9. Setembro: Subindo no escape do Corpo de Bombeiros

SEGUNDA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO

57kg, 0 unidade alcoólica, 27 cigarros, 15 calorias, 145 minutos gastos em conversas
imaginárias com Daniel dizendo o que penso dele (bom, melhor).

8h. Primeiro dia no novo trabalho. Devo começar demonstrando muito interesse, calma,
transmitindo uma imagem confiante. E sem fumar. Fumar é sinal de fraqueza e acabar com a
autoridade da pessoa.
8h30. Mamãe acaba de ligar, achei que era para me desejar boa sorte no novo trabalho.
— Adivinha o que aconteceu, querida? - começou ela.
— O quê?
— Elaine convidou você para as bodas de rubi dela! - anunciou, fazendo uma pausa
ofegante e ansiosa.
Deu um branco na minha cabeça. Elaine? Brian-e-Elaine? Colin-e-Elaine? Elaine-mulherde-
Gordon-quefoi-chefe-da-Tarmacadam-em-Kettering?
— Ela achou que seria ótimo ter alguns jovens para fazer companhia a Mark.
Ah Malcolm e Elaine. Progenitores do superperfeito Marcy Darcy.
— Parece que ele disse a Elaine que acha você muito interessante.
— Ah não minta! - reclamei. Mas gostei de saber.
— Bom acho que foi isso que ele quis dizer, querida.
— Mas o que ele disse? - perguntei, desconfiada.
— Disse que você era muito...
— Mãe...
— Bom, a palavra exata que ele usou, querida, foi bizarra. Mas é uma graça não? Bizarra.
Você pode perguntar direito para ele nas bodas.
— Eu não vou até, Huntingdon para comemorar as bodas de rubi de um casal com quem
falei uma vez na vida, durante oito segundos, quando tinha três anos de idade, só para me
jogar na frente de um divorciado rico que me acha bizarra.
— Ah, não seja boba, querida.
Acabei concordando.
— Acho que tenho de ir à festa- admiti feito uma boba, já que mamãe como sempre
começou a falar sem parar como se eu se eu estivesse no corredor da morte e aquele fosse
nosso último contato antes de me aplicarem uma injeção letal
— Ele estava ganhando milhares de libras por hora. Tinha relógio sobre a mesa, tiquetaque,
tique-taque, tique-taque. E já contei que vi Mavis Enderby na agência do correio?
— Mamãe, hoje é o meu primeiro dia de trabalho. Estou nervosa. Não quero ficar falando
de Mavis Enderby.
— Ó meu Santo Pai, querida! Que roupa você vai usar na festa?
— A minissaia preta com uma camiseta.
— Ah, desse jeito você vai parecer uma mendiga maltrapilha. Use alguma coisa elegante,
de cores vivas. Que tal aquele lindo duas-peças cereja? Aliás, contei que Una está num
cruzeiro pelo Nilo?
Argh. Fiquei me sentindo tão mal depois que ela desligou que fumei cinco Silk Cut, um
atrás do outro. Não foi um bom começo de dia.
21h. Estou na cama, completamente exausta. Tinha esquecido como é horrível começar num
emprego novo: ninguém conhece você, então a sua personalidade passa a ser definida por
qualquer comentário ao acaso ou qualquer coisa um pouco diferente que diz. Não dá nem para
retocar a maquiagem sem ter de perguntar onde fica o banheiro.
Cheguei atrasada, mas não por culpa minha. Foi impossível entrar no estúdio da tevê,
porque eu não tinha o crachá e a portaria era guardada por aqueles seguranças que acham que
o trabalho deles consiste em evitar que os funcionários entrem no prédio. Quando finalmente
consegui chegar à recepção não podia subir sem que alguém descesse para me buscar. A essa
altura já eram 9h25 e a reunião era às nove e meia. Patchouli acabou aparecendo com dois
enormes cães latindo, um dos quais pulou em cima de mim e ficou lambendo minha cara,
enquanto o outro colocava a cabeça debaixo da minha saia.
— Os cachorros são de Richard. Não são o máximo? – perguntou ela. — Vou levar os dois
para o carro.
— Não vou me atrasar para a reunião? - perguntei, desesperada, segurando a cabeça do
cachorro no meio das minhas pernas e tentando afastá-lo. Ela me olhou de alto a baixo, como
se dissesse "E daí?", e sumiu, puxando os cachorros.
Quando entrei na redação, a reunião já tinha começado e todo mundo ficou me olhando,
menos Richard, cujo corpo avantajado estava apertado num estranho paletó verde de lã.
— Entre, entre - disse ele, agitado, mostrando a mesa com as duas mãos. — Estou
pensando na edição das nove. Estou pensando em padres corruptos. Estou pensando em atos
sexuais dentro da igreja, Estou pensando em por que mulheres se apaixonam por padres.
Vamos lá, você não está sendo paga para ficar quieta. Tenha uma idéia.
— Por que você não entrevista Joanna Trollope? - perguntei.
— Trolha? - disse ele, me olhando sem entender. — Que trolha?
— Joanna Trollope. A autora do livro A mulher do padre-reitor, que apareceu na tevê. A
mulher do padre-reitor. Ela deve saber.
Ele deu um sorriso satisfeito.
— Ótimo - falou, olhando para meu peito. — Grande idéia. Alguém tem o telefone da
Joanna Trollope?
Houve um longo silêncio.
— Bom, eu tenho - acabei dizendo, sentindo vibrações de ódio vindas dos jovens grunges.
Quando a reunião terminou, corri para me ajeitar no banheiro e lá encontrei Patchouli com
uma amiga, que usava um vestido pintado que deixava aparecer as calcinhas - e a cintura.
— Não é muito exagerado, é? - perguntou a amiga de Patchouli. — Você tinha de ver
aquelas peruas de trinta e poucos anos quando eu entrei. Levaram um susto!
Perceberam que eu estava ali e me olharam, surpresas, tapando a boca com as mãos.
— Não estávamos nos referindo a você - disseram.
Não tenho certeza se vou conseguir agüentar isso.

SÁBADO, 9 DE SETEMBRO

56,2kg (a grande vantagem de ter um emprego novo é emagrecer, graças à tensão que
provoca), 4 unidades alcoólicas, 10 cigarros, 1.876 calorias, 24 minutos gastos com
conversas imaginárias com Daniel (excelente), 94 minutos imaginando conversas com
mamãe nas quais os meus argumentos venceram.

11h30. Por quê, ai, por que fui dar a chave do meu apartamento para mamãe? Pela primeira
vez em cinco semanas eu estava começando um fim de semana sem ter vontade de olhar para
as paredes e chorar. Tinha trabalhado a semana inteira. Estava começando a achar que tudo ia
dar certo, eu não seria mais necessariamente devorada por um pastor-alemão. Foi nesse
instante que mamãe entrou, carregando uma máquina de costura.
— Que diabo você está fazendo, bobinha? – perguntou ela, com uma voz que parecia um
trinado. Eu estava pesando 100 gramas de cereais para o café da manhã, usando como
contrapeso um tablete de chocolate (a balança tem as medidas em onças, o que complica
porque a tabela de calorias é em quilos). — Adivinha o que aconteceu, querida? - perguntou
ela, enquanto abria e fechava todos os armários.
— O quê? - respondi, de meias e camisola, tentando tirar rímel de debaixo dos olhos.
— Malcolm e Elaine vão comemorar as bodas de rubi em Londres, no dia 23. Agora você
pode ir e fazer companhia a Mark
— Não quero fazer companhia a Mark - falei, entre dentes.
— Ah, mas ele é tão inteligente. Estudou em Cambridge. Parece que fez uma fortuna nos
Estados Unidos...
— Não vou.
— Escuta, querida, não vamos começar com isso – disse ela, como se eu tivesse 13 anos.
— Olha, Mark acabou de decorar a casa no Holland Park e vai oferecer a festa para os pais
em seis andares, com bufê e tudo mais. Qual roupa você vai usar?
— Você vai com Julio ou com papai? - perguntei, para ela ficar quieta.
— Ah, querida, não sei. Talvez com os dois - disse, com aquela vozinha especial,
sussurrante, que guarda para os momentos em que acha que é a atriz Diana Dors.
— Você não pode fazer uma coisa dessas.
— Mas seu pai e eu continuamos amigos, querida.E sou apenas amiga de Julio também.
Argh, argh. Aaargh. Não consigo lidar com ela quando ela fica assim.
— Então vou dizer para Elaine que você gostaria muito de ir, sim? - disse, pegando a
inexplicável máquina de costura e saindo. — Preciso ir. Tchau!
Não vou passar mais uma tarde borboleteando em volta de Mark Darcy como uma colher
de purê de batata na frente de um bebê. Terei de sair do país ou alguma coisa assim.
20h. Vou a um jantar. Todos os Bem-Casados voltaram a me convidar nos sábados à noite
porque estou sozinha outra vez, e me colocam sentada na mesa de frente para uma horrenda
seleção de solteiros. Meus amigos são muito gentis e sou grata a eles, mas isso só enfatiza
meu fracasso emocional e minha solidão - embora Magda continue dizendo que ser solteira é
melhor do que ter um marido adúltero que sofre de incontinência sexual.
Meia-noite. Ai, Deus. Todo mundo estava querendo animar o homem sobrante (37 anos,
mulher pediu o divórcio há pouco tempo, amostra: "Para ser sincero, acho que o ministro
Michael Howard está sendo injustiçado.").
— Não sei do que você está reclamando - disse Jeremy, resistindo. — Os homens ficam
mais atraentes quando envelhecem, o que não ocorre com as mulheres. Então, todas essas
mocinhas de 22 anos que não o olhariam quando você tinha 25 agora ficam dando em cima.
Sentei e abaixei a cabeça, pensando furiosa na opinião deles sobre os prazos de validade
das mulheres e da vida como um jogo das cadeiras em que as garotas sem cadeiras -, isto é,
sem homem - caem fora do jogo quando a música pára - isto é, quando passam dos 30. Argh.
É a mesma coisa.
— Isso mesmo, eu concordo que é muito melhor namorar alguém mais jovem - falei,
distraída. — Homens de mais de 30 anos são tão chatos, com seus porres e sua paranóia de
que toda mulher quer agarrá-los para casar. Eu hoje só me interesso mesmo por homens de 20
e poucos anos. Eles são tão melhores na ... entende?
— É mesmo? Mas como você ...? - perguntou Magda, curiosa.
— É, você se interessa por eles - interrompeu Jeremy, olhando para Magda. — O problema
é saber se eles se interessam por você. . .
— Vai me desculpar, mas meu atual namorado tem 23 anos - participei, cândida.
Houve um silêncio de pasmo.
— Bom, nesse caso, pode trazê-lo no jantar do próximo sábado, não? - disse Alex, com um
sorriso irônico.
Idiota.Onde é que vou achar um rapaz de 23 anos que queira jantar com Bem-Casados num
sábado à noite, em vez de tomar ecstasy batizado?

SEXTA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO

57kg, 0 unidade alcoólica, 4 cigarros (m,b.), 3.222 calorias (graças aos fedorentos
sanduíches de rodoviária); 210 minutos gastos imaginando o que vou dizer quando pedir
demissão do emprego novo.

Argh. Uma horrível reunião com o chefão-tirano Richard Finch.
— Muito bem. Banheiros da loja Harrods cobrando uma libra para os clientes fazerem xixi.
Estou pensando em Banheiros de Fantasia. Estou pensando em um estúdio: Frank Skinner e
Sir Richard Rogers sentados em cadeiras forradas de pele, com pequenos televisores
acoplados no braço das cadeiras, papel higiênico plissado. Bridget, você fica com a
reportagem sobre a Associação de Ajuda aos Jovens Desempregados de Clampdown. Estou
pensando no Norte. Estou pensando na Associação com os jovens sem nada para fazer,
aparecendo no programa ao vivo.
— Mas, mas ... - interrompi.
— Patchouli! - berrou ele, e os cachorros que estavam embaixo da mesa acordaram e
começaram a pular e latir.
— Quê? - gritou Patchouli por cima da confusão.Estava de minivestido de crochê com uma
blusa de náilon alaranjada por cima e chapéu de palha. Como se as coisas que eu usava quanto
adolescente fossem fichinhas.
— Onde fica a sede da Associação de Jovens Desempregados?
— Em Liverpool.
— Liverpool. Então, Bridget, ponha os jovens na frente da loja Boots no shopping e
transmita ao vivo, às cinco e meia. Quero seis jovens.
Depois, quando eu estava saindo para tomar o trem rumo a Liverpool, Patchouli disse,
distraída:
— Ah, sim, Bridget. Não é Liverpool, é Manchester, certo?
MANCHESTER, 16H15.
44 contatos com jovens da Associação, 0 jovem da Associação concordou em ser
entrevistado.
Trem das 19h, Manchester-Londres. Argh. Às 16h45 eu estava correndo histérica no meio
de jardineiras de concreto e perguntando:
— Desculpe, você tem emprego? Esquece, brigada!
— O que a gente faz, então? - perguntou o câmera, sem demonstrar qualquer preocupação.
— Associação de Jovens - falei. – Peraí .
Fui correndo até a esquina, tive uma idéia. Comecei a ouvir Richard, falando no meu ponto
de orelha: "Bridget,que diabo, já fez a Associação de Jovens?" Aí vi um caixa eletrônico na
minha frente.
Às 17h20, seis jovens que garantiam ser desempregados estavam enfileirados na frente da
câmera, cada um com uma nota de 20 libras novinha no bolso, enquanto eu dava uns retoques
para eles parecerem de classe média. Ás 17h30 ouvi a música-tema de abertura do programa
entrando no ar e Richard berrando:
— Desculpe, Manchester, mas sua entrevista não vai entrar.
— Hã... - comecei, olhando para aqueles seis rostos ansiosos. Claro que eles acharam que
eu era uma maluca que fingia trabalhar na televisão. Pior ainda, como trabalhei sem parar a
semana inteira e fui para Manchester, não pude tomar qualquer providência em relação ao
jantar que tinha de ir com meu "namorado" no dia seguinte. Aí, subitamente, bati o olho
naqueles lindos pirralhos tendo ao fundo o caixa eletrônico e comecei a pensar em algo muito
interessante.
Humm. Acho que foi bom não tentar atrair um jovem da Associação para o jantar na casa
de Cosmo. Seria desonesto, errado. Mas isso não resolve o problema. Acho que vou fumar um
cigarro no vagão de fumantes.
19h30. Argh. O vagão de fumantes virou um horrível chiqueiro onde as pessoas se amontoam,
humilhadas e ofendidas. Cheguei à conclusão de que hoje os fumantes não podem mais ter
uma vida digna, são obrigados a ter uma subvida. Não me surpreenderia se o vagão fosse
discretamente desviado da linha e sumisse para sempre. Talvez as empresas ferroviárias
privatizadas vão ter vagões de fumantes e, quando o trem passar por uma cidade, os habitantes
vão mostrar os punhos ou jogar pedras, contando histórias apavorantes para seus filhos de
passageiros que soltam fumaça pelas ventas. Consegui ligar para Tom de um telefone que é
um milagre-sobre-rodas (Como funciona? Como? Não tem fio. Estranho. Talvez haja uma
conexão elétrica através das rodas e trilhos) para reclamar da crise por causa do jantar com o
rapaz inexistente de 23 anos.
— O que acha de Gav? - perguntou Tom.
— Gav?
— É, aquele que você conheceu na Galeria Saatchi.
— Você acha que ele gostaria?
— Acho. Ele estava bem interessado em você.
— Estava nada. Pára com isso.
— Estava sim. Pára de ser complexada. Deixa comigo, eu resolvo.
Às vezes acho que, se não fosse Tom, eu sumia sem deixar qualquer vestígio.

TERÇA-FEIRA, 19 DE SETEMBRO

56,2kg (m.b.), 3 unidades alcóolicas, 0 cigarro (fico com vergonha de fumar na frente de
pirralhos saudáveis).

Droga, estou atrasada. Vou ter um encontro com um pirralho metido, tipo geração Diet Coke
Acabei descobrindo que Gav é uma pessoa ótima e teve um comportamento formidável no
Jantar de Alex no sábado, flertando com todas as mulheres casadas, me dando atenção e
neutralizando as perguntas traiçoeiras sobre nossa "relação” com a desenvoltura intelectual de
um professor de Oxford. Fiquei tão grata(*) que, no táxi de volta para casa, não pude resistir
aos ataques dele.(**) Mas consegui manter um pouco de compostura(***) e não aceitar o
convite para entrar no apartamento dele e tomar um café. Mas fiquei me sentindo culpada,
achando que sou uma chata.(****) Então, quando Gav ligou e perguntou se eu gostaria de
jantar na casa dele, aceitei, gentil.(*****)
(*) morrendo de vontade de ir para a cama com ele.
(**) coloquei minha mão no joelho dele.
(***) conter meu pânico.
(****) não parava de pensar “Droga, Droga, Droga”.
(*****) quase não consegui me conter de tanta alegria.
Meia-noite Sinto-me como a Abominável Mulher das Neves. Fazia tanto tempo que não saía
com um homem que fiquei toda prosa, não resisti e contei para o motorista sobre meu
"namorado": estava indo para a casa do meu “namorado, que tinha preparado um jantar para
mim. Mas, infelizmente, quando cheguei no endereço que ele me deu - Rua Malden, 4 - tinha
uma mercearia no lugar.
— Quer usar meu telefone, moça? - perguntou o motorista, com uma voz cansada.
Claro que eu não sabia o telefone do Gav, então tive de fingir que estava ligando e dizer
que estava ocupado, depois liguei para Tom e tentei descobrir o endereço de Gav de forma
que o motorista não ficasse pensando que a história do namorado era mentira. Acabou que o
endereço era Malden Villas, 44 e eu não estava prestando atenção quando anotei. Fomos para
o novo endereço, mas o papo entre mim e o motorista acabou. Tenho certeza de que ele estava
achando que eu era uma prostituta ou coisa parecida.
Cheguei lá me sentindo bem menos segura. No começo, foi tudo muito simpático e
comportado - parecido com lanchar na casa de uma melhor amiga em potencial no colégio
primário. Gav tinha feito um espaguete à bolonhesa. O problema foi quando acabou a
agitação de preparar e servir o jantar e tudo se concentrou na conversa. Acabamos não sei por
que falando na princesa Diana.
— O casamento parecia um conto de fada. Lembro que fiquei sentada no muro do lado de
fora da catedral de Saint-Paul. E você, onde estava? - perguntei.
Gav ficou meio sem graça.
— Bom, eu só tinha seis anos na época.
De todo jeito, continuamos a conversa até que Gav na maior excitação (essa é, aliás, uma
das coisas ótimas de ter um caso com rapazes de 22 anos), começou a me beijar e ao mesmo
tempo tentava abrir minha roupa. Acabou conseguindo enfiar a mão na minha barriga e aí
constatou, o que foi muito humilhante:
— Humm. Você é toda fofa.
Depois dessa, não consegui continuar. Ai, Deus. Não é fácil. Estou muito velha e vou ter
que desistir, dar aulas de religião numa escola de moças e ir morar com o professor de hóquei.

SÁBADO, 23 DE SETEMBRO

57kg, 0 unidade alcoólica, 0 cigarro (m.m.b.), 14 rascunhos de bilhetes respondendo ao
convite de Mark Darcy (assim, pelo menos parei com as conversas imaginárias com Daniel).

10h. Certo. Vou responder ao convite de Mark Darcy e dizer com.todas as letras que não
posso comparecer. Não tenho obrigação de ir. Não sou amiga próxima nem parente, e perderia
dois programas na tevê: Encontro marcado e Vítimas.
Ai, Deus. É um daqueles convites esquisitos, escritos na terceira pessoa parecendo que o
anfitrião é fino demais e se dissesse diretamente que vai dar uma festa e gostaria de saber se
você pode ir seria como chamar o toalete feminino de banheiro. Me lembrei que tinha de
responder no mesmo estilo vago como se eu fosse uma pessoa imaginária contratada por mim
mesma para responder aos convites de pessoas imaginárias contratadas por amigos para rever
convites. O que escrever?
Bridget Jones lastima não poder comparecer...
A Srta. Bridget Jones lamenta não poder comparecer...
A Srta. Bridget Jones lamenta profundamente comunicar que...
Lastimamos muito informar que a Srta. Bridget Jones está com muitos compromissos e
não pode aceitar o gentil convite do sr. Mark Darcy e portanto, com toda certeza, não tem
condições de atender ao amável convite do Sr. Mark Darcy...
Ah, telefone.
Era papai.
— Bridget, meu bem, você vai naquela terrível comemoração do próximo sábado, não?
— Você está se referindo às bodas de rubi dos Darcy?
— O que poderia ser? É a única coisa que consegue fazer sua mãe mudar de assunto e
parar de falar sobre quem vai ficar com o armário e a mesa de café de mogno depois que ela
conseguiu a entrevista com Lisa Leeson no começo de agosto.
— Eu gostaria muito de cair fora dessa festa - comentei.
Houve um silêncio.
— Papai?
Ouvi um soluço abafado. Papai estava chorando. Acho que ele está à beira de um ataque de
nervos. Pensei: se fosse casada com mamãe há 39 anos, teria um ataque de nervos mesmo que
ela não fugisse com um guia turístico português.
— O que houve, papai?
— Ah, é só que ... Desculpe. É que ... eu também gostaria de cair fora dessa festa.
— Então por que vai? Tive uma boa idéia, vamos ao cinema.
— É que ... - ele começou a chorar de novo. — Só de pensar em sua mãe acompanhada
daquele cafajeste gomalinado e perfumado, com todos os meus amigos e colegas há 40 anos
cumprimentando o casal e me considerando carta fora do baralho.
— Eles não vão ...
— Ah, vão sim. Mas resolvi ir, Bridget. Faço uma cara alegre, levanto a cabeça e... mas ...
- soluços.
— O que é, papai?
— Preciso de apoio moral.
11h30.
A Srta. Bridget fones tem a grata satisfação de...
Bridget Jones agradece a Mark Darcy por. ..
É com grande prazer que a Srta. Bridget Jones aceita...
Ah, pelo amor de Deus.
Caro Mark,
Agradeço seu convite para as bodas de rubi de Malcolm e Elaine. Terei prazer em
comparecer.
Sinceramente,
Bridget Jones
Humm.
Sinceramente,
Bridget
ou apenas
Bridget
Bridget (Jones)
Certo. Vou checar se não há erro de ortografia, passar a limpo e mandar.

SEXTA-FEIRA, 26 DE SETEMBRO

56,7kg, 0 unidade alcoólica, 0 cigarro, 1.256 calorias, 0 bilhete de loteria, 0 pensamento
obsessivo com Daniel, 0 pensamento negativo. Estou uma santa.

É ótimo quando você só fica pensando na carreira profissional, em vez de se preocupar com
coisas sem importância como homens e relacionamentos. O Boa tarde! vai muito bem. Acho
que levo jeito para programas populares de televisão. E a melhor novidade é que vou fazer um
teste de vídeo.
Richard Finch teve essa idéia no final da semana passada: queria um especial ao vivo com
os repórteres em serviços de emergência na cidade inteira. Ele não teve muita sorte no
primeiro programa. As pessoas da redação ficavam dizendo que ele não tinha conseguido
atenção , de nenhum pronto-socorro e delegacia da cidade. Quando cheguei hoje de manhã,
ele me agarrou pelos ombros e berrou:
— Bridget! Chegou a hora! Incêndio. Quero você ao vivo. Estou pensando numa
minissaia. Estou pensando num capacete de bombeiro. Estou pensando em você segurando a
mangueira.
A partir daí, foi um caos: as notícias do dia foram deixadas de lado e todo mundo foi para
os telefones checar como seriam feitos os links, quais as torres de transmissão etc. A
reportagem só vai ao ar amanhã e tenho de estar no Corpo de Bombeiros de Lewisham às 11
horas. Vou ligar para todo mundo hoje à noite pedindo para não deixarem de me ver. Estou
louca para avisar mamãe

QUARTA-FEIRA, 27 DE SETEMBRO

55,8kg (encolhi de vergonha), 3 unidades alcoólicas, 0 cigarros (é proibido fumar no Corpo
de Bombeiros, mas depois que saí de lá fumei 12 em uma hora).

9h. Nunca me senti tão humilhada. Passei o dia ensaiando e preparando tudo. O plano era,
quando a câmera mostrasse o Corpo de Bombeiros de Lewisham, eu escorregar pelo escape e
começar a entrevistar um bombeiro. Às cinco da tarde quando entramos no ar, eu estava
empoleirada no alto do escape, pronta para descer. Aí, de repente Richard gritou no meu
ponto de orelha:
— Vai, vai! - então comecei a escorregar e ele continuou: — Vai, vai Newcastle! Bridget,
continue aguardando em Lewisham.Volto a contatar você em trinta segundos!
Eu já tinha escorregado um pouco e pensei em descer tudo e depois subir pela escada Em
vez disso, tentei voltar pelo escape e de repente ouvi um grito no meu ouvido:
— Bridget! Estamos no ar. Que diabo você está fazendo? Era para descer pelo escape e
não subir. Vai, vai, vai.
Apavorada, dei um sorriso sem graça para a câmera e desci, aterrissando, como
combinado, ao lado do bombeiro que deveria entrevistar.
— Lewisham, o tempo está esgotado. Anda, anda Bridget – gritou Richard no meu ouvido.
— E agora voltamos aos nossos estúdios - informei. E acabou-se.

QUINTA FEIRA, 28 DE SETEMBRO

56,2kg, 2 unidades alcoólicas (m.b.), 11 cigarros (b.), 1,850 calorias, 0 convite para
trabalhar no Corpo de Bombeiiros ou em qualquer tevê concorrente (não é de surpreender).

11h. Caí em desgraça e virei motivo de pilhéria. Richard Finch me humilhou na frente de toda
a equipe, usando palavras do tipo "incompetente" e "grande idiota" a torto e a direito.
Mas a frase "E agora voltamos aos nossos estúdios" virou uma espécie de senha na
redação. Quando uma pessoa pergunta alguma coisa que a outra não sabe responder, ela diz:
"Ahn ... e agora voltamos aos nossos estúdios" e cai na gargalhada. É engraçado, mas depois
do que aconteceu os jovens grunges ficaram mais simpáticos comigo. (Até) Patchouli se
aproximou de mim e aconselhou:
— Olha, não liga muito para o Richard, certo? Ele gosta de mostrar poder, sabe como é?
Aquele escape foi uma coisa diferente e interessante. Mas, sabe, agora voltamos aos nossos
estúdios, tá?
Sempre que passa por mim, Richard Finch me ignora ou então balança a cabeça, incrédulo.
E não me deram nada para fazer o dia inteiro.
Ai, Deus, estou tão deprimida. Achei que tinha encontrado uma coisa que gostava de fazer,
mas está tudo acabado. Para completar ainda tem a terrível festa das bodas de rubi no sábado
e não tenho roupa. Não sirvo para nada. Nem para arrumar um homem. Nem para ter sucesso
na vida social. Nem profissionalmente. Nada.

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