2. Fevereiro: O massacre do Dia dos Namorados

57 kg, 9 unidades alcoólicas, 28 cigarros (mas vou parar logo na Quaresma, então posso muito bem
fumar desesperadamente), 3.826 calorias.
 
Passei o fim de semana lutando para ficar blasée depois da derrota com Daniel. Fiquei
repetindo as palavras “amor-próprio" e "argh" sem parar até ficar tonta, tentando reprimir:
"Mas eu gosto tanto dele." Fumei horrores. Parece que existe um tipo de fumante tão viciado
que fica querendo um cigarro até quando já está fumando. Sou eu. Foi bom ligar para Sharon
e ficar ironizando o fato de eu ser Dona Calcinhas de Ferro mas quando liguei para Tom ele
percebeu logo como eu estava e falou: "Ah, minha queridinha," o que me fez ficar quieta para
não cair no choro com pena de mim mesma.
— É só esperar — avisou Tom. — Ele agora vai ficar implorando para sair com você.
Implorando.
— Não vai, não — respondi desolada. — Eu estraguei tudo.
No domingo fui a um grande almoço cheio de calorias na casa dos meus pais. Mamãe
estava toda de laranja berrante e falando como nunca, tinha acabado de passar uma semana
em Albufeira, Portugal, com Una Alconbury e Audrey, a mulher de Nigel Coles.
Mamãe foi à missa e de repente teve uma iluminação, como se fosse São Paulo-acaminho-
de-Damasco: o padre era gay.
— É pura preguiça, querida — foi a conclusão dela a respeito de toda a problemática
homossexual. — Eles simplesmente não querem se dar ao trabalho de manter relações com o
sexo oposto. Veja o seu amigo Tom. Se tivesse alguma coisa na cabeça, ele sairia com você
do jeito certo, em vez de ficar com essa história ridícula de "somos amigos".
— Mãe, Tom sabe que é homossexual desde os dez anos de idade — garanti.
— Ah, querida! Francamente! Você sabe como as pessoas chegam a essas conclusões
idiotas. Sempre dá para convencê-las do contrário.
— Você quer dizer que se eu for bem convincente você é capaz de largar papai e começar
um caso com a tia Audrey?
— Bom, assim você está exagerando, querida.
— É mesmo — concordou papai. — A tia Audrey parece um bujão.
— Ah, por favor, Colin — disse mamãe, de um jeito agressivo, o que achei esquisito, já
que não costuma ser assim com papai.
Antes de eu ir embora, estranhamente, meu pai insistiu em fazer um exame completo no
meu carro, embora eu lhe garantisse que tudo estava funcionando. O único problema foi que
não consegui lembrar como é que abria o capô.
— Você notou alguma coisa estranha em sua mãe? — perguntou ele meio sem jeito,
enquanto empunhava a vareta do óleo, limpando-a num pano e enfiando de novo no motor, de
um jeito que os freudianos achariam preocupante. Eu não sou freudiana.
— Estranha? Quer dizer, fora o fato de estar de laranja berrante? — perguntei.
— Sim, bom, fora as, ahn, qualidades de sempre.
— Ela parecia particularmente irritada com os gays.
— Ah, o problema não é esse, hoje de manhã ela não gostou do novo hábito do padre, só
isso. Para ser sincero, a roupa tinha mesmo frufrus demais. O padre acabou de chegar de
Roma com o abade de Dumfries. Estava de rosa dos pés à cabeça. Mas não era a isso que
estava me referindo: perguntei se recentemente você notou alguma coisa diferente em sua
mãe. Tentei lembrar.
— Sinceramente, acho que não, exceto uma espécie de agitação e segurança.
— Humm — resmungou ele. — É melhor você pegar a estrada antes que anoiteça. Mande
um beijo para a Jude. Ela vai bem?
Papai fechou o capô de um jeito decidido, tipo agora vamos, com tanta força que achei que
podia ter quebrado a mão.
Pensei que na segunda-feira estaria tudo resolvido em relação a Daniel mas ele não foi
trabalhar. Também não foi ontem. Trabalhar passou a ser como ir a uma festa para ver se se
sai de lá com alguém e descobrir que a pessoa não foi. Me preocupo com ambição, chances
na carreira e seriedade moral, já que tudo parece estar reduzido a uma resta de escoteiros.
Consegui arrancar de Perpétua a informação de que Daniel tinha ido a Nova York. A essa
altura ele deve estar saindo com uma americana magrinha e certinha chamada Winona, que é
desinibida, anda armada e é tudo o que eu não sou.
Como se não bastasse, à noite tenho de ir ao jantar dos Bem-Casados na casa de Magda e
Jeremy. Esse tipo de festa sempre faz o meu ego ficar do tamanho de um caracol, embora eu
goste de ser convidada. Adoro Magda e Jeremy. Às vezes vou à casa deles e fico embevecida
com os lençóis novinhos e os potes cheios de tipos diferentes de macarrão, fazendo de conta
que eles são meus pais. Mas quando eles chamam os casais amigos me sinto como se tivesse
me transformado numa solteirona.
23h45. Ai, Deus. Os convidados do jantar eram eu, quatro casais e o irmão de Jeremy (nem
pensar, suspensórios e rosto vermelhos. Chama as garotas de fofinhas).
— E então? — berrou Cosmo, servindo um drinque para mim. — Como vai sua vida
amorosa?
Ai, não. Por que eles fazem isso? Por quê? Vai ver que os jovens casais só se relacionam
com outros jovens casais e não têm mais assunto com solteiros. Vai ver que, no fundo, eles
querem nos inferiorizar e nos fazer nos sentir como seres humanos fracassados. Ou talvez
estejam num tal estado de excitação que imaginam que "tem muita coisa rolando no mundo lá
fora" e querem grandes emoções ouvindo os detalhes escabrosos da nossa vida sexual.
— É mesmo, por que você ainda não casou, Bridget? - perguntou Woney, com um sorriso
irônico e um toque de preocupação, enquanto passava a mão na barriga de grávida (Woney é
o apelido que Fiona tinha quando criança; ela é casada com Cosmo, amigo de Jeremy).
"Porque eu não quero ficar como você, sua gorda chata, vaca leiteira", era o que eu devia
ter dito, ou "Porque se eu tivesse de fazer o jantar para Cosmo, depois ir para a cama com ele,
mesmo que fosse uma vez só, quanto mais toda noite, eu preferia cortar a cabeça e depois comê-
la", ou "Porque, na verdade, Woney, por baixo da roupa, meu corpo é coberto de
escamas". Mas não disse isso porque, por incrível que pareça, eu não queria magoá-la. Então
dei um sorriso sem graça e alguém chamado Alex disse com uma voz fininha:
— Sabe como é, depois que você chega numa certa idade...
— Exatamente. Todos os sujeitos legais já foram agarrados — disse Cosmo, batendo no
barrigão e rindo tanto que suas bochechas balançaram. O lugar que Magda escolheu para mim
na mesa fez que eu parecesse um sanduíche incestuoso: entre Cosmo e o chatíssimo irmão de
Jeremy.
— Olha, minha cara, você tem que se apressar e dar um jeito nisso — disse Cosmo,
enquanto engolia meia garrafa de um Pauillac 82. — O tempo não pára.
A essa altura, eu também já tinha tomado meia garrafa do Pauillac 82.
— Hoje as estatísticas dizem que um em cada três casamentos termina em divórcio, ou um
em cada dois? — perguntei, enrolando um pouco as palavras, tentando ser sarcástica.
— Falando sério, minha cara — disse ele, ignorando minha pergunta. — O escritório está
cheio de solteiras com mais de trinta anos. Mulheres lindas. Mas não conseguem arrumar um
cara.
— Na verdade, não é um problema que eu tenha — falei, acenando com meu cigarro.
— Aaah. Conta mais — disse Woney.
— Quem é ele? — perguntou Cosmo.
— Tem dado umas trepadinhas, minha cara? — perguntou Jeremy. Todos os olhos se
viraram para mim. Bocas abertas, salivando.
— Não é da conta de vocês — disse eu, com arrogância.
— Então não existe homem nenhum! — grasnou Cosmo.
— Ah, nossa, são onze da noite — constatou Woney. — A baby-sitter! — e todos se
levantaram e começaram a se aprontar para ir embora.
— Olha, desculpe essa história, meu bem. Você está legal? — falou Magda baixinho,
sabendo como eu estava me sentindo.
— Quer uma carona? — perguntou o irmão de Jeremy, dando um arroto.
— Na verdade, eu vou a uma boate — disse eu, correndo para a rua — Obrigada pelo
jantar! — Aí, peguei um táxi e caí em prantos.
Meia-noite. Argh, argh. Acabei de falar com Sharon.
—Você devia ter dito: "Não me casei porque sou um tipo de gente especial, seus idiotas,
velhos precoces, caretas chatos." — disse Sharon irada. — "E porque há outras formas de
viver a vida: uma em cada quatro pessoas mora sozinha, a maioria dos membros da Família
Real é solteira e, segundo uma pesquisa, ficou provado que os homens do país são
completamente incasáveis, e o resultado é que existe uma geração inteira de garotas solteiras
como eu, com renda e casa própria, que se divertem à beça e não precisam lavar as meias de
ninguém. Nós ficaríamos muito felizes se pessoas como vocês não fizessem a gente se sentir
idiota só porque têm inveja da vida que levamos."
—Tipo de gente especial! — gritei, feliz. — Vivam os especiais!

DOMINGO, 5 DE FEVEREIRO

Ainda sem qualquer notícia de Daniel. Não posso nem pensar no domingo se esvaindo,
enquanto o mundo inteiro a não ser eu está na cama com alguém rindo e fazendo sexo. O pior
é que falta pouco mais de uma semana para eu passar pela humilhação do Dia dos
Namorados. Claro que não vou receber nenhum cartão. Pensei em paquerar insistentemente
alguém que pudesse me mandar um, mas afastei a idéia por achá-la imoral. Melhor enfrentar a
realidade de frente.
Humm. Boa idéia. Acho que vou visitar meus pais outra vez, já que estou preocupada com
papai. Depois me sentirei como um anjo da guarda ou uma santa.
14h. O único tapete antiderrapante que ainda restava sob meus pés foi puxado. Minha
generosa sugestão de visita surpresa foi recebida com um jeito estranho de papai ao telefone.
—Errr... Vir aqui, não sei, querida. Pode aguardar um instante?
Fiquei perdida. Em parte, a arrogância da juventude (eu disse "juventude") é a certeza de
que os pais vão parar qualquer coisa que estejam fazendo e abrir os braços para me receber na
hora em que eu resolver aparecer. Meu pai voltou ao telefone.
— Olha, Bridget, sua mãe e eu estamos com alguns problemas. Podemos ligar depois,
durante a semana?
Problemas? Que problemas? Tentei fazer papai me explicar mas não consegui. O que está
acontecendo? Será que o mundo inteiro está condenado a traumas emocionais? Coitado do
papai. Será que agora, para completar, serei a pobre vítima de um lar desfeito?

SEGUNDA, 6 DE FEVEREIRO

56,2 kg (mistério: meu peso sumiu), 1 unidade alcoólica (m.b.), 9 cigarros (m.b.), 1.800 calorias (b.).

Daniel volta hoje para o escritório. Vou ficar centrada e distante e me lembrar que sou uma
mulher de fibra e não preciso de homem para me completar, principalmente ele. Não vou
mandar nenhuma mensagem pelo computador nem tomar conhecimento dele.
9h30. Hum, parece que Daniel ainda não chegou.
9h34. Nenhum sinal de Daniel.
9h35. Ai, meu Deus. Ai, meu Deus. Ele deve ter se apaixonado em Nova York e ficado por lá.
9h47. Vai ver que foi para Las Vegas casar.
9h50. Humm. Acho que vou dar uma checada na maquiagem, pode ser que ele apareça.
10h05. Meu coração deu um salto quando voltei do toalete e vi Daniel com Simon do
Marketing, ao lado da xerox. Da última vez que o vi ele estava deitado no sofá do
apartamento dele com uma cara perdida, enquanto eu fechava a saia e dissertava sobre
babaquice emocional. Agora estava com uma cara ótima e saudável, tipo "estive viajando".
Quando passei pela porta, ele olhou direto para minha saia e deu um grande sorriso.
10h30. Chegaram Novas Mensagens acendeu na tela. Teclei o Sim.
Mensagem para Jones
Gata frígida.
Cleave.
Tive de rir, não consegui evitar. Quando olhei para sua salinha envidraçada, ele estava
rindo para mim de um jeito aliviado e carinhoso. Mas não vou responder.
10h35. Parece uma grosseria não responder.
10h37. Nossa, estou num tédio mortal.
10h45. Vou mandar só um recadinho simpático, nada sedutor, só para reatar relações.
11h. Rá, rá. Entrei no sistema como Perpétua para assustar Daniel.
Mensagem para Cleave
Já é tão difícil fazer um bom trabalho, atingir as metas, e os colegas ainda ficam
usando o tempo da minha equipe para mandar mensagens fúteis pelo computador.
Perpétua
P.S.: A saia de Bridget não está se sentindo muito bem e foi mandada para casa.
22h. Humm. Daniel e eu trocamos mensagens o dia inteiro. Mas não tenho a menor intenção
de ir para a cama com ele.
Liguei para meus pais hoje à noite e ninguém atendeu. Mto estranho.

QUINTA-FEIRA, 9 DE FEVEREIRO

58 kg (gordura em excesso, provavelmente causada pela camada protetora contra o frio da baleia),
4 unidades alcoólicas, 12 cigarros (m. b.), 2.845 calorias (mto frio).

21h. Estou adorando os encantos do inverno, eles nos mostram que estamos à mercê dos
elementos da natureza e não devemos nos apegar muito a hábitos sofisticados nem trabalhar
demais, mas sim nos manter aquecidos e assistir à tevê.
Liguei para meus pais pela terceira vez esta semana e ninguém atendeu. Será que a neve
deixou o bairro deles isolado do mundo? Preocupada, liguei para meu irmão James, em
Manchester, só para ouvir um dos seus recados hilários na secretária eletrônica: som de água
correndo e Jamie fingindo que é o presidente Clinton na Casa Branca, depois uma descarga de
privada e o risinho da sua namorada patética ao fundo.
21hl5. Liguei três vezes seguidas para meus pais, deixando tocar 20 vezes. Minha mãe
acabou atendendo com uma voz estranha dizendo que não podia falar mas ligaria para mim
no fim de semana.

SÁBADO, 11 DE FEVEREIRO

56,7 kg, 4 unidades alcoólicas, 18 cigarros, 1.467 calorias (queimadas durante as compras).

Acabei de chegar das compras e ouvi um recado que meu pai deixou na secretária
perguntando se podia almoçar comigo no domingo. Levei um susto. Meu pai não vem a
Londres sozinho para almoçar comigo aos domingos. Ele come rosbife, ou salmão com
batatas cozidas, em casa com mamãe.
— Não precisa ligar de volta — dizia o recado. — Encontro com você amanhã.
O que está acontecendo? Fui até a esquina, trêmula, louca por um cigarro. Quando voltei
tinha um recado da mamãe. Pelo que entendi, ela também vem para o almoço amanhã. Vai
trazer um pouco de salmão e chega à uma da tarde.
Liguei para Jamie e ouvi Bruce Springsteen cantando durante 20 segundos e depois Jamie
rosnando: "... seu tempo acabou."

DOMINGO, 12 DE FEVEREIRO

56,7 kg, 5n unidades alcoólicas, 23 cigarros (nenhuma surpresa), 1.647 calorias.

11h. Ai, Deus, é impossível conversar com papai e mamãe ao mesmo tempo. É dose para
leão. Vai ver que essa história de almoço é só uma brincadeira de pais que assistem a muito
programa de auditório na televisão. Vai ver que minha mãe vai chegar com um salmão vivo
numa coleira e anunciar que está trocando papai pelo salmão. Ou papai vai chegar plantando
bananeira na janela, vestido de bobo da corte, entrar quebrando tudo e começar a bater na
cabeça da mamãe com uma bexiga de ovelha; ou, de repente, cair do armário de vassouras de
cara no chão com uma faca de plástico enfiada nas costas. A única coisa capaz de colocar
tudo no lugar é um bloody mary. Afinal, já é quase meio-dia.
12h05. Mamãe ligou.
— Deixa ele ir, então — falou. — Deixa que faça o que bem entender, como sempre. —
(Minha mãe é incapaz de xingar alguém. Diz coisas do tipo "furibundo" e "ai, meu Santo
Pai".) — Não vou me alterar — continuou mamãe. — Vou ficar limpando a casa como uma
Amélia. — (Será que minha mãe estava de porre? Ela não bebe nada além de um único licor
de xerez nas noites de domingo desde 1952, quando ficou alegrinha com meio litro de sidra
na festa de 21 anos de Mavis Enderby e nunca mais esqueceu disso nem deixou ninguém
esquecer. "Nada pior que uma mulher bêbada, querida.")
— Mãe, escuta. Será que não podemos conversar os três juntos, no almoço? — perguntei,
como se fosse uma cena do filme Sintonia de amor que terminaria com meus pais de mãos
dadas e eu, de mochila, dando uma piscadela para a câmera.
— Espere um pouco — disse ela, soturna. — Você vai descobrir como os homens são.
— Mas eu já... — comecei.
— Vou sair, querida — disse ela. — Vou sair para transar.
Meu pai chegou às duas horas com um exemplar do Sunday Telegraph dobrado embaixo
do braço. Quando sentou no sofá fez uma careta e as lágrimas começaram a escorrer pelo
rosto dele.
— Ela está assim desde que foi para Albufeira com Una Alconbury e Audrey Coles —
soluçou ele, tentando secar as lágrimas com uma das mãos. — Quando voltou, começou a
dizer que queria receber salário para fazer o serviço doméstico e que tinha desperdiçado uma
vida inteira como nossa escrava. — (Nossa escrava? Eu sabia. Tudo culpa minha. Se eu fosse
uma pessoa melhor, mamãe não teria deixado de gostar do papai.) — Ela quer que eu saia de
casa durante um tempo e... e... — ele ficou chorando baixinho.
— E o quê, papai?
— Ela disse que eu achava que clitóris era alguma coisa que tinha a ver com a coleção de
borboletas de Nigel Coles.

SEGUNDA-FEIRA, 13 DE FEVEREIRO

57,6 kg, 5 unidades alcoólicas, 0 cigarro (o enriquecimento espiritual tira a vontade de fumar —
grande mudança), 2.845 calorias.

Apesar de estar aborrecida com o problema de meus pais, tenho de admitir um sentimento
paralelo e vergonhoso de pretensão quanto a meu novo papel de protetora e, como eu chamo,
de conselheira sensata. Há tanto tempo não faço alguma coisa por alguém que essa sensação é
totalmente nova e complexa. Era o que faltava na minha vida. Tenho tido umas fantasias de
virar samaritana ou professora de catecismo, fazer sopa para os sem-teto (ou, como sugeriu
meu amigo Tom, bruschette com molho ao pesto) ou até cursar medicina. Talvez fosse
melhor ainda eu sair com um médico, o que seria vantajoso tanto do ponto de vista sexual
quanto espiritual. Comecei a pensar até em pôr um anúncio na seção Corações Solitários dos
classificados do Lancet. Eu podia anotar os recados, dizer aos pacientes que quisessem visitas
médicas à noite para eles sumirem no mundo, fazer suflês de queijo de cabra para ele e,
quando chegasse aos 60 anos, estaria no maior tédio, igual a mamãe.
Ai, Deus. Amanhã é Dia dos Namorados. Por quê? Por quê? Por que o mundo faz com que
as pessoas sem romance se sintam idiotas quando todos sabem que romances não funcionam?
Basta ver a Família Real. Ou papai e mamãe.
O Dia dos Namorados não passa de uma promoção comercial, uma iniciativa cínica.
Merece toda a minha indiferença.

QUARTA-FEIRA, 14 DE FEVEREIRO

57 kg, 2 unidades alcoólicas (à altura do Dia dos Namorados: duas garrafas de cerveja
Beck, sozinha, argh), 12 cigarros, 1.545 calorias.

8h. Oh, ai. Dia dos Namorados. Será que o carteiro já passou? Pode ser que tenha um cartão
do Daniel. Ou de um admirador secreto. Um buquê de flores ou uma caixa de chocolates em
forma de coração. Estou bem agitada.
Momento de uma alegria selvagem ao ver um buquê de rosas na portaria do prédio.
Daniel! Desci a escada correndo e peguei o buquê toda feliz exatamente na hora em que a
porta do apartamento térreo abriu e Vanessa apareceu.
— Ah, que lindas flores! — disse ela, invejosa. — Quem mandou?
— Não sei! — respondi sem jeito, olhando o cartão. — Ah... são para você.
— Não tem problema. Olha, isso é para você — disse ela, me consolando. Era a conta do
cartão de crédito.
Resolvi que ia tomar um cappuccino e comer uns croissants de chocolate para me animar
antes de ir para o escritório. O corpo não me interessa. Não vale a pena, já que ninguém me
ama nem quer saber de mim.
No caminho para o trabalho, dentro do metrô, dava para ver quem tinha recebido cartão de
Dia dos Namorados e quem não tinha. As pessoas se entreolhavam tentando sorrir,
maliciosas, ou afastavam o olhar.
Cheguei no escritório e vi que na mesa de Perpétua tinha um buquê do tamanho de uma
ovelha.
— Então, Bridget! — cumprimentou ela, alto para todo mundo ouvir. — Você ganhou
quantos?
Caí na cadeira resmungando "cala a boca" entre dentes, como uma adolescente humilhada.
— Diga lá, quantos recebeu?
Achei que ela ia pegar minha orelha e puxar, ou alguma coisa assim.
— Eu sabia que você não tinha ganhado nenhum — grasnou Perpétua. Foi só aí que
percebi que Daniel estava ouvindo e rindo do outro lado da sala.

QUARTA-FEIRA, 15 DE FEVEREIRO

Surpresa inesperada. Estava saindo de casa para o trabalho quando vi um envelope rosa na
mesa da portaria — obviamente um cartão atrasado do Dia dos Namorados — endereçado "A
Bela Triste". Fiquei emocionada, imaginando que fosse para mim, e de repente me vi como
obscuro e misterioso objeto do desejo dos homens. Depois lembrei da droga da Vanessa e seu
sedutor cabelinho preto curto. Argh.
21h. Acabei de chegar e o cartão continua lá.
22h. Continua lá.
23h. Inacreditável. O cartão ainda está lá. Vai ver que Vanessa ainda não chegou.

QUINTA-FEIRA, 16 DE FEVEREIRO

56,2 kg (emagreci subindo e descendo as escadas), 0 unidade alcoólica (excelente), 5 cigarros
(excelente), 2.452 calorias (não m. b.), número de vezes que desci e subi escadas para ver o
envelope do Dia dos Namorados: 18 (psicologicamente negativo, mas ótimo exercício).

O cartão continua lá! Claro que deve ser como pegar a última barra de chocolate ou comer a
última fatia do bolo. Vanessa e eu somos muito educadas para fazer isso.

SEXTA-FEIRA, 17 DE FEVEREIRO

56,2 kg, 1 unidade alcoólica (m. b.), 2 cigarros (m b.), 3.241 calorias (ruim, mas queimadas na
escada), número de vezes que fui ver o cartão: 12 (obsessiva).

9h. O cartão continua lá.
21h. Continua lá.
21h30. Continua lá. Não agüento mais. Senti um cheiro de comida saindo do apartamento de
Vanessa, então bati na porta. Quando ela abriu, falei:
— Acho que isso deve ser para você — e mostrei o cartão.
— Ah, pensei que fosse para você.
— Vamos abrir? — sugeri.
— Vamos. — Entreguei a ela, que me devolveu, rindo. Devolvi. Adoro garotas.
— Abra — pedi, e ela cortou o envelope com a faca de cozinha que segurava. Era um
cartão artístico, devia ter sido comprado numa galeria de arte.
Ela fez uma careta.
— Não sei o que isso quer dizer - disse, me entregando o cartão.
O texto dizia: "Apenas uma exploração comercial, ridícula e sem sentido. Para minha
gatinha frígida."
Dei uma espécie de guincho agudo.
22h. Acabo de ligar para Sharon e contar tudo. Ela disse que eu não devia perder a cabeça por
causa de um cartão barato e devia esquecer o Daniel, já que ele não é uma pessoa muito
recomendável e não vai dar em nada que preste. Telefonei para saber a opinião do Tom,
principalmente sobre se eu deveria ligar para Daniel no fim de semana. "Nããããão!", gritou
ele. E perguntou várias coisas: por exemplo, como tinha sido o comportamento de Daniel nos
últimos dias quando, depois de mandar o cartão, eu não tinha demonstrado nada. Falei que ele
parecia mais sedutor do que nunca. Tom receitou aguardar até a próxima semana e continuar
indiferente.

SÁBADO, 18 DE FEVEREIRO

57kg, 4 unidades alcoólicas, 6 cigarros, 2746 calorias, 2 números certos na loteria (m.b).

Finalmente descobri o que há com meus pais. Estava começando a imaginar uma situação tipo
mulher-de-meia-idade-volta-de-férias-e-enlouquece e ia abrir o Sunday People e ver uma foto
da minha mãe com cabelo oxigenado e blusa de oncinha sentada num sofá com um sujeito
chamado Gonzalez de jeans delavê e declarando que, quando você gosta mesmo de um
homem, uma diferença de idade de 46 anos não é importante.
Hoje ela pediu para almoçarmos juntas no café da loja Dickens and Jones e fui logo
perguntando se ela estava saindo com algum homem.
—Não. Não há ninguém no meio dessa história — disse ela, fazendo um olhar distante
com um toque de corajosa resignação que garanto que copiou da Princesa Diana.
—Então por que você está sendo tão cruel com papai?
—Querida, apenas porque, quando seu pai se aposentou, eu percebi que tinha passado 35
anos da minha vida tomando conta da casa dele e criando seus filhos...
—Jamie e eu somos seus filhos também — interrompi, magoada.
—... e que ele tinha terminado seu trabalho mas o meu ia continuar sempre, exatamente
como eu me sentia quando vocês eram pequenos e chegava o fim de semana. A gente só vive
uma vez. É simples, eu tomei a decisão de mudar um pouco as coisas e passar o que ainda me
resta da vida cuidando de mim, para variar um pouco.
Quando fui ao caixa pagar a conta, fiquei pensando em tudo aquilo e tentando avaliar o
argumento de mamãe sob a ótica feminista. Nessa hora, vi um homem alto e distinto, de
cabelo grisalho, jaqueta de couro estilo europeu, carregando uma daquelas bolsas masculinas.
Ele procurava alguém no café, olhava o relógio, parecia nervoso. Dei uma olhada em volta e
vi minha mãe fazendo um movimento mudo com os lábios para dizer "Já estou indo" e me
indicando com um gesto.
Na hora, não comentei nada com mamãe, só me despedi, depois. Mas dei a volta no
quarteirão e fui atrás dela, para garantir que não estava imaginando coisas. Era isso mesmo: vi
quando ela entrou na seção de perfumes e ficou passeando com o bonitão, experimentando no
pulso todos os perfumes expostos, levantando o braço para ele cheirar e dando risadinhas
charmosas.
Quando cheguei em casa tinha um recado de Jamie na secretária. Liguei para ele na hora e
contei tudo.
— Ah, pelo amor de Deus, Bridget — disse ele, morrendo de rir. — Você tem tanta mania
de sexo que se visse mamãe recebendo a hóstia na comunhão ia achar que ela estava dando
uma chupada no padre. Você não recebeu nenhum cartão do Dia dos Namorados, não é?
— Fique sabendo que sim — disse eu, zangada. E ele caiu na gargalhada outra vez, depois
disse que tinha de desligar porque ia ao parque com Becca fazer tai chi.

DOMINGO, 19 DE FEVEREIRO

56,7kg (m.b, mas graças apenas a preocupações), 2 unidades alcoólicas (mas é o Dia do
Senhor), 7 cigarros, 2100 calorias.

Liguei para mamãe querendo uma explicação sobre o gostosão de meia-idade que vi com ela
depois do almoço.
— Ah, você deve estar falando do Julian — disse ela, com uma voz emocionada.
Sem querer, minha mãe se denunciou. Meus pais jamais se referem aos amigos apenas pelo
nome de batismo, É sempre Una Alconbury, Audrey Coles, Brian Enderby: "Você sabe quem
é o David Ricketts, querida. Casado com Anthea Ricketts, que participa dos almoços da
Associação Salva-Vidas."
No fundo, falam desse jeito porque sabem que não tenho a menor idéia de quem é Mavis
Enderby, o que não impede que falem sobre Brian e Mavis Enderby durante quarenta
minutos, como se eu os conhecesse desde os quatro anos.
Percebi logo que Julian não participava dos almoços da Associação Salva-Vidas, nem tinha
uma esposa que participava da Associação Salva-Vidas, do Rotary ou da Liga dos Amigos de
São Jorge. Percebi também que ela o tinha conhecido em Portugal antes do problema com
papai, e que era bem provável que se chamasse Julio e não Julian. Percebi, enfim, que Julio
era o problema com papai.
Comentei minha suspeita com ela. Ela negou. Chegou até a contar uma mentira muito
enrolada de que tinha esbarrado em "Julian" na loja de departamentos Marks and Spencer de
Marble Arch, deixando cair no chão sua nova terrina Le Creuset. Por isso, ele a convidou para
tomar um cafezinho na Selfridges e a partir de então nasceu uma relação completamente
platônica entre os dois que consistia apenas em idas a cafés de lojas de departamentos.
Por que será que, quando uma pessoa está largando um marido/mulher, acha que é melhor
fingir que não é causa de outro/a? Será que acham que é menos doloroso para o parceiro
pensar que vão se separar só porque não conseguem mais suportá-lo e então duas semanas
depois terem a sorte de encontrar um tipo alto, estilo Ornar Sharif com bolsa masculina,
enquanto o ex-parceiro passa as noites aos prantos cada vez que vê o copo de escovas de
dentes. É como aquelas pessoas que, em vez de dizerem a verdade, inventam uma mentira
para se desculpar, quando a verdade é melhor do que a mentira.
Uma vez ouvi meu amigo Simon cancelando um encontro com uma garota em quem
estava muito interessado porque estava com uma espinha amarela bem do lado direito do
nariz e todas as roupas na lavanderia. Foi trabalhar com uma jaqueta ridícula, dos anos 70,
pensando em pegar a jaqueta nova na lavanderia na hora do almoço, mas ela não tinha ficado
pronta.
Ele então deu tratos à bola para dizer à garota que não podia encontrá-la porque a irmã
tinha chegado de repente e ele precisava lhe fazer companhia e também assistir a uns vídeos
do escritório para o dia seguinte. A essa altura, a garota lembrou que ele disse que era filho
único e sugeriu que levasse os vídeos para ver na casa dela, enquanto ela fazia o jantar. Mas
não existiam vídeos do escritório para assistir, então precisou aumentar mais a mentira. Ele e
a garota só tinham saído duas vezes, mas ela acabou achando que ele estava saindo com outra
e deu o fora. Simon passou a noite sozinho e chateado, com a espinha no nariz e a jaqueta dos
anos 70.
Tentei explicar a mamãe que não estava dizendo a verdade, mas ela estava tão envolvida
com o sujeito que perdeu completamente a noção de... bom, tudo.
— Você está ficando um tanto cínica e desconfiada, querida — disse ela. — Julio — ah!
rá-rá-rá! — é apenas um amigo. Eu só quero conquistar um espaço.
Então, fiquei sabendo que, para fazer a vontade dela, Papai está se mudando para o
apartamento onde morava a avó dos Alconbury, que morreu, nos fundos do jardim deles.

TERÇA-FEIRA, 21 DE FEVEREIRO

Mto cansada. Papai agora liga várias vezes durante a noite, só para conversar.

QUARTA-FEIRA, 22 DE FEVEREIRO

57kg, 2 unidades alcoólicas, 19 cigarros, 8 unidades de gordura (uma idéia subitamente
repulsiva: jamais tinha visto a gordura escorrendo da bunda e das coxas por baixo da pele.

Amanhã vou voltar a contar apenas as calorias).
Tom tinha toda razão. Fiquei tão preocupada com meus pais e tão cansada com os
telefonemas desesperados de papai que quase não tomei conhecimento do Daniel. A
maravilhosa conseqüência disso foi que ele não tirou os olhos de mim. Mas hoje fiz uma
grande besteira. Estava indo comprar um sanduíche e encontrei Daniel no elevador com
Simon do Marketing, conversando sobre jogadores de futebol que foram presos por
receberem "bola", se venderem.
— Soube dessa história, Bridget? — perguntou Daniel.
— Claro — menti, tentando fazer algum comentário. — Mas acho que isso é bobagem. É
uma atitude boba, mas desde que eles dêem bola para as mulheres certas, para mim não tem o
menor problema. Não sei por que estão fazendo tanta onda em cima disso.
Simon me olhou como se eu fosse doida e Daniel ficou sério um instante e caiu na
gargalhada. Riu sem parar até sair do elevador com Simon, aí virou para trás e disse, enquanto
as portas se fechavam:
— Case comigo. - Humm.

QUINTA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO

56,7 kg (se ao menos eu conseguisse me manter abaixo de 57 quilos, em vez de ficar subindo
e descendo como o cadáver de um afogado - afogado na gordura), 2 unidades alcoólicas, 17
cigarros (tensão pré-sexo, perdoável), 775 calorias (última tentativa desesperada de chegar a
48,3 kg até amanhã).

20h. Nossa. O computador quase estourou de tanto ficar piscando o sinal de mensagem. Às
seis em ponto, decidida, vesti meu casaco e fui embora, mas encontrei Daniel que, no andar
de baixo, entrou no meu elevador. Lá estávamos nós, só eu e ele, num enorme campo de
eletricidade magnética, atraídos irresistivelmente como dois ímãs. Então de repente o
elevador parou e nos separamos, ofegantes, e Simon do Marketing entrou com sua horrenda
capa de chuva bege sobre o corpo gorducho. Sem querer, arrumei minha saia e ele disse, com
um sorriso afetado:
— Bridget, parece que você foi pega recebendo bola.
Quando saí do prédio, Daniel veio atrás de mim e me convidou para jantar com ele
amanhã. Siiiiim!
Meia-noite. Argh. Estou totalmente exausta. Será que é normal se preparar para sair com um
homem como se fosse para uma entrevista de emprego? Tenho a impressão de que a cabeça
muito culta de Daniel pode acabar virando uma chatice se as coisas continuarem. Vai ver que
eu devia me interessar por um homem mais jovem e mais desligado que cozinharia para mim,
lavaria minhas roupas e concordaria com tudo o que eu dissesse. Depois que saí do escritório,
quase desloquei uma vértebra suando numa aula de aeróbica; passei sete minutos esfregando o
corpo com uma escova de cerdas duras; limpei o apartamento; coloquei comida na geladeira,
tirei as sobrancelhas, dei uma olhada nos jornais e no Guia de Sexo Hoje, coloquei a roupa
para lavar e me depilei sozinha, já que estava muito tarde para marcar hora. Acabei ajoelhada
numa toalha tentando arrancar uma tira de cera que grudou atrás da minha perna enquanto
assistia ao jornal na tevê na tentativa de ter assuntos interessantes para discutir. Fiquei com as
costas doloridas, a cabeça doendo e as pernas vermelhas e cheias de restos de cera.
As pessoas sensatas dirão que Daniel deve gostar de mim do jeito que sou mas sou uma
filha da cultura Nova-Cosmopolitan, fui traumatizada por supermodelos e todo tipo de testes e
sei que nem minha personalidade nem meu corpo darão conta do recado se não forem bem
trabalhados. Não agüento a tensão. Vou cancelar o encontro e passar a noite inteira comendo
biscoitos metida numa camiseta suja de ovo.

SÁBADO, 25 DE FEVEREIRO

55, 3kg(milagre: prova de que o sexo é realmente o melhor exercício), 0 unidade alcoólica, 0
cigarro, 200 calorias (finalmente descobri o segredo para não comer: basta substituir comida
por sexo).

18h. Ah, que alegria. Passei o dia num estado que só posso descrever como ebriedade sexual,
andando pelo apartamento, sorrindo, pegando uma coisa aqui, outra ali e colocando-as no
mesmo lugar outra vez. Foi tão bom. Os únicos pontos negativos foram: 1) assim que
terminou, Daniel disse "Droga, eu combinei de pegar o carro na garagem da Citroën"; 2)
quando saí da cama e fui ao banheiro, ele avisou que minha meia estava presa atrás da minha
perna.
Mas, à medida que as nuvens cor-de-rosa começam a se dispersar, vou me apavorando. O
que será que vai acontecer agora? Não combinamos nada. De repente, percebo que estou de
novo esperando o telefone tocar. Como é que a situação entre duas pessoas pode ficar tão
angustiantemente indefinida, depois que dormem juntas pela primeira vez? Tenho a sensação
de que acabo de fazer uma prova e estou aguardando os resultados.
23h. Ai, meu Deus. Por que Daniel não ligou? Será que vamos sair ou não? Como é que
minha mãe pode sair com tanta facilidade de uma relação e entrar noutra, enquanto eu não
consigo nem ter umazinha? Será que a geração dela é melhor que a minha para fazer com que
as relações dêem certo? Talvez eles não vivam por aí paranóicos e inseguros. Vai ver que a
melhor ajuda é não ler nenhum livro de auto-ajuda na vida.

DOMINGO, 26 DE FEVEREIRO

57 kg, 5 unidades alcoólicas (afogando as tristezas), 23 cigarros (fumando as tristezas), 3.856
calorias (cobrindo as tristezas com uma camada de gordura).

Acordo sozinha e fico pensando em minha mãe na cama com Julio. Há uma profunda repulsa
em pensar nos pais fazendo sexo, ou melhor, um dos pais. Sinto ódio deles por causa de meu
pai; fico sensata, otimista com o exemplo de mais 30 anos de paixão desenfreada diante de
mim (algo relacionado às lembranças freqüentes de Joanna Lumley e Susan Sarandon) mas,
principalmente, sinto muita inveja, sou um fracasso e uma burra por estar na cama sozinha
num domingo de manhã, enquanto minha mãe com mais de 60 anos está quase dando a
segunda... Ai, meu Deus. Não agüento nem pensar.

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