pouco sobre aqueles dois, Maria de Silva e o tal de Diego, e eles eram bastante devotos. Assassinos, parece, mas também carolas. Acho que ficarão bem relutantes em entrar numa casa que foi santificada por um padre. - O padre Dominic me olhou, preocupado. - O que pode acontecer quando você puser os pés fora desta casa é que me preocupa. No minuto em que você ... santo Deus, Suzannah. - O padre Dominic parou e me olhou com curiosidade. - O que aconteceu com sua testa?
Levantei a mão e toquei o hematoma sob o cabelo.
- Ah - falei, me encolhendo um pouco. O ferimento ainda estava dolorido. - Nada. Olha, padre D ...
- Não diga que isso não é nada. - O padre Dominic deu um passo adiante e depois respirou profundamente. - Suuzannah! Onde, em nome do céu, você conseguiu esse machucado feio?
- Não é nada - falei, puxando o cabelo sobre os olhos. - É só uma pequena demonstração da estima de Felix Diego.
- Esta marca não é bobagem - declarou o padre Dominic. - Suzannah, já lhe ocorreu que você pode ter tido uma concussão? Deveríamos fazer um raio X imediatamente.
- Padre Dominic ...
- Sem discussão, Suzannah. Calce um sapato. Vou conversar com seu padrasto, depois vamos ao hospital de Carmel.
O telefone tocou, ruidoso. Eu lhe disse, isso aqui é a própria estação de trens. Atendi, principalmente para me dar tempo de pensar numa desculpa para não ir ao hospital. Uma ida à emergência exigiria uma historia sobre como eu tinha obtido este último ferimento, e, francamente, estava ficando sem boas histórias.
- Alô? - falei ao aparelho enquanto o padre D. me fazia um muxoxo.
- Suze? - a familiar vozinha aguda. - Sou eu de novo. O Jack.
- Jack - falei cansada. - Olha, eu disse antes. Realmente não estou me sentindo bem ...
- É isso aí. Fiquei pensando que você podia não ter ouvido. E então achei que podia contar. Porque sei que você vai se sentir melhor quando souber.
- Souber o que, Jack?
- Como eu mediei aquele fantasma para você.
Deus, minha cabeça estava latejando. Não estava no clima para isso.
- Ah, é? Que fantasma, Jack?
- Você sabe. O cara que estava incomodando você. O tal de Hector.
Quase larguei o telefone. Na verdade larguei, mas estendi as mãos depressa e o peguei antes que caísse no chão. Então segurei de novo junto ao ouvido, com as duas mãos, para ter certeza de que estava escutando direito. Fiz tudo isso com o padre Dominic me olhando.
- Jack - falei, sentindo como se todo o ar tivesse escapado de mim. - O que você está falando?
- Aquele cara. - Seu tom infantil tinha ficado indignado. - Você sabe, o que não queria deixar você em paz. Aquela moça, Maria, me disse...
- Maria? - Eu tinha esquecido tudo sobre a dor de cabeça, sobre o padre Dom. Praticamente gritei ao telefone. - Jack, o que você está falando? Que Maria?
- Aquela fantasma da antiga - disse Jack, parecendo sem graça. - A boazinha, que a gente viu o retrato na sala daquele careca. Ela disse que o tal de Hector, o da outra pintura, a pequenina, estava incomodando você, e que se eu quisesse fazer uma bela surpresa, deveria exer... deveria exor... deveria...
- Exorcizá-lo? - Os nós dos meus dedos tinham ficado brancos em volta do aparelho. - Exorcizá-lo, Jack? Foi o que você fez?
- É - disse Jack, parecendo muito satisfeito consigo mesmo. - É, foi isso mesmo. Eu exorcizei ele.

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