4. Abril: Equilíbrio interior

DOMINGO, 2 DE ABRIL

57kg, 0 unidade alcoólica (maravilhoso), 0 cigarro, 2.250 calorias.

Li numa reportagem que a escritora Kathleen, finada esposa do finado teatrólogo Kenneth
Tynan tinha “equilíbrio interior” e só escrevia se estivesse perfeitamente arrumada, sentada
numa mesinha no centro da sala e tomando um copo de vinho branco gelado. Se estivesse
atrasada para entregar um texto para Perpétua, Kathleen Tynan jamais ficaria toda vestida e
apavorada embaixo do cobertor , fumando sem parar, engolindo uma caneca de saquê frio e se
maquiando para fugir da obrigação. Kathleen Tynan não permitiria que Daniel Cleaver
dormisse com ela quando bem entendesse sem ser seu namorado. Também não beberia
demais nem vomitaria. Eu gostaria de ser como Kathleen Tynan (mas, claro, não gostaria de
estar morta).
Por isso, sempre que as coisas ameaçam sair do controle, eu agora repito as palavras
“equilíbrio interior” e fico me imaginando, de vestido de linho branco, sentada numa mesa
com um vasinho de flores. “Equilíbrio interior”. Há seis dias não pego num cigarro. Há três
semanas assumi em relação a Daniel um olhar de digna superioridade, não mandei mais
mensagens, não fiz olhares, nem dormi com ele. Na última semana, contra a vontade, só
consumi três unidades alcoólicas, fazendo concessão a Tom. Ele reclamou que sair à noite
com uma pessoa que acaba de largar os vícios era a mesma coisa que sair com um molusco,
uma ostra, ou qualquer um desses flácidos seres marinhos.
Meu corpo é um templo. Será que já está na hora de dormir? Ah não, são só oito e meia da
noite. Equilíbrio interior. Aaah. Telefone tocando.
21h. Era meu pai, com uma voz estranha e enrolada, parecendo um robô.
— Bridget. Ligue a televisão na BBC1.
Mudei de canal e quase morri de susto. Vi na tela uma chamada para o programa de Anne
e Nick, que, sentados num sofá, tinham entre os dois uma imagem em destaque de um rosto
de mulher: minha mãe, toda emperiquitada e pintada como se fosse a chata daquela
entrevistadora Kati Boyle ou alguém do gênero.
— Nick... – chamou Anne simpática. E ele:
— Agora vamos apresentar nossa nova atração da primavera, De repente, solteira,
problema enfrentado por um número cada vez maior de mulheres. Continue, Anne.
— Trazemos para vocês, a incrível Pam Jones, nossa nova apresentadora – disse Anne. –
Ela própria enfrenta a situação De repente, solteira, e está fazendo sua estréia na tevê.
Enquanto Anne falava, a imagem de minha mãe descongelou e foi aumentando na tela até
substituir a imagem de Anne e Nick e mostrar mamãe enfiando o microfone no nariz de uma
mulher com cara de ratinho.
— Você chegou a pensar em suicídio? – perguntou minha mãe.
— Cheguei - confessou a mulher-ratinho, começando a chorar. Nesse ponto, a imagem
congelou, diminuiu e ficou num canto da tela para mostrar Anne e Nick no sofá de novo, com
cara de velório.
Papai estava arrasado. Mamãe não tinha sequer contado para ele do emprego como
entrevistadora de tevê. Ele parece não estar acreditando, acha que mamãe está apenas
passando por uma crise de fim de vida e já percebeu que fez umas bobagem, mas está com
vergonha de pedir para voltar.
Quanto a mim, acho que negar a realidade é uma saída. Basta que você se convença de
uma coisa e fique feliz da vida - desde que sua ex-cônjuge não apareça na tela da tevê
iniciando uma nova carreira pelo fato de não estar mais casada com você. Tentei fazer de
conta que isso não era o fim do mundo e que minha mãe podia estar pensando em voltar para
ele, dando assim um final inesperado para a série televisiva, mas não funcionou. Pobre papai.
Acho que ele não sabe nada sobre Julio e o fiscal da Receita Federal. Perguntei se ele gostaria
que eu o visitasse amanhã, podíamos sair para jantar num lugar simpático no sábado à noite e
talvez dar um passeio no domingo, mas ele disse que não precisava, estava se sentindo bem.
Os Alconbury vão oferecer uma ceia à moda inglesa antiga, no sábado à noite, em benefício
da Associação Salva-Vidas.

TERÇA-FEIRA, 4 DE ABRIL

Resolvi me esforçar para não chegar sempre atrasada no trabalho e não deixar que a bandeja
de coisas a fazer fique transbordando na minha mesa, etc. Vou iniciar um programa de autoaperfeiçoamento,
anotando minuciosamente o tempo gasto para fazer cada coisa.
7h. Me pesei.
7h03. Voltei para a cama deprimida por causa do excesso de peso. Cabeça ficou no pé. Não
havia diferença entre dormir ou levantar da cama. Pensei em Daniel.
7h30. Uma fome insuportável me obrigou a sair da cama. Fiz café, pensei em comer uma
grapefruit. Descongelei um croissant de chocolate.
7h35 – 7h50. Olhei pela janela.
7h55. Abri o armário. Olhei para as roupas.
8h. Escolhi uma blusa. Tentei achar a minissaia preta de lycra. Tirei tudo do guarda-roupa
procurando. Mexi nas gavetas e olhei atrás das cadeiras do quarto. Procurei na cesta de roupas
para passar. Olhei na cesta de roupas para lavar. Saia sumiu. Fumei um cigarro para me
consolar.
8h20. Passei uma escova dura e seca (anticelulite) no corpo, tomei banho e lavei a cabeça
8h35. Comecei a escolher a roupa de baixo. Como não tenho lavado nada, as únicas calcinhas
existentes na gaveta eram calções de algodão branco. Horríveis de olhar, mesmo que só para
usar no trabalho (causam efeito psicológico negativo). Voltei à cesta de roupas para passar.
Achei uma calcinha de renda preta superapertada e desconfortável, mas melhor do que a
imensa e horrenda calçona estilo vovó.
8h45. Experimentei uma meia-calça preta, opaca. A primeira que vesti parecia ter encolhido: o
meio das pernas ficava 10cm acima dos joelhos. Peguei outra e vi que estava com um furo
atrás. Joguei fora. De repente, lembrei que estava com a minissaia de lycra na última vez que
voltei para casa com Daniel. Fui até a sala. Vitória: achei a saia atrás das almofadas do sofá.
8h55. Voltei à meia. A terceira que experimentei estava com um buraco no dedão. Vesti. O
buraco se transformou num desfiado que ia até o sapato. Fui até a cesta de roupas para passar.
Encontrei a última meia preta opaca, enrolada com outras coisas. Desembaracei tudo e
estiquei.
9h05. Vesti a meia. Vesti a saia. Comecei a passar a blusa.
9h10. De repente, percebi que meu cabelo estava secando num jeito esquisito. Procurei a
escova. Achei na bolsa. Sequei o cabelo. Não ia ficar bom. Borrifei um pouco de spray e
sequei mais um pouco.
9h40. Voltei a passar a blusa e descobri uma mancha enorme na frente. Todas as outras blusas
estavam sujas. Entrei em pânico por causa da hora. Tentei limpar a mancha com um pano.
Molhei a blusa inteira. Sequei com ferro.
9h55. Superatrasada. Desesperada, fumei um cigarro e li um folheto de agência de turismo
para me acalmar por cinco minutos.
10h. Tentei achar a bolsa. Bolsa sumiu. Resolvi dar uma olhada na caixa de correspondência
para ver se chegou alguma coisa legal.
10h07. Só chegou a conta do cartão de crédito, acusando o não-pagamento da taxa obrigatória
de manutenção. Tentei lembrar o que estava tentando fazer antes. Voltei a procurar a bolsa.
10h15. Super-hiperatrasada. Subitamente, lembrei que estava com a bolsa no banheiro quando
fui procurar a escova e não encontrei. Acabei achando a bolsa no meio das roupas do armário.
Enfiei as roupas no armário outra vez. Vesti a jaqueta. Pronta para sair de casa. Não achei as
chaves. Vasculhei a casa inteira, enlouquecida.
10h25. Encontrei a chave na bolsa. Percebi que esqueci a escova.
10h35. Saí de casa.
Três horas e 35 minutos entre acordar e sair de casa - é tempo demais. No futuro, tenho de
levantar assim que acordar e fazer uma reestruturação completa no sistema de lavanderia.
Abro o jornal e leio que o acusado de um assassinato nos Estados Unidos tem certeza de que
as autoridades colocaram um microchip na bunda dele para monitorar seus movimentos,
digamos assim. Fico apavorada só de pensar num microchip desses na minha bunda,
principalmente de manhã.

QUARTA-FEIRA, 5 DE ABRIL.

56,7kg, 5 unidades alcoólicas (culpa de Jude), 2 cigarros (tipo da coisa que pode acontecer a
qualquer um, não significa que voltei a fumar), 1.765 calorias, 2 bilhetes de loteria.

Hoje, comentei com Jude aquela história de equilíbrio interior e, engraçado, ela disse que
estava lendo um livro de auto-ajuda sobre zen. Segundo ela, o conceito zen podia ser aplicado
a qualquer área da vida: zen e a arte de fazer compras, zen e a arte de comprar um
apartamento etc. Ela disse que é tudo uma questão de Fluir, não de lutar. Se, por exemplo,
você está com um problema, ou as coisas não estão andando, em vez de batalhar ou se
estressar, você deve relaxar, encontrar seu caminho no Fluir e tudo vai funcionar. Ela disse
que é como quando não se consegue abrir uma porta com a chave e a pessoa fica forçando:
isso só faz piorar. Basta retirar a chave, passar manteiga de cacau, ir com jeito e eureca! Mas
Jude recomendou que não comentasse isso com Sharon porque ela acharia pura besteira.


QUINTA-FEIRA, 6 DE ABRIL

Estava no bar tomando um drinque calmamente com Jude e conversando mais a respeito do
Fluir quando percebi um vulto conhecido e bem-vestido sentado num canto tranqüilo
jantando: era Jeremy, marido de Magda. Acenei para ele e, por um milésimo de segundo,
percebi uma expressão de horror que me fez olhar imediatamente para sua acompanhante que
a) não era Magda b) tinha menos de 30 anos c) usava um vestido que experimentei duas vezes
na Whistles e não levei porque era caro demais. Bruxa maldita.
Tinha certeza de que Jeremy ia sair do restaurante dando um rápido adeusinho tipo "Depois
a gente se fala", mostrando que somos dois velhos amigos e, ao mesmo tempo, que aquele não
era o momento para demonstrar isso com beijos e altos papos. Eu ia deixar, mas depois
pensei, espera aí! Magda e eu somos como duas irmãs! Calma lá! Se o marido dela não tem
por que se envergonhar por estar jantando com essa vadia usando o meu vestido, então vai me
apresentar a ela.
Mudei de trajeto para passar pela mesa dele, que, nessa altura, fingiu uma acalorada
discussão com a fulana, me olhou quando passei e deu um sorriso firme e seguro, como quem
diz "almoço de negócios". Devolvi um olhar que dizia "Não me venha com almoço de
negócios" e saí, bem empertigada.
Mas o que devo fazer agora? Ai, ai, ai. Devo contar para Magda? Não contar? Ligar para
ela e perguntar se está tudo bem? Ligar para Jeremy e perguntar se está tudo bem? Ligar para
Jeremy e ameaçar contar para Magda, a menos que ele termine com a bruxa do meu vestido?
Não me meter com o problema dos outros?
Pensei em zen, em Kathleen Tynan e no equilíbrio interior, fiz uma espécie de saudação ao
sol, que lembrava de remotas aulas de ioga, e me concentrei na roda interior até atingir o
Fluir. Então resolvi serenamente que não contaria para ninguém, já que a fofoca é um veneno
perigoso e contagioso. Em vez disso vou ligar sempre para Magda, perguntar se está tudo bem
(com sua intuição feminina, ela vai perceber) e então Magda me contará. E, através do Fluir,
se eu achar que devo, contarei o que vi. Não. As coisas que realmente têm valor não são
adquiridas através da luta, tudo vem pelo Fluir. Zen e a arte de viver. Zen. Fluir. Hum, mas
então por que eu fui encontrar com Jeremy e aquela fulaninha, se não por causa do Fluir? Ué,
que diabo significa tudo isso?

TERÇA-FEIRA, 11 DE ABRIL

55,8kg, 0 unidade alcoólica, 0 cigarro, 9 bilhetes de loteria (tenho que parar com isso).

Parece que está tudo normal com Magda e Jeremy; vai ver que era mesmo só um almoço de
negócios. Talvez a noção do zen e do Fluir seja correta, pois não há dúvida de que, fazendo
relaxamento e sentindo as vibrações, fiz a coisa certa. Na próxima semana, estou convidada
para o badalado lançamento de A motocicleta de Kafka, no bar Ivy. Decidi que em vez de
ficar apavorada porque tenho de ir a uma festa, ficar insegura até chegar lá e voltar para casa
chateada e deprimida, vou desenvolver minha performance social e minha auto confiança e
Fazer as Festas Renderem Frutos - como ensina o artigo que acabo de ler na revista.
Pelo jeito, a editora Tina Browm da New Yorker é um gênio em matéria de festas: passa de
um grupo a outro com desenvoltura, cumprimentando "Martin Amis! Nelson Mandela!
Richard Gere!" com uma voz que dá a firme impressão de que ela está pensando "Meu Deus,
nunca tive o prazer de encontrar alguém assim na vida! Você já viu a pessoa mais interessante
da festa além de você? Converse! Converse! Faça contatos! E tchauzinho!" Gostaria de ser
como Tina Brown, só não gostaria, óbvio, de trabalhar loucamente como ela.
O artigo é cheio de dicas práticas. Pelo jeito, nunca se deve falar com ninguém numa festa
por mais de dois minutos. Findo esse prazo, basta dizer: "Acho que é para a gente circular.
Bom te ver", e ir saindo. Se você não souber o que falar depois de perguntar a uma pessoa o
que ela faz na vida e tiver como resposta "Sou agente funerário" ou "Trabalho para a Agência
de Apoio à Criança", basta perguntar: "E gosta do seu trabalho?" Ao apresentar duas pessoas,
acrescente um detalhe simpático sobre cada uma, assim elas terão como iniciar uma conversa.
Por exemplo: "Este é John, ele é neozelandês e adora surfar." Ou então: "Gina é uma ótima
pára-quedista e mora num saveiro."
E o detalhe mais importante: nunca se deve ir a uma festa sem ter um objetivo definido -
seja "fazer contatos" e portanto aumentar sua rede de conhecidos que possam ajudá-la a
melhorar na profissão; fazer amizade com uma determinada pessoa ou só "agarrar" um bom
partido. Agora vejo como eu estava errada em ir a festas com o único objetivo de não ficar
bêbada.

SEGUNDA-FEIRA, 17 DE ABRIL.

56,2kg, 0 unidade alcoólica (m.b.), 0 cigarro (m.b.), 5 bilhetes de loteria (ganhei 2 libras,
portanto gastei apenas 3).

Certo. Amanhã é o dia do lançamento de A motocicleta de Kafka. Vou me concentrar nos
objetivos. Basta um minuto. Dar só uma olhada nas recomendações e depois ligar para Jude.
Certo.
1) Não beber demais.
2) Ter como meta encontrar pessoas para ampliar minha rede de contatos.
Hum. Bom, depois eu penso em mais metas.
23h. Certo.
3) Colocar em prática as estratégias sociais do artigo.
4) Fazer com que Daniel ache que eu tenho equilíbrio interior e queira sair comigo de novo.
Não. Não.
4) Encontrar um Deus do sexo e dormir com ele.
4) Fazer contatos interessantes no mundo editorial, ou mesmo com profissionais de outras
áreas para encontrar uma nova profissão.
Ai, Deus. Não quero ir a essa festa, fico apavorada. Quero ficar em casa tomando vinho e
assistindo a East-enders.

TERÇA-FEIRA,18 DE ABRIL.

57kg, 7 unidades alcoólicas (ai, Jesus), 30 cigarros, não posso nem pensar nas calorias, 1
bilhete de loteria (excelente).

O lançamento do livro começou mal, não vi ninguém conhecido para apresentar a outra
pessoa. Peguei um drinque e vislumbrei Perpétua conversando com James, do Telegraph.
Aproximei-me, segura, pronta para entrar em ação mas, em vez de Perpétua dizer: "James,
esta é Bridget, que nasceu em Northamptonshire e é ótima ginasta" (vou voltar a fazer
ginástica logo) continuou conversando bem mais que os dois minutos recomendados e me
ignorou.
Fiquei do lado, me sentindo uma completa idiota, quando vi Simon do Marketing. Esperta,
fingi que não queria participar da conversa de Perpétua e fui na direção dele, pronta para dizer
"Simon Barnett!" no melhor estilo Tina Brown. Quando estava bem perto, percebi que,
infelizmente, Simon do Marketing estava conversando com Julian Barnes. Desconfiei que não
seria capaz de exclamar animada "Simon Barnett! Julian Barnes!" com o tom e o entusiasmo
necessários, mudei de caminho e fui me afastando. Aí, Simon disse numa voz arrogante e
irritada (engraçado, ele nunca usa essa voz quando está querendo te paquerar perto da
máquina de xerox):
— Quer alguma coisa, Bridget?
— Ah, sim! - respondi, sem saber o que eu poderia estar querendo. — Ahn.
— Como? - Simon e Julian ficaram me olhando, à espera de uma resposta.
— Sabem onde fica o toalete? - a pergunta escapou. Droga. Droga. Por quê? Por que
perguntei isso? Vi um sorriso passar pelos lábios finos-porém-atraentes de Julian Barnes. —
Acho que é por ali, que bom - falei, e fui saindo. Quando passei pelas portas de vaivém do
banheiro, encostei na parede, tentando tomar fôlego e pensando: "equilíbrio interior,
equilíbrio interior, equilíbrio interior". O problema é que aquilo não estava funcionando.
Olhei para a escada, desanimada. A idéia de ir para casa, vestir meu pijaminha e ligar a
tevê começou a parecer muito interessante. Mas, lembrando das Metas para Festas, respirei
fundo, murmurei "equilíbrio interior", empurrei a porta do banheiro e voltei para a festa.
Perpétua ainda estava ali do lado, se divertindo com suas horrendas amigas Piggy e Arabella.
— Ah, Bridget, você ia pegar uma bebida, não? - perguntou ela, mostrando seu copo.
Quando voltei com três copos de vinho e um de água Perrier, elas estavam discutindo grandes
temas.
— Para mim, isso é um horror. Significa que, hoje, as pessoas dessa geração só tomam
conhecimento dos grandes autores da literatura - Austen, Eliot, Dickens, Shakespeare e outros
- através da televisão.
— Concordo, é um absurdo. Um crime.
— Com certeza. Eles acham que, quando estão zapeando do Noel e seus convidados para o
Encontro marcado, aquilo é Austen ou Eliot.
— Encontro marcado é aos sábados - informei.
— Como? - Perpétua não tinha entendido o que eu disse.
— Aos sábados. Encontro marcado é às sete e quinze de sábado, depois de Gladiadores.
— E daí? - disse Perpétua com um ar superior, olhando de soslaio para Arabella e Piggy.
— Essas grandes adaptações de obras literárias não costumam ser apresentadas nas noites
de sábado.
— Ah, olha ali o Mark - interrompeu Piggy.
— É mesmo - disse Arabella, agitada. — Ele se separou da mulher, não?
— O que eu quis dizer é que não tem nada tão bom quanto Encontro marcado em outro
canal na mesma hora das obras-primas da literatura, portanto não acredito que ninguém fique
zapeando canais nesse horário.
— Ah, quer dizer que Encontro marcado é "bom"? - perguntou Perpétua, com um sorriso
irônico.
— É, muito bom.
— Você sabe que, antes de virar novela de tevê, Middlemarch foi um livro, não?
Detesto Perpétua quando fica desse jeito. Velha, gorda, idiota e peidorreira.
— Ah, eu achava que era uma novela patrocinada por um xampu - falei, de mau humor,
pegando vários canapés e enfiando tudo na boca. Quando olhei para cima, vi um homem
moreno, de terno, bem na minha frente.
— Olá, Bridget - disse ele. Por pouco não deixei todos os canapés caírem da minha boca.
Era Mark Darcy. Mas sem aquele suéter de losangos estilo comentarista de esportes da tevê.
— Olá - respondi de boca cheia, tentanto não entrar em pânico. Depois, lembrei do artigo
na revista e virei para Perpétua. — Mark, esta é Perpétua - comecei e parei, gelada. O que
dizer? Perpétua, que é muito gorda e passa o tempo inteiro me enchendo? Mark, que é muito
rico e teve uma ex-mulher muito cruel?
—Sim? - disse Mark.
— ... ela é minha chefe e está comprando um apartamento em Fulhan. Mark é - falei,
virando para Perpétua - um grande advogado de direitos humanos.
— Olá, Mark. Conheço você de nome, claro - anunciou Perpétua como se fosse uma
heroína de novela e ele, o duque de Edinburgo.
— Mark, olá! - cumprimentou Arabella, arregalando os olhos e piscando de um jeito que
devia achar muito sedutor.
— Não vejo você há séculos. Como vai Nova York?
— Nós estávamos comentando sobre hierarquias culturais - informou Perpétua.- Bridget é
uma dessas pessoas que acha que, quando a tevê mostra Encontro marcado, é o mesmo que
ver Otelo de Shakespeare dizendo o monólogo "Será por causa deste teu semblante que minha
alma ruirá, precipitada dos céus para os braços das fúrias infernais!" - Perpétua cacarejava de
rir.
— Ah, então Bridget é uma autêntica pós-modernista - concluiu Mark Darcy. — Esta é
Natasha - apresentou, apontando para uma moça alta, magra e bonita ao lado dele. — Ela é
uma grande advogada de família.
Parecia que ele estava me esnobando. Que ousadia. Natasha falou então, com um sorriso
de quem sabe das coisas:
— Acho que as pessoas deveriam primeiro provar que tinham lido os clássicos para depois
terem permissão de assisti-los na versão televisiva.
— Ah, concordo plenamente - disse Perpétua, continuando seu acesso de riso. — Que idéia
ótima!
Com certeza, ela estava visualizando Mark Darcy e Natasha em casa, com um monte de
criancinhas em volta da mesa de jantar.
— Deviam proibir o público de ouvir a música da Copa do Mundo - piou Arabella -, a
menos que provassem que ouviram a ópera Turandot inteira!
— Mas, sob vários aspectos, a democratização da nossa cultura é uma grande meta... -
disse a Natasha de Mark, subitamente séria, como se a conversa estivesse indo pelo caminho
errado.
— Exceto no caso de programas de auditório, que deviam ser cancelados antes da estréia -
guinchou Perpétua. Sem querer, olhei para o traseiro dela e pensei "Opinião muito sofisticada,
vindo de quem vem" e vi Mark Darcy olhando para o mesmo lugar.
— O que me incomoda - Natasha falava como se estivesse participando de uma mesaredonda
nas universidades de Oxford ou Cambridge - é isso, essa espécie de individualismo
arrogante que acha que cada geração vai criar um novo mundo.
— Mas é exatamente o que os jovens fazem - disse Mark Darcy, calmamente.
— Bem, se você vê por este prisma ... - respondeu Natasha, na defensiva.
— Que prisma? - perguntou Mark Darcy. — Não se trata de encarar por um determinado
prisma, é um fato.
— Não, desculpe, você está entendendo errado de propósito - disse ela, mais irritada. - Não
estou falando de uma nova visão desconstrutivista. Estou falando da total vandalização da
estrutura cultural.
Mark Darcy fez uma cara de quem ia cair na gargalhada.
— Se você está se referindo ao tipo de bobagem moralmente relativista, que considera
Encontro marcado ótimo ... - disse ela, olhando para mim.
— Mas eu estava falando sério quando disse que gosto de Encontro marcado - argumentei.
— Embora ache que os participantes deviam responder às perguntas, em vez de lerem
respostas decoradas e idiotas, cheias de trocadilhos e implicações sexuais.
— Concordo - interrompeu Mark.
— Detesto Gladiadores. Faz com que eu me sinta gorda - falei. - Mas foi ótimo encontrar
você. Tchau!
Eu estava esperando a moça da chapelaria devolver meu sobretudo, pensando em como o
fato de não usar um suéter de losangos pode alterar o charme de um homem, quando senti
uma mão segurando de leve minha cintura. Virei- me.
— Daniel!
— Jones! Por que você está fugindo tão cedo? - inclinou-se e me deu um beijo. - Hum,
você está com um perfume delicioso - constatou, oferecendo um cigarro.
— Não, obrigada, encontrei o equilíbrio interior e parei de fumar - falei, de um jeito
ensaiado, tipo Mulher Modelo, desejando que Daniel não fosse tão atraente num encontro
assim, individual.
— Sei. Equilíbrio interior, não é? - disse com um sorriso afetado.
— Isso mesmo - respondi, de um jeito também afetado.
— Você estava no lançamento? Não vi.
— Eu sei. Mas eu vi você. Conversando com Mark Darcy.
— Onde conheceu Mark Darcy? - perguntei, surpresa.
— Em Cambridge. Não agüento aquele chato. Parece uma velha. Onde você o conheceu?
— É filho de Malcolm e Elaine Darcy - comecei, quase acrescentando: "Você conhece
Malcolm e Elaine, querido. Eles nos visitaram quando morávamos em Buckingham ..."
— Quem são...
— São amigos de meus pais. Quando éramos crianças, eu brincava com ele na piscininha
de plástico.
— Claro, só podia ser, sua sacaninha - grunhiu ele. — Você quer jantar?
Equilíbrio interior, repeti para mim mesma, equilíbrio interior.
— Vamos, Bridge - disse ele, fazendo olhares sedutores. - Preciso conversar seriamente
sobre a sua blusa. É fina demais. Quando se olha com atenção, é tão fina que fica
transparente. Nunca te ocorreu que sua blusa pode estar sofrendo de... bulimia?
— Tenho um encontro - disse, assustada.
— Vamos, Bridge.
— Não - respondi, com uma firmeza que me surpreendeu.
— Que pena - disse ele, suavemente. - Vejo você na segunda-feira - e me lançou um olhar
tão ofendido que quase fui atrás dele gritando: "Transa comigo! Transa comigo!"
23h. Acabo de ligar para Jude e contar do encontro com Daniel e também do filho de
Malcolm e Elaine Darcy, com quem mamãe e Una tentaram me obrigar a ficar no bufê de
peru ao curry e que no lançamento me pareceu bem mais atraente.
— Espera aí - disse Jude. - Você está falando de Mark Darcy? O advogado?
— Esse mesmo. Mas ... você conhece?
— Bom, conheço. Quer dizer, tratamos uns processos Com ele. É muito simpático e
atraente. Entendi você dizer que o cara do bufê de peru ao curry era um chato de galocha.
Hum. Essa Jude.

SÁBADO, 22 DE ABRIL

54kg, 0 cigarro, 0 unidade alcoólica, 1.800 calorias.

Hoje é um dia histórico e muito feliz. Depois de 18 anos tentando pesar 54 quilos, consegui.
Os ponteiros da balança não estão enganados, meu jeans confirmou. Eu estou magra.
Não existe uma explicação plausível. Fiz duas aulas de ginástica na semana passada mas
isso, embora seja raro, não é suficiente. Comi como sempre, normal. É um milagre. Liguei
para Tom: ele achou que posso estar com uma solitária. Disse que para me livrar dela devo
segurar uma xícara de leite quente e um lápis na frente da boca. (Consta que solitárias adoram
leite quente). Abrir a boca e, quando a cabeça da solitária aparecer, deixar que ela se enrosque
no lápis.
— Escuta - falei - essa solitária vai continuar onde está. Gosto muito dela. Fez com que eu
emagrecesse, perdesse a vontade de fumar e de tomar vinho.
— Você está apaixonada? - perguntou Tom de um jeito desconfiado e ciumento. É sempre
assim. Não é que queira ficar comigo, claro, ele é gay. Mas, se você é solteiro, a última coisa
que deseja é que sua melhor amiga tenha uma relação estável com um homem. Pensei bem,
depois parei, surpresa com uma súbita e estranha conclusão. Não estou mais apaixonada pelo
Daniel. Estou livre.

TERÇA-FEIRA, 25DE ABRIL

54kg, 0 unidade alcoólica (excelente), 0 cigarro (m. m. b.), 995 calorias (continuo indo bem).
Argh. Esta noite fui a uma festa na casa de Jude usando um vestido preto justo para,
orgulhosa, exibir mmha silhueta.

— Puxa, você está se sentindo bem? - perguntou Jude quando cheguei. — Está com uma
aparência cansada. .
— Estou ótima, perdi três quilos. Por quê? - respondi, desconcertada.
— Nada. Eu pensei que ...
— O quê? O quê?
— Que talvez você tenha emagrecido um pouco ... no rosto - ela disfarçou, olhando para
meu peito murcho.
Simon teve a mesma reação.
— Bridgiiiiit! Você tem um cigarro?
— Não, parei de fumar.
—Ah, puxa, é por isso que está parecendo tão ...
— Tão o quê?
— Ah, nada, nada. Um pouquinho ... abatida.
Foi assim a noite inteira. Nada pior do que ouvir que você está com uma cara cansada. Era
a mesma coisa que dizer que pareço um cocô. Fiquei muito satisfeita comigo mesma por não
beber mas, lá pelo meio da festa, quando todo mundo estava bêbado, comecei a me sentir tão
calma e sem sal que aquilo estava quase me irritando. Continuei participando das conversas,
mas não conseguia dizer uma palavra, só ficava olhando e concordando de um jeito sério e
desligado.
A certa altura, perguntei para Jude:
— Você tem chá de camomila? - quando ela passou por mim, tropeçando e dando uns
soluços. Começou a rir sem parar, me abraçou e caiu. Achei que era hora de ir.
Quando cheguei em casa, fui para a cama e coloquei a cabeça no travesseiro, mas nada
aconteceu. Fiquei virando de um lado para outro, sem conseguir dormir. Em geral, a essa
altura eu já estaria roncando e tendo algum sonho paranóico. Acendi o abajur. Eram apenas
onze e meia. Talvez fosse bom eu fazer alguma coisa como, ahn ... costurar? Equilíbrio
interior. O telefone tocou. Era Tom.
— Você está bem?
— Estou ótima. Por quê?
— Você parecia tão, digamos, desanimada. Todo mundo comentou que nem parecia você.
— Não, eu estava ótima. Você reparou como estou magra? - Silêncio. — Tom?
— Acho que você estava melhor antes, meu bem.
Agora me senti oca e confusa, como se tivessem puxado o tapete sob meus pés. Dezoito
anos - em vão. Dezoito anos de calorias e somas de unidades calóricas. Dezoito anos
comprando saias compridas e blusas largas e saindo dos lugares de costas para esconder o
traseiro. Milhões de bolos de queijo e tiramisus, dezenas de milhares de fatias de queijo
emental que deixei de comer. Dezoito anos de luta, sacrifício, inanição - para quê? Dezoito
anos e o resultado é "cansada e desanimada". Estou me sentindo como um cientista que
descobre que o trabalho ao qual dedicou uma vida inteira foi um engano total.

QUINTA-FEIRA, 27 DE ABRIL

0 unidade alcoólica, 0 cigarro, 12 bilhetes de loteria (m.m.ruim, mas não me pesei, nem
pensei em dieta o dia inteiro, m.b.)
Tenho de parar de comprar os bilhetes de loteria, mas o problema é que quase sempre sou
premiada. Os bilhetes são muito melhores do que a loto, porque os números sorteados não
aparecem mais durante o programa Encontro marcado (temporariamente fora do ar) e em
geral você não acerta só um número e fica com uma sensação de impotência e palermice,
tendo uma única coisa a fazer: rasgar o bilhete com ódio e jogá-lo no chão para todo mundo
ver.
Os bilhetes são diferentes, é um jogo mais interativo, com seis números para serem
riscados - o que é difícil e complicado de fazer -, e você nunca fica com a sensação de não ter
participado. Ganha quem tira três somas iguais, e sempre consigo chegar perto, uma vez tirei
duas fileiras - e os prêmios chegam a 50 mil libras.
Mas você não pode se privar de todos os prazeres da vida. Eu só compro uns cinco ou seis
bilhetes por dia e, além do mais, vou parar logo.

SEXTA-FEIRA, 28 DE ABRIL

14 unidades alcoólicas, 64 cigarros, 8.400 calorias (m.b.,mas foi errado contá-las. Obsessão
de emagrecer mto ruim), 0 bilhetes de loteria.

Às oito e meia da noite passada, eu estava tomando um banho relaxante de aromaterapia e
bebendo chá de camomila quando soou o alarme contra roubo de um carro. Esses alarmes são
insurportáveis e inúteis; liderei uma campanha na nossa rua contra eles, já que é mais
provável você achar seu carro amassado por um vizinho mal-humorado que foi tentar desligar
o alarme do que ter o carro roubado por um ladrão propriamente dito.
Dessa vez, ao invés de me irritar e chamar a polícia, eu apenas respirei fundo com as
narinas bem abertas e murmurei "equilíbrio interior". Tocou a campainha da porta. Peguei o
interfone. Uma voz muito educada e suave dise: "Ele está tendo um caso." Depois ouvi um
choro histérico. Desci as escadas do prédio correndo e encontrei Magda derramando cascatas
de lágrimas sobre o volante do Saab conversível de Jeremy, que fazia pii-pii-pii altíssimo com
todas as luzes piscando, enquanto o bebê berrava como se estivesse sendo estrangulado no
assento traseiro.
— Desliga isso! - berrou alguém de uma janela.
— Não consigo, droga! - gritou Magda, tentando abrir o capô do carro.
— Jery! - gritou ela no celular. — Jery, seu maldito adúltero! Como é que abre o capô do
seu Saab?
Magda é uma pessoa muito educada, mas minha rua não é. É do tipo que ainda tem
cartazes nas janelas pedindo "Liberdade para Nelson Mandela".
— Eu não vou voltar, seu idiota! - gritava Magda. — Só quero saber como abre a porra do
capô!
Magda e eu entramos no carro e puxamos todas as alavancas que vimos; ela de vez em
quando dava um gole numa garrafa de água Laurent- Perrier. A essa altura, tinha uma
multidão enfurecida olhando. Logo depois, Jeremy apareceu em sua moto Harley-Davidson.
Mas, em vez de desligar o alarme, tentou tirar o bebê do banco traseiro, enquanto Magda
gritava. Depois o australiano Dan, que mora no apartamento embaixo do meu, abriu a janela.
— Olá, Bridged. Tem água caindo do meu teto - gritou.
— Merda! A banheira!
Subi as escadas correndo mas, quando cheguei, percebi que tinha fechado a porta com a
chave por dentro. Fiquei batendo a cabeça na porta e repetindo "merda, merda".
Dan apareceu no corredor.
— Nossa, é melhor você fumar um desses - disse, oferecendo um cigarro.
Agradeci e fumei com tanta vontade que parecia estar comendo o cigarro.
Após vários cigarros e várias enfiadas do cartão de crédito na fechadura, conseguimos
entrar e ver que o apartamento estava completamente inundado. Não conseguimos fechar as
torneiras. Dan desceu correndo e voltou com uma chave inglesa e uma garrafa de uísque.
Fechou as torneiras e ficou me ajudando a secar tudo. a alarme contra roubo parou e corremos
para a janela no momento em que o Saab saía em disparada, perseguido pela Harley
Davidson.
Nós rimos - a essa altura, já tínhamos tomado um bocado de uísque. Aí, de repente - agora
não lembro direito como foi -, Dan me beijou. Foi uma situação esquisita, em matéria de
etiqueta, porque eu tinha acabado de inundar o apartamento dele e estragar tudo, então não
queria parecer mal-educada. Claro que isso não lhe dava o direito de me assediar
sexualmente, mas era uma situação muito agradável depois de todos aqueles problemas,
equilíbrio interior e coisa e tal. De repente, apareceu na porta um motoqueiro de jaqueta de
couro com uma caixa de pizza.
— Ah, merda! - disse Dan. — Esqueci que encomendei uma pizza!
Então, comemos a pizza, tomamos uma garrafa de vinho tinto, fumamos mais alguns
cigarros e bebemos mais um pouco de uísque, depois ele quis me beijar de novo e eu disse:
— Não, melhorr não - e ele achou muita graça e começou a repetir
— Ai, meu Deus. Ai, meu Deus!
— O que foi? - perguntei.
— Bridged, eu sou casado, mas acho que amo você.
Quando ele finalmente foi embora, bati a porta e fiquei tremendo encostada nela, fumando
sem parar guimbas de cigarro. "Equilíbrio interior", disse, querendo me animar.
A campainha tocou. Não atendi. Tocou de novo. Depois tocou sem parar. Abri.
— Querida - disse uma outra voz bêbada que eu conhecia.
— Daniel, vá embora! - murmurei.
— Não, deixeu explicar.
— Não.
— Bridge ... quero entrar.
Silêncio. Ai, Deus. Por que eu ainda acho Daniel tão interessante?
— Eu te amo, Bridge.
— Vá embora. Você está bêbado - falei, com toda a segurança que consegui juntar.
— Jones?
— O que é?
— Posso ir ao banheiro?

SÁBADO, 29 DE ABRIL
 
12 unidades alcoólicas, 57 cigarros, 8.489 calorias (excelente).
Vinte e duas horas, quatro pizzas, um prato de comida indiana para viagem, três maços de
cigarros e três garrafas de champanhe depois, Daniel ainda está aqui. Estou apaixonada. Estou
também dividida entre:
a) Voltar a fumar 30 cigarros por dia.
b) Ficar noiva.
c) Achar que sou uma besta.
d) Achar que estou grávida.
23h45. Fiquei enjoada e fui vomitar, tentanto ser rápida para Daniel não ouvir, mas ele gritou
do quarto:
— Lá se vai seu equilíbrio interior, minha linda. Aliás, eu diria que este é o melhor lugar
para ele ficar.

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