Capítulo 12 > (Hora mais sombria)

- Pela ultima vez, Suzannah -disse o padre Dominic. Desta vez bateu no volante para dar ênfase enquanto falava. - O que você está pedindo é impossível!
Revirei os olhos.
- Olá? O que aconteceu com a fé? Achei que, se a gente tem fé, tudo é possível!
O padre D. não gostava de ter suas próprias palavras laçadas de volta. Dava para ver pelo modo como ele fazia careta para o reflexo dos carros que vinham atrás de nós, pelo retrovisor.
- Então deixe-me dizer que o que você esta sugerindo tem muito pouca chance de dar certo.
Dirigir em Carmel não é fácil, já que as casas não tem número e os turistas não conseguem, de jeito nenhum, descobrir para onde estão indo. E o trânsito, claro, é de noventa e oito por cento de turistas. O padre D. estava suficientemente frustrado por nossos esforços de ir aonde íamos. Meu anúncio, ainda no quarto, de que queria que ele me exorcizasse, também não estava ajudando em seu humor.
- Para não mencionar o fato de que é antiético, imoral e provavelmente muito perigoso - concluiu ele enquanto acenava para uma minivan nos ultrapassar.
- Certo – falei. - Mas não é imposslvel.
- Você parece estar esquecendo uma coisa. Você não é fantasma, nem esta possuída por um.
- Sei disso. Mas eu tenho um espírito, certo? Quero dizer, uma alma. Então por que o senhor não pode exorcizá-la? Assim eu posso ir ... o senhor sabe, dar uma olhada, ver se consigo achá-lo, e, se achar, trazê-lo de volta. - E acrescentei como um pensamento de ultima hora: - Se ele quiser vir, claro.
- Suzannah. - O padre Dom estava realmente chateado comigo, dava para ver totalmente. Lá em casa tudo tinha estado certo, quando chorei e coisa e tal. Mas então tive essa idéia fantástica.
Só que, veja bem, o padre Dominic não achava a idéia tão fantástica. Eu pessoalmente achei brilhante. Não podia acreditar que não tivesse pensado nisso antes. Acho que meu cérebro foi meio espremido com a concussão.
Mas não havia motivo para o plano não dar certo.
Nenhum motivo.
- Não - disse ele. Coisa que vinha fazendo desde que falei nisso pela primeira vez. - O que você esta sugerindo, Suzannah, nunca foi feito. Não há a menor garantia de que funcione. Ou que, se funcionar, você poderá retomar ao corpo.
- É aí que entra a corda.
- Não! - gritou o padre Dominic.
Ele teve de pisar no freio naquele instante, porque um ônibus de turismo surgiu do nada e, como não havia sinais de transito no centro de Carmel, freqüentemente havia diferenças de opinião quanto a quem tinha a preferência nos cruzamentos. Ouvi a água benta chacoalhar, ainda no frasco na bolsa dele sobre o banco de trás.
Era de pensar que não teria sobrado nenhuma, depois de toda a quantidade que o padre D. borrifou na nossa casa. Aquele negócio voou para todo lado. Eu esperava que ele estivesse certo quanto a Maria e Felix serem católicos demais para ousar atravessar a soleira de uma casa recém -abençoada. Porque, se estivesse errado, eu tinha me feito de imbecil diante de Dunga sem qualquer motivo. Dunga ficou falando "Por que o senhor está fazendo isso, padre D.?" quando o padre entrou no seu quarto com o aspersório, que por acaso era o nome daquela coisa parecida com a colher de tirar sorvete. .
- Porque sua irmã pediu - respondeu o padre Dom enquanto jogava água benta sobre o banco de ginástica de Dunga, provavelmente a única vez em que aquela coisa chegou perto de ser limpa.
- Suze pediu para o senhor abençoar meu quarto? - Pude ouvir a voz de Dunga do outro lado do corredor, enquanto ainda estava no meu quarto. Tenho certeza de que nenhum dos dois sabia que eu estava escutando.
- Ela pediu para eu benzer a casa. Suzannah ficou muito perturbada com o esqueleto no quintal dos fundos, como tenho certeza de que você sabe. Agradeceria tremendamente se você lhe mostrasse um pouquinho de gentileza nos próximos dias, Bradley.
Bradley! No meu quarto, comecei a rir. Bradley! Imagina só!
Não sei o que Dunga respondeu à sugestão, feita pelo padre Dom, de que fosse mais legal comigo, porque aproveitei a oportunidade para tomar banho e vestir uma roupa civilizada. Achei que doze horas eram mais do que suficientes para ficar com agasalho de moletom. Mais do que isso, francamente, e você vai acabar chafurdando na própria tristeza. Jesse não iria querer que o sofrimento por causa dele afetasse meu agora famoso sentido de moda.
Além disso, eu tinha um plano.
E foi assim que, banhada, maquiada e vestida com o que eu considerava o auge do estilo mediadora-chique na forma de um vestidinho justo e sandálias, senti-me preparada para dominar não apenas os lacaios de Satã mas também os funcionários do Pinhão de Carmel, diante de cuja redação o padre D. tinha prometido me deixar. Veja bem, eu ainda não havia deduzido um modo de trazer Jesse de volta: tinha deduzido um modo de vingar a morte de Clive Clemmings, para não mencionar a de seu avô.
Ah, sim. Ainda estava furiosa. Mas pelo bem.
- Está fora de questão, Suzannah - disse o padre Dominic. - Portanto, tire essa idéia da cabeça. Onde quer que se encontre agora, Jesse está num lugar melhor do que antes. Deixe-o descansar.
- Ótimo - falei. Paramos diante de um prédio baixo, sombreado por pinheiros. A sede do jornal local.
- Ótimo - respondeu o padre Dominic, estacionando o carro numa vaga. - Vou esperar você aqui. Acho que provavelmente seria melhor se eu não entrasse.
- Provavelmente. E não precisa esperar. Eu acho o caminho de casa.
Soltei o cinto de segurança.
- Suzannah.
Levantei os óculos escuros e o espiei.
- Sim?
- Vou esperar você aqui. Nós dois ainda temos muito trabalho a fazer.
Franzi o rosto.
-Temos?
- Maria e Diego -lembrou com gentileza o padre D. - Você está protegida dos dois em casa, mas eles ainda estão a solta e acho que ficarão tremendamente furiosos quando perceberem que você não está morta. - Eu tinha finalmente desmoronado e explicado a ele o que aconteceu com minha cabeça. - Precisamos fazer os preparativos para enfrentá-los.
- Ah. Isso.
Claro que eu tinha esquecido tudo a respeito. Não porque achasse que Maria e seu marido precisavam ser enfrentados, mas porque sabia que minha idéia de enfrentá-los e a idéia do padre D. não iriam exatamente combinar. Quero dizer os padres não são exatamente fanáticos por espancar adversários até transformá-los em pasta. São mais do tipo argumentação gentil!
- Claro - falei - É. Vamos fazer isso.
- É, claro ... - o padre D. estava realmente estranho.
Percebi o motivo quando as próximas palavras que saíram de sua boca foram: - Temos de decidir o que será feito com os restos de Jesse.
Os restos de Jesse. As palavras me acertaram como dois socos. Os restos de Jesse. Ah, meu Deus.
- Eu estava pensando - disse o padre Dominic, ainda escolhendo as palavras com cautela elaborada - em fazer um pedido formal ao legista para que os restos fossem transferidos a Igreja, para serem enterrados no cemitério da Missão. Você concorda que isso seria adequado?
Algo cresceu em minha garganta. Tentei engolir.
- Sim. - Mas a resposta saiu com um som esquisito. - Que tal uma lápide?
- Bem, isso pode ser difícil, já que duvido tremendamente de que o legista possa fazer uma identificação positiva.
Certo. Não existiam raios-X dentários na época em que Jesse estava vivo.
- Talvez uma cruz simples ... - disse o padre Dominic.
- Não. Uma lápide. Tenho três mil dólares. - E mais, se devolvesse todos aqueles sapatos Jimmy Choo. Ainda bem que tinha guardado as notas de compra. Quem precisava de um guarda-roupa de outono, afinal? - O senhor acha que basta?
- Ah. - O padre Dominic ficou sem jeito. - Suzannah, eu ...
- Pode dizer. - De repente achei que não podia mais ficar ali sentada discutindo com ele. Abri a porta do carona. - É melhor eu ir. Vejo o senhor daqui a pouco.
E comecei a sair do carro.
Mas não fui suficientemente rápida. O padre D. chamou meu nome de novo.
- Escute, Suzannah. Não é que eu não queira que haja algo possível de ser feito para trazer Jesse de volta. Eu também gostaria que ele pudesse, como você disse, ter encontrado seu próprio modo de ir para onde deveria, depois da morte. Gostaria mesmo. Só não acho que ir aos extremos que você esta sugerindo seja ... bem, necessário. E certamente não acho que ele desejaria isso, que você arriscasse a vida por ele.
Pensei no assunto. Pensei mesmo. O padre D. estava absolutamente certo, claro. Jesse não iria querer que eu arriscasse a vida por ele, nunca. Em especial considerando o fato de que ele nem tem mais. Quero dizer, uma vida.
Mas vamos encarar os fatos: Jesse é de uma era ligeiramente diferente. Quando ele nasceu, as garotas passavam o tempo costurando. Não andavam por aí rotineiramente dando porrada como fazemos agora. E mesmo que Jesse tenha me visto dando porrada um milhão de vezes, isso ainda o deixa nervoso, dá para ver totalmente. Quero dizer, ele até ficou surpreso quando ficou sabendo de Maria e sua faca. Acho que é meio compreensível. Imagine só, a pequena srta. Saia-Balão cortando gargantas?
Mesmo assim, até depois de um século e meio sabendo que ela é que havia ordenado sua morte, isso o deixava totalmente pirado. Quero dizer, esse negócio de machismo vai fundo. Não tem sido fácil curá-lo.
De qualquer modo, só estou dizendo que o padre D. estava certo: Jesse definitivamente não iria querer que eu arriscasse a vida por ele.
Mas nem sempre temos o que queremos, não é?
- Ótimo - falei de novo. Seria de pensar que o padre D. notaria como eu tinha ficado conformada, de repente. Quero dizer, será que ele não percebeu que não era a unica pessoa na cidade que poderia me ajudar? Eu tinha um novo ás na manga, e ele nem sabia.
- Volto num instante - falei com um sorriso de cem watts, que se abria de um canto a outro da boca.
Então me virei e entrei no escritório do Pinhão de Carmel, como se fosse colocar um anuncio pessoal ou algo do tipo. O que eu estava fazendo, claro, era algo muitíssimo mais insidioso.
- Cee Cee Webb esta aí? - perguntei ao garoto espinhento da recepção.
Ele ergueu os olhos, espantado. Não sei o que o pirou mais, meu vestido justo ou o fato de eu ter pedido para ver Cee Cee.
- Ali - disse ele, apontando. Sua voz estremeceu para todo canto.
Obrigada.
E fui andando por um corredor comprido e bagunçado, passando por um monte de jornalistas diligentes que digitavam ansiosos suas matérias sobre a recente onda de roubo de sinos de vento nas varandas das pessoas, e o problema mais alarmante de estacionar diante do correio.
Cee Cee estava num cubículo nos fundos. Parecia ser o cubículo da máquina copiadora, porque era isso que ela estava fazendo: tirando cópias.
- Ah, meu Deus - disse ela quando me viu. - O que você está fazendo aqui?
Mas não falou isso de modo infeliz.
- Visitando os pobres - respondi, e me acomodei numa cadeira ao lado da máquina de fax.
- Dá para ver. - Cee Cee estava levando muito a sério seu papel de repórter. O cabelo comprido, branco e liso, estava num coque no topo da cabeça, preso com um lápis numero dois, e havia uma mancha de toner numa das bochechas rosadas. - Por que não está no hotel?
- Dia da saúde mental. Por causa do cadáver que acharam no nosso quintal dos fundos ontem.
Cee Cee largou uma resma de papeis.
- Ah, meu Deus! Eram vocês? Quero dizer, na seção policial mencionaram que os legistas foram às colinas, mas alguém disse que devia ser um cemitério indígena ou algo assim ...
- Ah, não. A não ser que os índios por aqui usassem esporas.
- Esporas? - Cee Cee pegou um bloco de notas que estava sobre a copiadora, depois tirou o lápis do coque na cabeça, fazendo o cabelo comprido cair sobre os ombros. Como é albina, Cee Cee mantém quase toda a pele protegida do sol o tempo inteiro, mesmo quando está trabalhando num escritório. Hoje não era exceção. Apesar do calor lá fora, estava usando jeans e um suéter marrom com botões.
Por outro lado, o ar-condicionado dali precisava ficar no máximo. Era como uma geladeira.
- Desembuche - disse Cee Cee, empoleirada na beira da mesa que sustentava a máquina de fax.
Desembuchei. Desembuchei tudo. Tudo, desde as cartas que Dunga havia encontrado até minha ida ao escritório de Clive, e até sua morte prematura na véspera. Mencionei o livro do avô de Clive, Jesse e o papel histórico significativo que minha casa havia representado no assassinato dele. Contei sobre Maria, Diego e seus filhos imprestáveis, o fato de que o retrato de Jesse tinha desaparecido da sociedade histórica e minhas suspeitas de que o esqueleto encontrado no quintal dos fundos pertencia a ele.
Quando terminei, Cee Cee ergueu o olhar do bloco e disse: - Nossa, Simon. Isso poderia ser o filme da semana.
- No canal Vida - concordei.
Cee Cee apontou para mim com o lápis.
- Tiffany Amber Thiessen poderia fazer o papel de Maria.
- E aí? Você vai publicar?
- Claro! Puxa, tem tudo: romance, assassinato, intriga e interesse local. É uma pena que quase todo mundo envolvido esteja morto há cem anos ou mais. Mesmo assim posso conseguir com o legista a informação de que seu esqueleto era de alguém do sexo masculino com vinte e poucos anos ... Alguma idéia de como eles fizeram isso? Quero dizer, como o mataram?
Pensei em Dunga e sua pá.
- Bem, se atiraram na cabeça dele, duvido que o legista possa dizer, graças a técnica de escavação delicada de Brad.
Cee Cee me olhou.
- Quer meu suéter emprestado? Surpresa, balancei a cabeça.
- Por que?
- Você está tremendo.
Estava, mas não por causa do frio.
- Tudo bem. Olha, Cee Cee, é realmente importante que você consiga que publiquem essa matéria. E tem de fazer isso logo. Tipo amanhã.
- Ah, eu sei - disse ela, sem erguer a cabeça de novo do bloco. - E acho que vai ficar ótima ao lado do obituário do dr. Clemmings, sabe. Já que era projeto em que ele estava trabalhando quando morreu. Esse tipo de coisa.
- Então, vai ser publicada amanhã? Você acha que será amanhã?
Cee Cee deu de ombros.
- Só vão querer publicar quando conseguirem o relatório do legista sobre o corpo. E isso pode levar semanas.
Semanas? Eu não tinha semanas. E, ainda que Cee Cee não soubesse, ela também não tinha semanas.
Agora eu estava tremendo incontrolavelmente. Porque havia percebido, claro, o que tinha acabado de fazer: posto Cee Cee no mesmo tipo de risco em que havia colocado Clive Clemmings. Clive estivera bem, ate que Maria o escutou contando ao ditafone o que eu tinha dito sobre Jesse. Então, mais depressa do que você pode dizer Assombração, ele estava sofrendo de um ataque cardíaco induzido. Será que eu tinha acabado de condenar Cee Cee ao mesmo fim medonho? Ainda que eu duvidasse tremendamente de que Maria fosse invadir o escritório do Pinhão de Carmel do modo como fizera com a Sociedade Histórica de Carmel, havia uma chance de ela descobrir o que eu tinha feito.
A matéria precisava ser publicada imediatamente.
Quanto mais cedo as pessoas soubessem da verdade sobre Maria e Felix Diego, melhores as chances de eles não me matarem - ou de matarem as pessoas de quem eu gostava.
- Tem de ser publicada amanhã – falei. - Por favor, Cee Cee. Você não pode ligar para o legista e conseguir alguma declaração extra-oficial?
Então Cee Cee ergueu os olhos que estavam fixos no bloco. Ergueu os olhos e disse:
- Suze. Por que a pressa? Essas pessoas estão mortas, sei lá, há seculos. O que importa?
- Importa. - Meus dentes estavam começando a chacoalhar. - Realmente importa, certo, Cee Cee? Por favor, por favor, garanta que vai apressar. E prometa que não falará sobre isso. Quero dizer, sobre a matéria. Fora da redação. É realmente importante que você guarde segredo.
Cee Cee passou a mão no meu ombro nu. Seus dedos estavam quentes e macios.
- Suze - disse ela me espiando com intensidade. - O que você fez com sua cabeça? De onde veio esse hematoma gigante embaixo da franja?
Empurrei meu cabelo, sem graça.
- Ah. Tropecei. Cai num buraco. O buraco onde acharam o corpo, não é engraçado?
Cee Cee não pareceu achar nem um pouco engraçado.
- Já pediu para um médico olhar isso? Porque está bem feio. Você pode ter tido uma concussão, ou algo assim.
- Estou bem - respondi me levantando. - Verdade. Não é nada. Olha, é melhor eu ir. Lembre-se do que eu disse, está bem? Sobre a matéria. É realmente importante não falar com ninguém. E conseguir que publiquem o mais cedo posssível. Preciso que muita gente veja. Muita gente. Elas precisam ver a verdade. Você sabe. Sobre os Diego.
Cee Cee me encarou.
- Suze. Tem certeza de que você esta bem? Quero dizer, desde quando você se importa com a oligarquia local?
Gaguejei enquanto recuava pelo cubículo.
- Bem, desde que conheci o dr. Clemmings, acho. Quero dizer, é uma verdadeira tragédia as pessoas não darem importância à sociedade histórica da comunidade, quando você sabe que, realmente, sem ela, o tecido da ...
- Você precisa ir para casa e tomar uma aspirina - interrompeu Cee Cee.
- Está certa - falei, pegando a bolsa que combinava com o vestido: cor-de-rosa com pequenas flores bordadas. Eu estava compensando exageradamente pelos dias que tivera de usar aquele short caqui. - Já vou indo. Vejo você depois.
E sai antes que minha cabeça explodisse na frente de todo mundo.
Mas no caminho de volta ao carro do padre Dominic percebi que o motivo para eu estar tremendo no cubículo da copiadora não era o ar-condicionado no máximo, o fato de Jesse ter ido embora ou mesmo o fato de que dois fantasmas homicidas tentavam me matar.
Não. Estava tremendo pelo que sabia que ia fazer. Quando cheguei ao carro, curvei-me e falei pela janela do carona:
- Ei.
O padre Dominic levou um susto e jogou alguma coisa pela janela do motorista.
Mas era tarde demais. Eu já tinha visto o que ele estivera fazendo. Além disso, podia sentir o cheiro.
- Ei - falei de novo. - Me dá um desses.
- Suzannah. - O padre Dominic estava sério. - Não seja ridícula. Fumar é um vício horrível. Acredite, você não quer se viciar. Como foram as coisas com a srta. Webb?
-Ah. Bem.
Tenho certeza de que é pecado mentir para um padre, mesmo uma mentirinha que certamente não pode lhe fazer mal. Mas o que eu deveria fazer? Eu o conheço. E sei que ele vai ficar completamente rígido com o negócio do exorcismo.
Portanto, o que mais poderia fazer?
- Ela quer que eu fique aqui e ajude a escrever. Quero dizer, a matéria.
As sobrancelhas brancas do padre Dominic se encontraram sobre a armação prateada dos óculos.
- Suzannah, nós temos muita coisa para fazer esta tarde ...
- É. Eu sei. Mas isso é muito importante. Que tal encontrar o senhor no seu escritório, na Missão, às cinco?
O padre hesitou. Dava para ver que ele achava que eu ia aprontar alguma coisa. Não pergunte como. Quero dizer, sou bem capaz de fazer o tipo angelical, quando decido.
- Cinco horas - disse ele por fim. - E nem um minuto mais tarde, Suzannah, estou dizendo agora mesmo: eu telefono para os seus pais e conto tudo.
- Cinco horas. Prometo.
Acenei enquanto o padre Dom se afastava, e então, só para o caso de ele estar olhando pelo retrovisor, fingi que voltava ao prédio do jornal.
Mas em vez disso passei pelos fundos e fui para o Pebble Beach Hotel and Golf Resort.
Tinha negócios inacabados lá.

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