8. Agost: Desintegração

TERÇA-FEIRA, 1º DE AGOSTO

56,2 kg, 3 unidades alcoólicas, 40 cigarros (parei de tragar para poder fumar mais), 450
calorias (não estou comendo), 14 ligações para o serviço 1471, 7 bilhetes de loteria.

5h. da manhã. Estou um caco. Meu namorado está transando com uma giganta bronzeada.
Minha mãe está transando com um português. Jeremy está dormindo com uma vadia
horrorosa, o Príncipe Charles está transando com Camilla Parker-Bowles. Não sei mais no
que acreditar ou onde me apoiar. Tenho vontade de ligar para Daniel, na esperança de que ele
negue tudo, dê uma explicação plausível para aquela valquíria desnuda no terraço - uma irmã
mais jovem, uma vizinha amiga que estava se recuperando de uma gripe, alguma coisa assim -
e faça com que tudo volte ao lugar. Mas Tom grudou no meu telefone um papel onde está
escrito: "Não ligue para Daniel ou vai se arrepender."
Eu devia ter ido para a casa de Tom, como ele sugeriu. Detesto ficar sozinha no meio da
noite, fumando e choramingando como uma doida. Tenho medo que Dan escute no andar de
baixo e ligue para o hospício. Ai, Deus, o que tenho de errado? Por que nada funciona
comigo? É porque estou muito gorda. Penso em ligar para Tom outra vez, mas liguei faz
menos de uma hora. Não tenho vontade de ir trabalhar.
Depois do encontro do terraço, eu não disse nada: empinei o nariz, passei por Daniel, desci
a escada, entrei no meu carro e fui embora. Direto para a casa de Tom, que entornou vodca na
minha garganta, depois acrescentou o suco de tomate e o molho Worcester. Quando cheguei
em casa, a secretária tinha três recados do Daniel pedindo para eu ligar. Não liguei, seguindo
o conselho do Tom, que garantiu: a única forma de ter sucesso com os homens é ser bem má
com eles. Sempre achei isso uma atitude cínica e equivocada mas fui legal com Daniel e olha
o que aconteceu.
Ai, Deus, os passarinhos já estão cantando. Tenho de ir trabalhar daqui a três horas e meia.
Não consigo. Socorro, socorro. De repente tive uma boa idéia: ligar para mamãe.
10h. Mamãe foi maravilhosa.
— Querida, claro que você não me acordou. Estou de saída para o estúdio de gravação.
Não posso acreditar que você esteja nesse estado por causa de um homem idiota. Eles são
completamente egoístas, sofrem de incontinência sexual e não servem para nada. É, isso
inclui você também, Julio. Agora pare de ficar assim, querida. Anime-se. Durma mais um
pouco, depois vá trabalhar com uma cara ótima. Faça com que todo mundo, principalmente
Daniel, saiba que você não quer mais nada com ele. Você de repente descobriu como a vida é
maravilhosa sem aquele sujeito gagá te controlando. Você vai se sentir ótima.
— Você está bem, mamãe? - perguntei, ao lembrar de papai chegando na festa de Una
acompanhado da viúva Penny Husbands-Bosworth.
— Querida, você é um amor. Estou superocupada.
— Posso ajudar em alguma coisa?
— Pode sim - disse ela, animada. — Será que algum amigo seu tem o telefone de Lisa
Leeson? Sabe quem é, a mulher do Nick Leeson, aquele investidor que deu um golpe no
Banco Barings? Há dias estou louca atrás dela, é perfeita para aparecer no De repente,
solteira.
— Eu estava perguntando por causa do papai e não do seu programa - expliquei.
— Seu pai? Mas não estou preocupada com ele. Não seja boba, querida.
— Mas, ele estava... na festa com a Sra. Husbands-Bosworth.
— Ah, eu sei, aquilo foi hilário. Parecia um idiota, querendo chamar minha atenção. Com
o que será que ela estava se achando parecida? Um hamster, ou algo assim? Mas tenho de ir,
estou muito ocupada. Você acha que consegue o telefone de Lisa com alguém? Anote meu
telefone direto querida. E não vamos mais ficar choramingando por bobagem.
— Ah, mãe, mas tenho de trabalhar com Daniel, eu...
— Querida, você está enganada. Ele é que tem de trabalhar com você. Seja bem ruim com
ele, meu bem. (Ai, meu Deus, não sei com quem ela anda se metendo.) Estive pensando, meu
bem. Está na hora de você sair daquele trabalho sem graça, onde não é valorizada. Prepare-se
para pedir demissão, menina. Sim, querida ... vou arrumar um trabalho para você na televisão.
Fui para a agência parecendo uma Ivana Trump, de tailleur e brilho nos lábios.

QUARTA-FEIRA, 2 DE AGOSTO

56,2kg, 45cm de coxa, 3 unidades alcoólicas (mas vinho da melhor qualidade), 7 cigarros
(sem tragar), 0 chá, 3 cafés (preparados com grãos naturais, portanto, causam menos
celulite), 4 unidades de cafeína.

Está tudo ótimo. Vou conseguir voltar aos 48 quilos e acabar com a celulite nas coxas. Aí
certamente vai ficar tudo bem. Entrei num programa intensivo de desintoxicação sem chá,
sem café, sem álcool, sem farinha branca, sem leite e o que mais? Ah, puxa. Sem peixe, vai
ver. Basta esfregar uma escova nas coxas durante 5 minutos pela manhã, depois tomar 15
minutos de banho de imersão com óleo anticelulite na água e massageando para desfazer a
celulite como quem amassa pão, e finalmente fazer massagem com mais óleo anticelulite.
Esta última parte do tratamento me intriga: será que o óleo penetra na celulite através da
pele? Sendo assim, se eu passar óleo de bronzear na pele, a celulite fica bronzeada? E o
sangue fica bronzeado? E o sistema linfático, tudo bronzeado? Argh. Mas... (Cigarros. Era
essa a outra coisa. Sem cigarros. Muito bem. Agora é tarde. Amanhã não fumo.)

QUINTA-FEIRA, 3 DE AGOSTO

55,8kg, 45cm de coxas (honestamente: para que?), 0 unidade alcoólica, 25 cigarros
(excelente, se considerar tudo o que passei), aproximadamente 445 pensamentos negativos
por hora, 0 pensamento positivo.

Minha cabeça não está nada boa, outra vez. Não suporto a idéia de Daniel ter outra mulher.
Passam mil fantasias pela minha cabeça de coisas que os dois estão fazendo. Fiquei distraída
dois dias com o plano de emagrecer e mudar de personalidade, mas depois desmontou tudo na
minha cabeça. Percebi que era apenas um jeito complicado de enganar a mim mesma. Estava
achando que podia me reinventar em poucos dias e assim anular o impacto da dolorosa e
humilhante infidelidade de Daniel, ocorrida numa encarnação anterior e que jamais se
repetiria no meu novo ego melhorado. Infelizmente, agora vejo que o único motivo para me
reinventar, combater a celulite e emagrecer era fazer com que Daniel percebesse seu erro.
Tom já tinha me prevenido e dito que 90% das cirurgias plásticas são feitas por mulheres
cujos maridos fugiram com mulheres mais jovens. Eu disse que a giganta do terraço não era
tão mais jovem que eu, só mais alta, e Tom argumentou que era esse o problema. Argh.
No trabalho, Daniel continuou me mandando mensagens pelo computador, dizendo
"Precisamos conversar" etc. Ignorei de propósito. Quanto mais ele mandava mensagens mais
iludida eu ficava, achando que minha reinvenção estava funcionando, ele tinha percebido seu
tremendo erro, só agora via o quanto me amava e a giganta do terraço já era.
Hoje, no final do dia, ele correu atrás de mim quando eu estava indo embora.
— Querida, por favor, precisamos conversar - pediu.
Como uma boba, fui tomar um drinque com ele no American Bar do hotel Savoy, deixei
que me amaciasse com champanhe e com "Estou tão mal, sinto falta de você, blá-blá-blá". Aí,
quando admiti: "Ah, eu também sinto a sua falta", ele de repente ficou sério e disse:
— O caso é que Suki e eu...
— Suki? Vagabi é um nome que cai melhor - falei, achando que ele ia dizer: "Somos como
irmãos, primos, inimigos, um caso acabado." Em vez disso, ele me olhou bem firme e disse:
— Ah, é difícil explicar. É uma coisa muito especial.
Fiquei olhando para ele, surpresa com a mudança.
— Desculpe, amor - disse ele, pegando seu cartão de crédito e chamando o garçom -, mas
nós vamos nos casar.

SEXTA FEIRA, 4 DE AGOSTO

45cm de coxa, 600 pensamentos negativos por minuto, 4 crises de pânico, 12 crises de choro
(mas no banheiro, e lembrei de levar o corretivo todas as vezes), 7 bilhetes de loteria.

Trabalho. Banheiro do terceiro andar. É simplesmente ... simplesmente ... insuportável.
Por que diabos tive a idéia de ter um caso com o chefe? Agora não consigo lidar com a
situação. Daniel participou para todo mundo que está noivo da giganta. Representantes de
venda que eu nem conhecia me ligam para dar os parabéns e tenho de explicar que a noiva é
outra. Fico lembrando como foi romântico o início da nossa relação, cheio de mensagens
secretas pelo computador e encontros no elevador. Ouvi Daniel falando ao telefone,
combinando de ver Vagabi à noite e dizendo, sem graça:
— Até agora, não muito mal...
Eu sabia que ele estava falando da minha reação, como se eu fosse uma secretária
apaixonada ou coisa assim. Estou pensando seriamente em fazer uma plástica.

TERÇA-FEIRA, 8 DE AGOSTO

57kg, 7 unidades alcoólicas (argh!argh!), 29 cigarros (hum, hum), 5 milhões de calorias, 0
pensamento negativo, 0 pensamento em geral.

Acabo de ligar para Jude. Contei um pouco do drama com Daniel e ela ficou horrorizada,
declarou imediatamente que é uma situação de emergência e disse que ia ligar para Sharon e
marcar de nos encontrarmos às nove da noite. Não podia ser antes porque tinha um encontro
com Richard o Vil, que finalmente concordou em fazer uma terapia de casal com ela.
2. da manhã. Nossme diverti muito. Opa. Tropecei.

QUARTA-FEIRA, 9 DE AGOSTO

58kg (mas por uma boa causa), 43cm de coxa (ou é milagre, ou erro provocado pela
ressaca), 0 unidade alcoólica (o corpo continua absorvendo o que bebi ontem à noite), 0
cigarro (putz).

8h. Argh. Depois da noite passada, fiquei num estado físico deplorável, mas emocionalmente
bem animada. Jude chegou furiosa porque Richard o Vil não tinha ido à terapia de casal.
— Claro que a terapeuta ficou achando que ele era um namorado imaginário e eu uma
pessoa muito, muito triste.
— E o que você fez? - perguntei, solidária, afastando uma idéia diabólica: “A terapeuta
estava certa."
— Ela disse que eu tinha de falar dos problemas que não são relacionados com Richard.
— Mas todos os seus problemas são relacionados com Richard - argumentou Sharon.
— Eu sei. Falei isso, ela concluiu que tenho um problema com limites e me cobrou 55
pratas.
— Por que ele não apareceu? Espero que aquele verme sádico tenha uma boa desculpa -
praguejou Sharon.
— Disse que ficou preso no trabalho - explicou Jude. — Eu falei: "Olha, você não tem o
monopólio de problemas de relacionamento. Na verdade, eu tenho um problema de
relacionamento. Se você não resolver o seu, vai acabar se envolvendo com o meu e aí será
tarde demais.
— Mas você tem um problema de relacionamento? - perguntei, surpresa, pensando que eu
também devia ter.
— Claro que tenho - admitiu Jude, zangada. – É que ninguém vê porque está muito
mascarado atrás do problema do Richard. Na verdade, o meu problema é bem maior que o
dele.
— É mesmo - concluiu Sharon. — Mas você não fica por aí com seu problema grudado na
testa, como faz todo homem acima dos vinte anos hoje.
— Era isso que eu queria dizer - concordou Jude, tentando acender mais um Silk Cut, mas
o isqueiro falhava.
— Todo mundo tem problema de relacionamento _ resmungou Sharon com uma voz
gutural igualzinha à de Clint Eastwood. — É a cultura dos três minutos. É uma carência geral
de atenção. E típico dos homens transformar isso num problema global e numa desculpa para
rejeitar as mulheres e fazer com que se sintam inteligentes e nós nos sintamos burras. Não
passa de babaquice emocional.
— Malditos! - gritei. — Que tal pedirmos mais um vinho?
9h. Droga. Mamãe acaba de ligar.
— Querida, adivinha o que aconteceu? O programa Boa tarde! está precisando de uma
produtora. Trata de assuntos da atualidade, é muito interessante. Falei de você com Richard
Finch, o editor. Disse que você tinha diploma de ciências políticas, querida. Não se preocupe,
ele é muito ocupado para conferir. Quer que você converse com ele segunda-feira.
Segunda-feira. Ai, meu Deus. Com isso, tenho só cinco dias para aprender sobre temas da
atualidade.

SÁBADO, 12 DE AGOSTO

58,5kg (ainda por uma causa muito boa), 3 unidades alcoólicas (m.b.), 32 cigarros (m. m.
ruim, principalmente porque foi no dia em que eu ia parar), 1.800 calorias (bom), 4 bilhetes
de loteria (b.), 1,5 artigos sobre assuntos sérios lidos, 22 ligações para o 1471 (tudo bem),
120 minutos de conversas imaginárias com Daniel (m.b.), 90 minutos pensando em Daniel
implorando para eu voltar (excelente).

Certo. Estou decidida a ver as coisas de uma forma mto positiva. Vou mudar de vida: ficar
bem informada sobre temas da atualidade, parar de fumar completamente e manter uma boa
relação com um homem adulto.
8h30. Ainda não fumei nenhum cigarro. M. b.
8h35. Nenhum cigarro até agora. Excelente.
8h40. Será que tem alguma coisa interessante na caixa de correspondência?
8h45. Argh. Recebi só um odioso documento da Secretaria de Seguro Social exigindo o
pagamento de 1.452 libras. Como? Por quê? Não tenho 1.452 libras. Ai, Deus, preciso de um
cigarro para me acalmar. Não devo. Não devo.
8h47. Acabo de fumar. Mas o primeiro dia sem fumar só começa oficialmente depois que
estou vestida. De repente começo a pensar em Peter, um ex-namorado com quem tive uma
relação funcional durante sete anos e com quem rompi por razões que não lembro. De vez em
quando - em geral quando não tem com quem sair num feriado – ele tenta voltar e diz que
quer casar comigo. Sem perceber direito o que está acontecendo, começo a achar que agora
ele é a solução. Por que ficar infeliz e sozinha se Peter quer ficar comigo? Achei o telefone
dele, liguei e deixei um recado na secretária eletrônica dizendo apenas para me ligar, em vez
de contar sobre o plano de passarmos a vida inteira juntos etc.
13h15. Peter ainda não retornou a ligação. Não sou mais capaz de atrair homem algum, nem
Peter.
13h45. A política de parar de fumar está arruinada. Peter, ligou, finalmente.
— Alô, Abelhinha. - Nós sempre nos chamamos de Abelha e Vespinha. - Eu estava mesmo
querendo falar com você. Tenho boas notícias: vou me casar.
Argh. Uma sensação desagradável na região do pâncreas. Nenhum ex-namorado nosso
deveria sair com outra mulher nem casar, mas continuar solteiro até o fim de seus dias para
dar apoio mental.
— Abelha? - perguntou Vespinha. — Bzzzzz?
— Desculpe - respondo, batendo com a cara na parede, meio tonta. — É que, ahn, acabo
de ver um acidente de carro pela janela.
Claro que aquilo era uma desculpa, mas Vespinha entusiasmou-se e falou uns vinte
minutos sobre o preço de toldos, depois disse:
— Tenho de desligar. Hoje à noite vamos preparar salsichas de cervo Delia Smith
acompanhadas de frutinhas do bosque e assistir à televisão.
Argh. Acabo de fumar um maço de Silk Cut num ato de autodestruição por desespero
existencial. Espero que o casal fique obeso e tenha de ser retirado do apartamento por um
guindaste, pela janela.
17h45. Estou tentando me concentrar para decorar os nomes dos integrantes do gabinete
paralelo britânico e não entrar numa espiral de insegurança. Não conheço a futura mulher do
Vespinha, mas imagino que seja uma giganta loura e alta, estilo terraço, que acorda às cinco
da manhã, vai fazer ginástica, esfrega sal na pele, depois enfrenta o mercado financeiro
internacional o dia inteiro sem borrar o rímel.
Percebi com grande humilhação que me aborreci com Peter porque eu terminei o namoro
com ele e agora ele terminou comigo, ao se casar com a Sra. Valquíria Giganta.
Mergulho em pensamentos mórbidos e cínicos a respeito de como um fim de caso envolve
ego e orgulho feridos, mais do que a perda em si. A partir daí, cheguei à conclusão de que a
princesa Sarah se sente tão segura porque o príncipe Andrew ainda quer voltar para ela (até
resolver casar com outra, rá-rá-rá).
18h45. Estava começando a assistir ao noticiário das seis horas, equilibrando o notebook no
colo, quando minha mãe adentrou o apartamento, carregada de sacolas.
— Bom, querida - disse ela passando para a cozinha. — Trouxe uma sopa deliciosa e
algumas lindas roupinhas minhas para você usar na segunda-feira! - Ela estava com um
vestido verde-limão, casaco preto e sapatos de salto. Parecia a cantora Cilla Black do
Encontro marcado. — Onde você guarda as conchas de sopa? - perguntou, abrindo e
fechando os armários da cozinha. — Desculpe, querida, mas que bagunça! Dê uma olhada nas
roupas das sacolas enquanto eu esquento a sopa.
Apesar de não levar em consideração que a) estávamos no verão b) fazia um calor infernal
c) eram seis e quinze da tarde e d) eu não queria sopa nenhuma, olhei o que tinha na primeira
sacola: uma coisa plissada em tecido sintético amarelo-ovo com estampa floral.
— Err, mãe ... - comecei a falar, mas tocou uma campainha dentro da sacola.
— Ah, deve ser o Julio. Arrã, arrã. - Ela segurava o celular no queixo e dava uns pulinhos.
— Arrã, arrã. Vista esse, querida - sussurrou para mim. — Arrã, arrã. Arrã. Arrã.
Agora perdi o jornal na tevê, mamãe foi para um queijos-e-vinhos e me deixou parecendo
uma perua num conjunto azul-petróleo sobre uma blusa verde e com os olhos pintados de
sombra azul que ia até as sobrancelhas.
— Não seja boba, querida - disse ela, ao sair. — Se não fizer alguma coisa em relação à
aparência, jamais conseguirá um novo emprego, quanto mais um novo namorado!
Meia-noite. Depois que ela foi embora, liguei para Tom, que me levou na festa de um amigo
dele da escola de arte na Galeria Saatchi para ver se conseguia que eu parasse com aquela
obsessão.
— Bridget - disse ele nervoso, quando entramos no buraco branco repleto de jovens
grunges. — Você sabe que não se ri de uma instalação artística, não é?
— Eu sei, eu sei - respondi, mal-humorada. — Não vou fazer nenhuma piada sem graça.
Alguém que se chamava Gav disse "Oi": uns 22 anos, gostoso, com uma camiseta apertada
que mostrava uma barriga bem musculosa.
— Mas isso é muito, muito, muito maravilhoso – disse Grav. — É como uma Utopia com
uns ecos assim muito, muito maravilhosos de, sei lá, identidades pátrias perdidas.
Agitado, ele nos conduziu pela enorme sala branca até um rolo de papel higiênico que
tinha o papelão por fora do papel.
Os dois ficaram me olhando, esperando que eu dissesse alguma coisa. De repente, percebi
que ia chorar. Tom agora estava salivando diante de uma barra de sabão em forma de pênis.
Gav me olhava.
— Puxa, essa é uma reação muito, muito, muito forte - disse ele, enquanto eu tentava
segurar as lágrimas.
— Vou ao toalete - falei, passando por uma série de sacolas cheias de toalhas de papel.
Tinha uma fila numa porta com uma tabuleta escrito Instalban e fiquei lá, nervosa. De
repente, quando já estava na minha vez de entrar, senti uma mão no meu braço. Era Daniel.
— Bridge, o que você está fazendo aqui?
— O que você acha? - respondi, com raiva. — Desculpe, estou apertada. - Entrei no
cubículo e, quando ia começar a tirar a roupa, percebi que era uma imitação, de plástico.
Daniel enfiou a cabeça na porta.
— Bridge, não faça xixi na instalação, sim? - e fechou a porta.
Quando saí, ele tinha sumido. Não consegui enxergar Gav, Tom, nem ninguém. Acabei
achando um banheiro de verdade, sentei na privada e chorei, achando que não conseguia mais
viver em sociedade, precisava me isolar até melhorar. Tom estava me esperando do lado de
fora.
— Venha falar com Gav. Ele ficou muito, assim, interessado em você.
Mas quando olhou para minha cara, mudou de idéia.
— Ah, droga, vou levar você para casa.
Não adianta. Quando alguém nos abandona, além das saudades, além de acabar aquele
mundinho que os dois criaram juntos e de tudo o que vemos ou fazemos nos lembrar dele - o
pior é pensar que fomos testados e no fim de tudo o que sobrou da gente ganha o carimbo
REJEITADO pela pessoa que a gente ama. Como não ficar me sentindo como um sanduíche
velho de rodoviária?
— Gav gosta de você - disse Tom.
— Gav tem dez anos. E só gostou de mim porque achou que eu estava chorando por causa
de um rolo de papel higiênico.
— De certa forma, você estava - disse Tom. — Maldito Daniel. Não me surpreenderia nem
um pouco se esse idiota fosse o único responsável pelo conflito na Bósnia.

DOMINGO, 13 DE AGOSTO

Noite mto ruim. Para completar, tentei ler para pegar no sono e folheei a revista Tatler, onde
vi a cara de Mark Bobo Darcy numa reportagem sobre os 50 solteiros mais cobiçados de
Londres, dizendo como ele era rico e interessante. Argh. Fiquei ainda mais deprimida, não dá
nem para descrever. Muito bem, agora vou parar de ficar com pena de mim e passar a manhã
lendo os jornais até decorar.
Meio-dia. Rebecca acaba de ligar perguntando se "estou bem”. Achando que ela estivesse se
referindo a Daniel, respondi:
— Olha, estou bem deprimida.
— Ah, coitada. É, encontrei Peter na noite passada (Onde? O quê? Por que não fui
convidada?) e ele contou que você está muito chateada por causa do casamento. Como disse
ele, é difícil mesmo, as mulheres solteiras têm tendência a ficar desesperadas à medida que
envelhecem.
Na hora do almoço eu já não estava mais agüentando o domingo, nem fingir que estava
tudo certo. Liguei para Jude e contei do Vespinha, de Rebecca, da entrevista de trabalho,da
mamãe, do Daniel, do desespero geral e combinei de encontrá-la às duas no Jimmy Baez para
tomar um bloody mary.
18h. Por sorte, Jude estava lendo um livro muito interessante chamado Cada mulher, uma
deusa. Parece que o livro diz que há certas fases da vida em que tudo dá errado e você não
sabe o que fazer, é como se todas as portas de alumínio à sua volta se fechassem igual ao
filme Jornada nas estrelas. O que se deve fazer é ser heróica e continuar firme, sem
mergulhar na bebida nem ficar com pena de si mesma, e então tudo vai dar certo. Segundo o
livro, todos os mitos gregos e muitos dos filmes de sucesso são sobre seres humanos
enfrentando situações difíceis sem esmorecer e assim vencendo.
O livro diz também que enfrentar fases difíceis é como entrar numa espiral e a cada volta
que se desce há um ponto mais sofrido e complicado. Nesse ponto está o seu problema ou
ponto fraco. Quando você está na parte mais estreita da espiral, você sempre volta
rapidamente à mesma situação, pois os círculos são pequenos. À medida que vai descendo,
passa por cada vez menos fases difíceis mas é preciso voltar a elas, então, quando acontece
com você, você não deve pensar que voltou à estaca zero.
O problema é que, agora que estou sóbria, não sei direito do que ela estava falando.
Mamãe ligou. Tentei explicar como é difícil ser mulher, tendo um prazo determinado para
procriar, problema que não aflige os homens. Mas ela argumentou:
— Ah, sinceramente, querida. Vocês hoje são tão insatisfeitas e românticas. O problema é
que têm muitas escolhas na vida. Não digo que não amava seu pai, mas quando eu era jovem
sempre nos diziam que, em vez de esperar grandes e arrebatadoras emoções na relação com os
homens, devíamos “esperar pouco e perdoar muito”.E para ser sincera, querida, ter filhos não
é lá essas coisas. Quer dizer, não vá ficar ofendida, não é nada pessoal, mas se fosse para
começar de novo não sei se eu ia ter...
Ai, Deus. Até minha própria mãe preferiria que eu não tivesse nascido.

SEGUNDA-FEIRA, 14 DE AGOSTO

59,4kg (ótimo – me transformei numa montanha de banha para a entrevista, e estou com uma
espinha), 0 unidade alcoólica, muitos cigarros, 1.475 calorias (mas vomitei, então,
aproximadamente 400).

Ai, Deus. Estou morta de medo da entrevista. Avisei Perpétua que eu ia ao ginecologista; sei
que devia ter dito dentista, mas não se pode perder a chance de torturar a mulher mais
mexeriqueira do mundo. Estou quase pronta, só falta acabar a maquiagem enquanto fico
repassando na cabeça o que penso da liderança de Tony Blair. Ai, Deus, quem é o secretário
da Defesa do gabinete paralelo? Merda, merda. É um sujeito de barba? Merda: o telefone
tocou. Não acredito: uma terrível voz de adolescente com sotaque do sul de Londres informa,
enquanto ao fundo ouve-se uma musiquinha chata:
— Alô, Bridget, aqui é da parte de Richard Finch. Esta manhã ele foi a Blackpool, por isso
pede para cancelar a entrevista.
Remarcada para quarta-feira. Vou ter de fingir que tenho um problema ginecológico
persistente. De todo jeito, vou tirar a manhã inteira.

QUARTA-FEIRA, 16 DE AGOSTO

Noite horrível. Acordava banhada em suor, sem saber a diferença entre os Unionistas do
Ulster e o Partido Trabalhista Social-Democrata e a qual dos dois pertencia o líder Ian
Paisley.
Em vez de ser levada à redação para encontrar o grande Richard Finch, me largaram
suando na recepção durante 40 minutos, pensando "Ai, Deus, quem é o ministro da Saúde?"
até que Patchouli, a assistente dele, me chamou com uma vozinha enjoada. Ela estava de
bermuda de lycra e tinha um piercing no nariz e ficou pasma com meu vestido xadrez, como
se, numa tentativa inútil de ser formal, eu estivesse usando um vestido de baile de seda até o
pé no estilo Laura Ashley.
— Você sabe que Richard quer que participe da reunião de pauta, não? - murmurou ela,
enquanto andava, rápida, por um corredor e eu ia atrás correndo. Abriu uma porta cor-de-rosa
e entramos numa sala enorme, cheia de pilhas de roteiros, aparelhos de tevê dependurados no
teto, gráficos pelas paredes e bicicletas encostadas nas mesas. No fundo da sala tinha uma
mesa grande onde estavam fazendo a reunião. Quando chegamos, todo mundo virou para nos
olhar.
Um homem gordo, de meia-idade, com cabelo loiro encarolado, camisa de jeans e óculos
de aro vermelho falava, agitado, na cabeceira da mesa.
— Entre, entre! - convidou, mostrando os punhos como um boxeador. — Estou pensando
no ator Hugh Grant. Estou pensando na atriz Elizabeth Hurley. Estou pensando em como, dois
meses depois, eles continuam juntos. Estou pensando como é que ele vai explicar essa
história. Isso mesmo! Como é que um homem que tem uma namorada como Elizabeth Hurley
ganha uma chupão de uma prostituta em uma via pública e se safa? O que aconteceu com o
ciúme?
Eu não acreditava no que estava ouvindo. E o gabinete paralelo? E o processo de paz na
Irlanda do Norte? Obviamente ele estava querendo saber como é que ele mesmo podia se
explicar por ter dormido com uma prostituta. De repente, falou, olhando na minha direção.
— Você sabe? - A mesa inteira, cheia de jovens grunges, ficou me olhando. — Você. Deve
ser a Bridget! - berrou, nervoso. — Como se explica que um homem com uma bela namorada
tenha conseguido transar com uma prostituta, ser descoberto e se safar?
Entrei em pânico. Deu um branco na minha cabeça.
—Então? - perguntou ele. — Vamos, diga alguma coisa!
— Bom, deve ter sido porque alguém engoliu as provas.
Houve um silêncio de morte, e então Richard Finch começou a rir. O riso mais repelente
que já ouvi na vida. A seguir todos os jovens grunges começaram a rir também.
— Bridget Jones - disse Richard Finch, passando a mão nos olhos. — Seja bem-vinda ao
Boa tarde!. Sente-se, querida - e deu uma piscadela.

TERÇA-FEIRA, 22 DE AGOSTO

58kg, 4 unidades alcoólicas, 25 cigarros, 5 bilhetes de loteria.

Ainda não tive notícia do resultado da entrevista. Não sei o fazer no próximo feriado nacional
já que não vou agüentar ficar sozinha em Londres. Sharon vai ao Festival de Edimburgo, Tom
também, e muita gente da editora. Gostaria de ir, mas não sei se tenho dinheiro e tenho medo
que Daniel também vá. E também todo mundo vai ser mais bem-sucedido e vai estar se
divertindo mais do que eu.

QUARTA-FEIRA, 23 DE AGOSTO

Vou para Edimburgo com certeza. Daniel vai ficar trabalhando em Londres, por isso não
corro o risco de dar de cara com ele no Passeio Real. Vai ser bom sair de Londres, em vez de
ficar aqui ansiosa à espera de uma resposta do Boa Tarde!

QUINTA-FEIRA, 24 DE AGOSTO

Vou ficar em Londres. Sempre acho que vou me divertir no Festival, mas acabo só
conseguindo assistir ao espetáculo de mímica. Além disso, você arruma a mala com roupas de
verão e acaba morrendo de frio e tiritando por ruas com piso de pedra ao lado de ruínas,
imaginando que todo mundo deve estar numa festa ótima.

SEXTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO

19h. Vou para Edimburgo. Perpétua hoje me disse:
— Bridget, acabo de me lembrar de uma. coisa. Aluguei um apartamento em Edimburgo e
adoraria se você quisesse ficar lá conosco.
Que gentil da parte dela.
22h. Acabo de ligar para Perpétua e dizer que não vou. É besteira, não posso gastar esse
dinheiro.

SÁBADO, 26 DE AGOSTO

8h30. Certo, vou ficar em casa, descansar e passar um fim de semana saudável. Ótimo. Posso
terminar de ler Estrada dos famintos.
9h. Ai, Deus, estou tão deprimida. Todo mundo foi para Edimburgo, menos eu.
9h15. Será que Perpétua já foi?
Meia-noite. Edimburgo. Ai, Deus. Preciso assistir a alguma coisa amanhã. Perpétua acha
que sou maluca. Passou a viagem de trem inteira com o celular no ouvido e berrando para as
pessoas:
— As entradas para o Hamlet com Arthur Smith estão completamente esgotadas, então
podemos ir às cinco horas ver os irmãos Coen, mas aí vamos nos atrasar para ver Richard
Herring. Então devemos não assistir a Jenny Eclair - puxa, não entendo como ela ainda faz
isso - e ver Lamark, depois tentamos entrar no Harry Hill ou no Bondages e Julian Clary?
Espera aí. Vou tentar ver se consigo lugar no Gilded Balloon. Não, o Harry Hill está lotado,
então que tal se não formos nos irmãos Coen?
Combinei de encontrar com eles às seis no Plaisance porque queria ir ao Hotel George
deixar um recado para Tom e dei de cara com Tina no bar. Não imaginava que o Paisance
fosse tão longe; quando cheguei, o espetáculo já havia começado e não havia mais lugar. No
fundo, achei ótimo e voltei a pé para o apartamento - ou melhor, despenquei. Lá, fiz uma
maravilhosa batata cozida no forno com recheio de frango ao curry e assisti à Vítima na tevê.
Devia encontrar Perpétua às nove, no salão. Às oito e meia eu já estava pronta, mas não sabia
que não podia ligar para fora, então não podia chamar um táxi, então acabei chegando
atrasada. Voltei para o bar do Hotel George para ver se encontrava Tina e saber onde estava
Sharon. Pedi um bloody mary e fiquei fazendo de conta que não me importava de ficar ali
sozinha quando percebi uma confusão de flashes de fotógrafos e câmeras de tevê num canto.
Quase dei um grito. Lá estava mamãe, vestida como se fosse a Marianne Faithful, pronta para
entrevistar Alan Yentob.
— Agora, todo mundo quieto! - ordenou ela numa voz tipo Una Alconbury. — Aaaaação!!!
Escute, Alan – perguntou ela, parecendo muito emocionada -, você algum dia chegou a
pensar em suicídio?
Para ser sincera, a programação de tevê esta noite estava bem legal.

DOMINGO, 27 DE AGOSTO, EDIMBURGO

0 espetáculo assistido
2h da manhã. Não consigo dormir. Aposto que todo mundo está em alguma festa ótima.
3h. Ouvi Perpétua chegando e dando sua opinião sobre comediantes da escola alternativa:
— São bobinhos, infantis, completamente sem graça.
Acho que ela deve ter entendido alguma coisa errada.
5h. Tem um homem no apartamento. Eu sinto que tem.
6h. O homem está no quarto de Debby, do Marketing. Droga.
9h30. Acordei com Perpétua berrando:
— Alguém quer assistir à palestra sobre poesia?
Houve um silêncio, depois ouvi Debby e o homem falando baixinho e ele indo para a
cozinha. Soou a voz de Perpétua, furiosa:
— O que você está fazendo aqui?!!! Eu disse que NÃO ERA PARA TRAZER NINGUÉM
PARA DORMIR.
14h. Nossa, dormi demais.
19h. Trem de King's Cross. Ai, Deus. Encontrei com Jude no Hotel George às três. Íamos
assistir a um show de Pergunta e Resposta mas tomamos alguns bloody marys e lembramos
que isso não nos faria bem. Você fica supertensa tentando acertar uma resposta, levantando e
abaixando a mão. Finalmente, consegue fazer a pergunta, com o corpo meio inclinado para a
frente e com uma voz esganiçada, depois senta morrendo de vergonha, balançando a cabeça
como um cachorro no banco traseiro de um carro, enquanto dão uma resposta que leva vinte
minutos, na qual você não tem o menor interesse. Para encurtar a história: quando
percebemos, já eram cinco e meia e Perpétua chegou junto com umas pessoas da editora.
— Ah, Bridget, que espetáculos você viu? - perguntou, bem alto. Fez-se um grande
silêncio.
— Eu estou indo agora ... - comecei, muito segura - ...pegar o trem.
— Não assistiu a nada, não é? - perguntou, ameaçadora. — De todo jeito, me deve 75
libras pelo quarto.
— Como? - gaguejei.
— Isso mesmo! Seriam 50 libras, mas há um acréscimo de 50% para mais uma pessoa no
quarto.
— Mas no meu quarto não tinha ...
— Ah, Bridget, não venha com essa, todo mundo sabe que você estava com um homem no
quarto - disse ela. Mas não se preocupe. Isso não é amor, é apenas Edimburgo. Vou dar um
jeito de fazer com que Daniel saiba e aprenda a lição.

SEGUNDA-FEIRA, 28 DE AGOSTO

59,8kg (muita cerveja e batata recheada), 6 unidades alcoólicas, 20 cigarros, 2.856 calorias.

Recebi um recado de mamãe na secretária eletrônica perguntando o que eu achava de ganhar
um batedor elétrico no Natal e me lembrando que este ano o Natal cai numa segunda-feira e
por isso ela gostaria de saber se eu ia para casa na sexta-feira à noite ou no sábado.
Um fato menos irritante: recebi uma carta de Richard Finch, editor do Boa tarde!, me
oferecendo um emprego, acho. Dizia assim:
Muito bem, querida. Você está no ar.

TERÇA-FEIRA, 29 DE AGOSTO

58kg, 0 unidade alcoólica (m.b.), 1.456 calorias (alimentação saudável pré-emprego novo).

10h30. Trabalho. Acabo de ligar para Patchouli, a assistente de Richard Finch, e saber que só
devo começar a trabalhar na próxima semana. Não entendo nada de televisão mas dane-se,
estou num beco sem saída aqui na editora e agora ficou muito humilhante trabalhar com
Daniel. É melhor eu ir contar a ele.
11h15. Não acredito. Daniel ficou me olhando, branco como uma vela.
— Você não pode fazer uma coisa dessas. Não pode imaginar como as últimas semanas
foram difíceis para mim.
Quando estava dizendo isso, Perpétua entrou de repente (devia estar ouvindo do outro lado
da porta).
— Daniel - explodiu ela. — Seu egoísta, manipulador, chantagista emocional. Pelo amor
de Deus, foi você que terminou com ela. Então, bem que podia parar com essa merda.
De repente pensei que eu poderia gostar muito de Perpétua, mas não lesbicamente.

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