Caçar fantasmas é um negócio complicado.
Você imaginaria que é fácil, certo? Tipo: se um fantasma estiver incomodando a gente, basta... , você sabe, lhe dar um soco nas fuças e ele vai embora.
É. Infelizmente não funciona assim.
O que não quer dizer que dar um soco nas fuças de alguém não tenha valor terapêutico. Em especial para alguém que, como eu, pode estar sofrendo. Porque era isso que eu estava, claro. Sofrendo por Jesse.
Só que - e não sei se isso se aplica a todos os mediadores ou só a mim - realmente não sofro como uma pessoa normal. Quero dizer, eu fiquei sentada abrindo o berreiro depois que percebi que nunca mais ia ver Jesse.
Mas então uma coisa aconteceu. Parei de me sentir triste e comecei a ficar furiosa.
Furiosa de verdade. Ali estava eu, já passava da meia-noite, e me sentia extremamente furiosa.
Não que não quisesse manter a promessa ao padre D.
Queria sim. Mas simplesmente não podia.
Assim como Jesse não pode manter a promessa a mim. De modo que, apenas 15 minutos depois de ligar para o padre D., sai do banheiro - Jesse tinha ido embora, portanto eu poderia ter trocado de roupa no quarto, mas velhos hábitos são difíceis de abandonar - com a vestimenta completa de caça-fantasmas, inclusive o cinto de ferramentas e um casaco com capuz, que até eu admito que é meio excessivo na Califórnia em julho. Mas era noite, e aquela névoa que vem do oceano de madrugada pode gelar.
Não quero que você pense que não pensei seriamente no que o padre D. disse sobre contar tudo a minha mãe e tira-la dali, junto com os Ackerman. Realmente pensei nisso.
Só que, quanto mais pensava, mais ridículo parecia. Quero dizer, em primeiro lugar minha mãe é jornalista de TV. Simplesmente não é do tipo que acredita em fantasmas. Só acredita no que pode ver ou então no que a ciência provou que existe. Na única vez que tentei contar, ela não entendeu nem um pouco. E percebi que ela nunca entenderia.
Então como é que eu poderia entrar naquele quarto e contar a ela e ao novo marido que eles tem de sair da casa porque há um espírito vingativo atrás de mim? Ela ligaria para o terapeuta em Nova York procurando comunidades onde eu pudesse "descansar" tão depressa que você nem acreditaria.
De modo que esse plano estava descartado.
Mas tudo bem, porque eu tinha um muito melhor. Um plano que, realmente, eu deveria ter imaginado de cara, mas acho que o negócio de ver o esqueleto do cara que eu amo sendo tirado de um buraco no quintal dos fundos realmente me pegou no contrapé, por isso só pensei direito quando estava ao telefone com o padre D.
Mas assim que pensei, percebi que era de fato o plano perfeito. Em vez de esperar que Maria viesse atrás de mim, eu simplesmente iria até ela e, bem...
Iria mandá-la de volta ao lugar de onde tinha vindo. Ou reduzi-la a um monte de gosma gelatinosa e trêmula. A que acontecesse primeiro.
Porque, mesmo que, claro, os fantasmas estejam mortos, eles ainda sentem dor, como as pessoas que perdem um membro ainda sentem coceira nele de vez em quando. Quando você crava uma faca no esterno dos fantasmas, eles sabem que deveria doer, e o ferimento até sangra por um tempo.
Depois, claro, eles superam o choque e o ferimento desaparece. O que é desencorajador, já que os ferimentos que eles, por sua vez, infligem em mim não se curam tão depressa.
Mas tanto faz. A coisa funciona. Mais ou menos.
O ferimento que Maria de Silva tinha me infligido não era visível, mas isso não importava. O que eu ia provocar nela importaria. Com sorte aquele seu marido estaria por perto e eu faria o mesmo com ele.
E o que aconteceria se as coisas não funcionassem assim, e os dois ganhassem a briga?
Bem, essa é a parte mais maneira: eu nem me importava.
Verdade. Tinha chorado cada grama de emoção que havia em mim, e agora simplesmente não me importava. Não me importava. Realmente.
Eu estava entorpecida.
Tanto que, quando passei as pernas pela janela do quarto e pousei no telhado da varanda - minha saída usual quando não queria que ninguém em casa soubesse que eu estava armando alguma coisa -, nem me importei com as coisas que normalmente tem significado para mim, como a lua, por exemplo, pairando sobre a baía, lançando tudo numa sobra preta e cinza, e o perfume do pinheiro gigante ao lado da varanda. Não importava. Nada disso importava.
Tinha acabado de atravessar o telhado da varanda e estava me preparando para pular quando um brilho mais forte do que a lua, porém muito mais fraco do que, digamos, a lâmpada do meu quarto, apareceu atrás de mim.
Certo, vou admitir. Pensei que era Jesse. Não pergunte por que. Quero dizer, ia contra toda a lógica. Mas e daí? Meu coração deu um pulo feliz e eu girei...
Maria estava parada a menos de dois metros de mim, no telhado inclinado e cheio de agulhas de pinheiro. Tinha a mesma aparência do retrato acima da mesa de Clive Clemmmings: elegante e espiritual.
Bem, e por que não? Agora ela é um espírito, não é?
- Vai a algum lugar, Suzannah? - perguntou ela em seu inglês cortante, apenas com um leve sotaque.
- Ia - respondi empurrando para trás o gorro do casaco.
Tinha amarrado o cabelo num rabo-de-cavalo. Não era bonito, sei, no entanto eu precisava de toda a visão periférica possível. - Mas agora que você está aqui, vejo que não preciso. Posso chutar sua bunda ossuda tanto aqui quanto na sua sepultura fedorenta.
Maria ergueu as sobrancelhas delicadamente arqueadas.
- Que palavreado! - disse ela. Juro, como se tivesse um leque e estivesse usando-o, como Scarlett O'Hara. - E o que eu poderia ter feito para instigar um vocabulário tão pouco feminino? Você sabe que é possível pegar mais moscas com mel do que com vinagre.
- Você sabe muitíssimo bem o que fez - falei dando um passo na direção dela. - Vamos começar com os insetos no suco de laranja.
Ela ajeitou timidamente uma madeixa de cabelos pretos e brilhantes que tinha escapado dos cachos nas laterais do rosto.
- É, achei que você gostaria deles.
- Mas matar o dr. Clemmings? - dei outro passo adiante. - Isso foi ainda melhor. Porque imagino que você nem precisou matá-lo, não foi? Você só queria a pintura, não é? A do Jesse.
Ela fez o que as revistas chamam "biquinho": você sabe, meio que franziu os lábios e ao mesmo tempo pareceu satisfeita consigo mesma.
- Sim. A princípio eu não ia matá-lo. Mas quando vi o retrato, o meu retrato sobre a mesa dele, bem, como poderia não matar? Ele nem mesmo é meu parente. Por que deveria ficar com um quadro tão belo? E naquela salinha miserável! Aquele quadro enfeitava minha sala de jantar. Ficava um esplendor acima de uma mesa onde vinte pessoas podiam se sentar.
- É, bem. Pelo que eu soube, nenhum de seus descendentes o quis. Seus filhos acabaram não passando de um punhado de vagabundos e bandidos. Parece que sua capacidade materna deixou um pouco a desejar.
Pela primeira vez Maria pareceu chateada. Começou a dizer alguma coisa, mas interrompi:
- O que não entendo é para que você queria a pintura. A de Jesse. Quero dizer, de que ela serve para você? A não ser que tenha roubado a pintura para me causar problema.
- Esse motivo não bastaria? - perguntou ela com um riso de desprezo.
- Acho que sim. Só que não funcionou.
- Ainda - disse Maria, com uma certa ênfase. - Ainda há tempo.
Balancei a cabeça. Só balancei a cabeça enquanto olhava para ela.
- Nossa! - falei mais para mim mesma. - Nossa, vou machucar você.
- Ah, sim. - Maria fez "tsk tsk" por trás da mão com luva de renda. - Esqueci. Você deve estar com muita raiva de mim. Ele foi embora, não foi? O Hector. Deve ter sido um tremendo golpe. Sei como você gosta dele.
Eu poderia ter pulado em cima dela nesse momento.
Provavelmente deveria ter pulado. Mas ocorreu-me que ela poderia, você sabe, ter alguma informação sobre o Jesse, como ele estava ou mesmo onde estava. É vergonhoso, sei, mas veja do seguinte modo: além do negócio de... você sabe, do amor, ele era um dos melhores amigos que já tive.
- É - falei. - Bem, acho que os traficantes de escravos não são meu prato predileto. Foi com um deles que você se casou, não foi? Um traficante de escravos. Seu pai deve ter sentido tanto orgulho!
Isso apagou o riso da cara dela.
- Deixe meu pai de fora - rosnou Maria.
- Ah, por que? Diga uma coisa, ele ficou chateado com você? Seu pai. Você sabe, por ter mandado matar Jesse? Porque imagino que ele ficaria. Quero dizer, basicamente, graças a você, a família Silva acabou. E seus filhos com o tal de Diego, como já discutimos, acabaram virando uns imprestáveis. Aposto que sempre que você esbarra no seu pai por aí, você sabe, no plano espiritual, ele nem diz olá, diz? Isso deve doer.
Não sei quanto Maria entendeu, se e que entendeu alguma coisa. Mesmo assim pareceu bem furiosa.
- Você! - gritou ela. - Eu avisei! Disse para mandar sua família parar de cavar, mas você me ouviu? E sua culpa ter perdido seu precioso Hector. Se tivesse ouvido, ele ainda estaria aqui. Mas não. Você pensou que só porque é mediadora, uma pessoa especial que se comunica com os espíritos, é melhor do que nós... melhor do que eu! Mas você não é nada, nada, ouviu? Quem são os Simon? Quem são? Ninguém! Eu, Maria Teresa de Silva, sou descendente da realeza, de reis e príncipes!
Eu só ri. Quero dizer, sério. Qual é!
- Ah, sim - falei. - E sem duvida foi um comportamento régio matar o namorado daquele jeito.
A expressão de Maria era como uma nuvem negra de tempestade sobre sua cabeça.
- Hector morreu porque ousou romper nosso noivado - sibilou ela numa voz apavorante. - Pensou em me desgraçar na frente de todo mundo. A mim! Sabendo, como sabia, da linhagem real que corria em meu sangue. Sugerir que eu iria...
Uau. Essa era nova.
Espera um minuto. Ele fez o que? Mas Maria estava no maior pique.
- Como se eu, Maria de Silva, fosse me permitir ser tão humilhada. Hector tentou devolver minhas cartas e pediu as dele, e o anel, de volta. Disse que não podia se casar comigo depois do que ouviu dizer sobre mim e Diego. - Ela disse de modo desagradável. - Como se não soubesse com quem estava falando! Como se não soubesse que estava falando com uma de Silva!
Pigarreei.
- Ah. Tenho bastante certeza de que ele sabia. Quero dizer, esse era o sobrenome dele também. Vocês dois não eram primos?
Maria fez uma careta.
- Sim. Tenho vergonha de dizer que compartilhei o nome e os avós, com aquele ... - Ela chamou Jesse de algo em espanhol que não pareceu nem um pouco lisonjeiro. - Ele não sabia com quem estava mexendo. Não havia um homem no condado que não mataria pela honra de se casar comigo.
- E certamente parece que pelo menos um homem no condado foi morto por recusar essa honra - não pude deixar de observar.
- Por que ele não deveria ter morrido depois de me insultar dessa maneira?
- Hmm, que tal porque o assassinato é ilegal? E porque mandar matar um cara por ele não querer se casar com você é um ato de uma completa lunática, exatamente o que você é. Engraçado como essa parte não foi parar nos jornais da história. Mas não se preocupe. Eu garantirei que a noticia se espalhe.
O rosto de Maria mudou. Antes tinha uma expressão enojada e irritada. Agora parecia assassino.
O que era meio engraçado. Se essa garota achava que alguém no mundo se importava com o que uma dona metida a besta havia feito há um século e meio, estava tremendamente enganada. Tinha conseguido matar a única pessoa para quem essa informação poderia ser ao menos remotamente interessante - o dr. Clive Clemmings, Ph.D.
Mas aparentemente ainda estava cheia do negócio do "nós, os Silva, descendemos da realeza espanhola", já que partiu para cima de mim, anáguas voando, e disse numa voz apavorante:
- Garota estúpida! Eu disse a Diego que você era idiota demais para nos causar problemas, mas agora vejo que estava errada. Você é tudo que eu ouvi falar sobre os mediadores: uma criatura desprezível, que gosta de interferir!
Fiquei lisonjeada, realmente. Ninguém jamais havia me chamado de desprezível.
- Se eu sou desprezível, o que isso torna você? Ah, espere, não diga, já sei. Uma vaca de duas caras que gosta de esfaquear pelas costas, certo?
A próxima coisa que vi foi que ela havia tirado aquela faca da manga e de novo estava apontando-a para a minha garganta.
- Não vou esfaquear você pelas costas - garantiu Maria. - É seu rosto que eu quero retalhar.
- Vá em frente - falei e em seguida agarrei o pulso da mão que segurava a faca. - Quer saber qual foi seu grande erro? - Ela grunhiu enquanto, com um movimento hábil que aprendi no tae kwon do, torci seu braço as costas. - Dizer que foi culpa minha ter perdido o Jesse. Porque antes eu estava sentindo pena de você. Mas agora estou apenas furiosa.
Então, dando uma joelhada na coluna vertebral de Maria de Silva, joguei-a esparramada no teto da varanda.
- E quando estou furiosa - falei, arrancando a faca de seus dedos com a mão livre -, realmente não sei o que me dá. Mas começo a bater nas pessoas. Com muita, muita força.
Maria não estava recebendo nada disso com calma. Gritava a ponto de quase explodir. Mas principalmente em espanhol, por isso simplesmente a ignorei. De qualquer modo eu era a única que podia ouvir.
- Contei isso a terapeuta da minha mãe - informei, enquanto jogava a faca, com o máximo de força possível, no quintal dos fundos, ainda mantendo Maria presa com o peso do meu joelho. - E sabe o que ela disse? Que o gatilho do meu mecanismo de fúria é sensível demais.
Agora que tinha me livrado da faca, inclinei-me para a frente e, com a mão que estava usando para manter o braço de Maria torcido as costas, segurei um punhado daqueles cachos pretos e brilhantes e puxei sua cabeça para mim.
- Mas sabe o que eu disse a ela? Disse: não é o gatilho do meu mecanismo de fúria que é supersensível. É que as pessoas... só... ficam... me... enchendo... o... saco.
Para enfatizar as últimas sete palavras bati com a cara de Maria nas telhas da varanda. Quando levantei sua cabeça depois da ultima vez, ela estava sangrando bastante pelo nariz e pela boca. Observei isso com grande distanciamento, como se outra pessoa tivesse causado aquilo, e não eu.
- Ah - falei - Olha só isso. Que coisa desprezível, que interferência de minha parte!
Então bati seu rosto contra as telhas mais algumas vezes, dizendo:
- Esta é por ter pulado em cima de mim enquanto eu estava dormindo e apertar uma faca na minha garganta. E essa e por ter feito Dunga comer insetos, e esta por ter matado Clive, e ah, sim, esta e por Jesse...
Não vou dizer que estava fora de mim, de tanta fúria.
Estava louca. Louca de montão. Mas sabia exatamente o que estava fazendo.
E não era bonito. Ei, sou a primeira a admitir. Quero dizer, a violência nunca é a resposta, certo? A não ser, claro, que a pessoa que você está espancando já esteja morta.
Mas só porque há 150 anos aquela garota mandou matar um amigo meu, sem motivo além de ele, com todo o direito, querer cancelar um casamento com ela, ela não merecia ter o rosto arrebentado.
De jeito nenhum. O que merecia era ter cada osso do corpo quebrado.
Mas infelizmente, quando por fim soltei o cabelo de Maria e me levantei para fazer exatamente isso notei um brilho a esquerda.
“Jesse”, pensei com o coração dando uma outra daquela
Mas, claro que não era o Jesse. Quando virei a cabeça o que vi se materializando ali era um homem muito alto de bigode e cavanhaque escuros, vestindo roupas um tanto semelhantes as de Jesse, só que muito mais chiques - como se fosse um Zorro de festa a fantasia. As calças pretas e justas tinham uma elaborada filigrana prateada descendo pela lateral de cada perna, e a camisa branca tinha aquelas mangas fofas que os piratas sempre usam nos filmes.
Além disso havia um bocado de trabalho em prata no coldre também, e em volta da aba de seu chapéu preto, de caubói.
E não parecia muito feliz em me ver.
- Certo - falei, pondo as mãos nos quadris. - Espere, não diga. Diego, estou certa?
Sob o bigode fininho, seu lábio superior se enrolou.
- Acho que eu lhe disse para deixar essa aí por minha conta - falou Maria, que estava se sentando e encostando a manga da blusa no nariz que sangrava.
Maria estava fazendo um monte de ruídos fungados e finos. Dava para ver que nunca tivera o nariz quebrado, porque não estava inclinando a cabeça para trás para interromper o sangramento.
Amadora.
- Achei que poderia ser mais divertido brincar com ela - disse Maria numa voz temperada com dor. E arrependimento.
Diego balançou a cabeça, enojado.
- Não - disse ele. - Com mediadores não se brinca. Achei que tinha deixado isso claro desde o início. Eles são perigosos demais.
- Desculpe, Diego. - A voz de Maria assumiu um tom lamentoso que eu não tinha ouvido antes. Percebi que ela era uma daquelas garotas que tem uma voz "para os caras", uma voz que ela só usa quando há homens por perto. - Eu deveria ter feito o que você disse.
Era a minha vez de ficar com nojo.
- Olá - falei a Maria. - Estamos no século XXI. Agora as mulheres podem pensar por conta própria, você sabe.
Maria só me olhou por cima da manga que estava encostada no nariz sangrento.
- Mate-a para mim - disse ela naquela voz gemida, de menininha.
Diego deu um passo na minha direção, com uma expressão que dizia que estava felicíssimo em obedecer a amada.
- Ah, o que? – falei. Eu nem estava com medo. Não me importava mais. O entorpecimento no coração tinha tornado conta do corpo todo. - Você sempre faz o que ela manda? Sabe, hoje nós temos uma expressão para isso: capacho de mulher.
Aparentemente ele não conhecia a expressão, ou simplesmente não se importava, já que continuou vindo. Diego usava esporas, e elas faziam um barulho sinistro nas telhas da varanda.
- Sabe - falei, mantendo a posição. - Vou lhe dizer uma coisa. Sabe esse cavanhaque? É, está totalmente por fora. E, sabe, essas jóias estão mais por fora ainda. É só algo em que talvez você queira pensar. Na verdade acho bom você ter aparecido, porque eu queria lhe dizer umas coisinhas. Número um: sabe sua mulher? É, ela é uma vagabunda. E número dois: sabe aquela coisa de ter matado Jesse e depois enterrado os restos dele lá atrás? É, isso não foi maneiro. Porque veja bem, agora eu tenho de ...
Só que não tive chance de dizer a Felix Diego o que faria com ele. Porque ele me interrompeu. Falou numa voz profunda e surpreendentemente ameaçadora, para um cara de cavanhaque:
- Há muito tempo minha convicção é que mediador bom é mediador morto.
Então, antes que eu pudesse ao menos piscar, ele lançou os braços em volta de mim. Achei que estava tentando me abraçar, ou algo do tipo, o que teria sido bem estranho.
Mas não era isso que ele estava fazendo. Não. O que estava fazendo, na verdade, era me jogar do telhado da varanda.
Ah, sim. Ele me jogou bem no buraco onde a minipiscina quente ficaria. Bem onde haviam encontrado os restos de Jesse, naquela tarde mesmo.
O que achei meio irônico, na verdade. Pelo menos enquanto ainda fui capaz de pensar.
O que não durou muito, já que perdi a consciência pouco depois de bater no chão.
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